SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Quando Luisa Stefani teve apendicite e precisou passar por uma cirurgia às pressas na França, sabia que ficaria fora de Roland Garros. Ausentar-se do slam do saibro também significava perder a última chance de somar pontos e entrar no top 10, o que lhe daria uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Naquele momento, estar no Japão já parecia distante demais. Subir ao pódio, então, era algo inconcebível.
O sonho olímpico ganhou seus primeiros contornos no dia 16 de julho, quando Luisa e Laura Pigossi receberam a notícia de que, após muitas desistências, elas haviam herdado uma vaga em Tóquio. Oito dias depois, as paulistas estrearam derrubando as cabeças 7, Gabriela Dabrowski e Sharon Fichman. Depois disso, bateram favoritas, salvaram oito match points e chegaram ao bronze com uma vitória milagrosa diante de Elena Vesnina e Veronika Kudermetova, atuais vice-campeãs do Torneio de Wimbledon.
Um sonho já foi. Que venham outros. E um dos próximos objetivos de Luisa é tão ousado quanto a medalha: fazer o tênis feminino crescer no Brasil. Hoje, a paulista é a número 23 do mundo no ranking de duplas, mas não há mais ninguém no top 100. Nas simples, a mais bem ranqueada do país é Bia Haddad Maia, de 25 anos.
A canhota já esteve entre as 60 melhores do mundo, mas foi suspensa por doping e hoje é apenas a 187ª do mundo. Atrás dela vêm Gabriela Cé (28 anos, 256ª), Laura Pigossi (26 anos, 326ª), Carol Meligeni (25 anos, 330ª) e Thaisa Pedretti (22 anos, 467ª). A número 6 do Brasil na modalidade é a já aposentada Teliana Pereira.
Nas duplas, Pigossi (188ª) ainda está muito longe de Luisa, o que impede que a dupla seja reproduzida no circuito mundial. Elas são as únicas a figurar entre as 200 melhores do mundo na modalidade.
“A Luisa tem um sonho, e ela tem falado muito disso. ‘Eu quero que o tênis feminino no Brasil cresça.’ Se não houvesse essas desistências, não seria possível o tênis feminino estar na Olimpíada. A gente mal tinha uma representante, e a gente tem que mudar isso. Espero que entrar nas Olimpíadas seja um divisor de águas para o nosso tênis feminino”, contou Alessandra Veras, mãe de Luisa, ao UOL Esporte pouco depois da conquista do bronze.
A tenista, que falou com a reportagem pouco depois, endossou as palavras da mãe e falou sobre a importância da medalha como ponto de partida para esse movimento.
“A maneira que essa medalha influencia é que as meninas puderam ver e sentir, talvez em televisão nacional, toda a emoção dessa conquista. Poder trazer o tênis para esse patamar de visibilidade e de orgulho nacional no Brasil… Não tem palavras. Espero que isso já seja um grande feito para motivar as meninas a acreditarem e a quererem fazer igual porque a gente começou assim. Era um sonho.”
Como impulsionar esse crescimento além da medalha? União é um dos primeiros passos, segundo a mãe da tenista.
“Eu vejo o tanto que a gente é carente aqui no Brasil dessas iniciativas e de estar junto. Nosso critério para estar junto, trabalhando com a gente, é ter essa perspectiva de [fazer] crescer o tênis e dar apoio para as crianças na base para a gente seguir junto. E que a Luisa seja o coelhinho puxando essa galera que tem que vir aí. Vamos buscar!”.
Luisa reforçou dois conceitos que foram base para a conquista da dupla em Tóquio: acreditar e trabalhar. E ela acredita que a medalha será o elemento que vai mostrar para as próximas gerações o que é possível quando existe esforço e metas bem definidas.
“Espero que isso ajude o tênis brasileiro, principalmente o feminino. O tênis estava precisando dessa medalha. É mais um passo à frente para continuar essa história, mostrar que a gente está no caminho certo. É sempre bom ter um símbolo até de que a gente atingiu algo grande para continuar motivando todo mundo a trabalhar duro.”