TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – A expectativa de que a entrada do skate traria um clima novo para os Jogos Olímpicos foi confirmada neste domingo (25), dia da primeira disputa do esporte na história dos Jogos e que para o Brasil foi marcado pela medalha de prata de Kelvin Hoefler.
Ao fim da disputa, sem muita atenção aos protocolos, muitos abraços entre os competidores, principalmente o japonês Yuto Horigome e Nyjah Huston, considerados favoritos antes da competição e que foram os mais procurados pelos fotógrafos.
Horigome, medalhista de ouro, confirmou seu status, enquanto Huston, astro do esporte nos EUA, errou quatro tentativas de manobras e acabou longe do pódio.
Ao mesmo tempo, Kelvin curtia o momento praticamente sozinho, após ter sido abraçado por Pâmela Rosa, pessoa de quem é mais próximo entre os companheiros de delegação e que o ajudou com conselhos e motivação ao longo da disputa. “Ela sabe da técnica do skate. Sem ela ali, junto comigo, eu não teria essa medalha”, disse.
Nesta segunda (26), os papéis se inverterão, já que será a vez do street feminino, com Pâmela na disputa ao lado de Rayssa Leal e Leticia Bufoni.
Além do clima mais leve entre os concorrentes do que costuma ocorrer em outros esportes, chamaram a atenção alguns detalhes peculiares dos skatistas, por exemplo o fato de alguns competirem com fone de ouvido e mexerem no celular entre as suas apresentações.
Kelvin contou que no seu fone não toca nenhuma música, é apenas uma forma de evitar distrações e conversas indesejadas. Na maior parte do tempo, ele falava com sua esposa, a fotógrafa Ana Paula Negrão, que conheceu por causa do skate. “A gente já chorou junto. Durante a competição, falei com ela o tempo todo. Ela é a minha técnica, meu braço direito, esquerdo, perna, tudo. Ela que me ajuda sempre.”
Pâmela e Ana Paula foram fundamentais no momento mais tenso da disputa, após o atleta ter caído em duas tentativas de manobra seguidas. “Eu falei que estava muito vento, e elas falaram: ‘Troca, manda outra manobra. Manda essa aqui, passa a vela em tal lugar’ [para deslizar]”, relatou. “As minas são foda, elas sabem o que está acontecendo.”
Ele também se sentiu motivado pelas mensagens que recebia nas redes sociais, inclusive de pessoas que nem conhecia e com quem havia jogado Free Fire online na noite anterior.
“Eu senti essa energia durante a competição. Estava ali no telefone, vinha uma mensagem. Eu precisava disso porque não tem público. Fiquei vendo o Instagram, as mensagens positivas, sentindo um pouco disso”, contou. “Muita gente com quem eu jogo [online] aleatoriamente estava mandando mensagem dizendo: ‘Eu joguei com você ontem. Você matou tal pessoa do jogo e a gente está torcendo por você’.”
Ele afirma não gostar de publicar nas redes sociais e tem a ajuda da esposa para essas tarefas. Diante de tantas felicitações, porém, não largou o telefone nem durante a entrevista coletiva, quando atendeu à ligação do agente de Pâmela, Hamilton Freitas.
Kelvin é um dos mais experientes da delegação brasileira de skate e já competiu muito na carreira, mas a entrada do esporte nos Jogos trouxe uma sensação inédita, de representar o país. Olhando fixamente para a medalha e mexendo nela como quem acabou de ganhar um presente desejado, ele descreveu o que o objeto representa para si e para o esporte.
“A gente vem batalhando. É bem difícil a modalidade no Brasil, então eu cresci tendo muitas dificuldades. Acredito que ainda é pouco pelo que a gente vem trabalhando. Isso aqui não é só meu, é de todos os skatistas do Brasil, de toda a galera que vem torcendo pela gente”, afirmou.
Como quem percebe que acaba de mudar seu patamar na história do esporte –“não aguento mais dar entrevista”, relatou após uma maratona delas no parque de esportes urbanos de Ariake–, ele conclui: “Vou ser inspiração para muita gente e já me inspirei em muita gente. A melhor forma de você ser um skatista profissional é sendo inspirado por outro. Vai ser muito louco isso”.