TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – O sonho da medalha olímpica fez Rafael Buzacarini deixar de ser Bolo Cru, o apelido que recebeu ao chegar a São Caetano do Sul, em 2010. Loiro, branco e pesando quase 120 quilos, ele parecia, segundo os amigos, uma massa antes de ir ao forno.
“Eu estou na melhor forma e na melhor fase da minha vida. Estou sacrificando tudo por essa medalha. É tudo para mim”, afirma o judoca, que luta na categoria até 100 kg.
Entre a noite desta terça-feira (27) e o início da madrugada de quarta (28), no horário de Brasília, ele estreia nas Olimpíadas de Tóquio contra o belga Toma Nikiforov. A programação do judô começa às 23h (de Brasília) de terça, e a luta do brasileiro é a 11ª da lista.
O pensamento de Buzacarini é que deve haver uma explicação, mesmo que não seja racional, para sua trajetória e o destino vai levá-lo ao pódio. Ele praticou várias lutas quando era criança. Fez capoeira, jiu-jítsu e caratê. Poderia ter seguido em qualquer desses esportes.
“Não sei explicar a minha escolha. Algo me empurrou para o judô. Acho que tinha de ser”, completa.
Mas o fatalismo não bastaria para levá-lo a Tóquio, ele sabe. Foi sua mãe Irani quem percebeu que os torneios na região de Barra Bonita (interior de São Paulo) eram muito pouco para o filho. Se ele quisesse ser alguém na modalidade, teria de ir para a capital. Ela quase o empurrou para ir fazer o teste em São Caetano, onde depois receberia o apelido de Bolo Cru.
No dia da peneira, Buzacarini sofreu uma lesão no joelho e teve de operá-lo. Entrar na nova equipe se tornou algo fora de cogitação. Outras contusões que o assustaram já haviam ocorrido, como cair de cabeça e desmaiar. A cirurgia no joelho aos 18 anos foi a pior. Quando se recuperou, tentou de novo e entrou no time da Prefeitura de São Caetano.
Tóquio não é a primeira experiência olímpica do judoca. Aos 24 anos, ele também se classificou para os Jogos do Rio, em 2016. Ganhou na primeira fase do uruguaio Pablo Aprahamian antes de perder para o japonês Ryunosuke Haga, que era o campeão mundial e seria medalhista de bronze.
“Eu tinha 24 anos, era um garoto, e hoje vejo o que poderia ter feito de maneira diferente. Estou mais maduro, e essa experiência de já ter participado dos Jogos pode fazer a diferença. Sou outro judoca, tanto no físico quanto na habilidade e na mentalidade. Evoluí bastante nos últimos cinco anos”, assegura, lembrando que sua categoria é muito mais equilibrada atualmente do que foi em 2016. Isso significa que o número de atletas que podem ganhar medalhas é maior.
Atleta do Clube Paineiras do Morumby, em São Paulo, Buzacarini ligou para a mãe assim que recebeu a confirmação de sua convocação. Disse apenas que o sonho deles estava se tornando realidade.
“Foi mais alívio, porque há muitos judocas bons que ficam pelo caminho e não vão aos Jogos. A peneira é muito grande. Por isso que, embora já imaginasse que viajaria, só fiquei calmo quando saiu a lista e vi meu nome nela.”
Ele nega já ter pensado em como será a competição no Nippon Budokan. É um dos erros que cometeu em 2016 e não quer repetir: pensar demais nos possíveis adversários quando o mais importante é seu próprio treino.
Buzacarini tem uma cartilha que quer seguir. Tudo será diferente, até alguns aspectos que gostaria ver iguais aos observados nos Jogos do Rio. Como a Vila Olímpica, por exemplo. Por causa das restrições causadas pela pandemia da Covid-19, ela tem um rodízio maior de atletas. Depois da competição, eles devem ir embora logo.
Se todas as mudanças significarem também resultado diferente no tatame, não será ele a se queixar.
“Eu estou pronto para a medalha. Não importa a cor. Você trabalha a vida toda por isso”, lembra ele, que começou aos quatro anos e tem 25 no judô.
RECUPERADA DE LESÃO, MAYRA AGUIAR TENTA TERCEIRA MEDALHA E RECORDE
Buzacarini não se importa com a cor da medalha, mas Mayra Aguiar gostaria de dar um passo à frente em relação aos Jogos anteriores. Recuperada de cirurgia no joelho e de volta ao esporte após ficar 16 meses sem lutar, ela vai tentar sua primeira final olímpica.
Na madrugada desta quarta, a judoca entra direto nas oitavas de final na categoria até 78 kg. Isso significa que sua caminhada até a medalha de ouro teria quatro lutas e não cinco, como ocorre normalmente. Ela pulou a necessidade de disputar a primeira fase por causa de sua colocação no ranking. A adversária ainda não está definida.
Será a quarta edição olímpica da sua carreira. Bronze em Londres-2012 e Rio-2016, Mayra pode se tornar agora a maior medalhista da história do judô brasileiro. Seria mais do que poderia esperar no ano passado, quando lesão no joelho colocou em dúvida sua participação em Tóquio. Para poder treinar, ela teve de deixar Porto Alegre para ir ao Rio de Janeiro, ficar concentrada no complexo Maria Lenk e fugir das restrições causadas pela pandemia da Covid-19.