O sucesso do ciclo olímpico até os Jogos de Paris-2024 passa necessariamente pelas Eliminatórias das Américas e, posteriormente, pelo desempenho no Mundial. A seleção brasileira masculina de basquete precisa se garantir no torneio que será disputado em três sedes (Filipinas, Japão e Indonésia) no ano que vem para ter chance de voltar à Olimpíada após ficar fora de Tóquio. E Gustavo de Conti, técnico escolhido para comandar o Brasil, sabe o tamanho da responsabilidade.
Antes de enfrentar Uruguai (nesta sexta-feira, às 19h10) e Colômbia (segunda, às 20h), na segunda janela das Eliminatórias, o treinador concedeu entrevista para a AE. As partidas acontecem em Franca, no icônico ginásio Pedrocão, e Gustavinho não escondeu sua ansiedade para comandar o Brasil pela primeira vez no País. A estreia aconteceu em novembro do ano passado, na Argentina, quando venceu duas vezes o Chile. Três seleções das quatro do Grupo B avançam à segunda fase.
Ansioso para sua primeira vez como técnico da seleção no Brasil?
Ansioso e feliz pela oportunidade de estar na seleção. Há muito tempo que o Brasil também não joga aqui em Franca (década de 1980), na capital do basquete, uma cidade que respira o esporte, que tem tradição de revelar grandes jogadores que defenderam o Brasil. Estou bastante otimista também pelo que estou vendo nos treinos, dos jogadores, da disposição deles e da qualidade que eles têm.
Como imagina que será atuar em Franca agora com os torcedores do seu lado?
É um ginásio histórico. Eu sempre recebo muito carinho quando venho aqui, independentemente do time que estou, seja Flamengo ou Paulistano. Na hora do jogo, claro, tem aquela rivalidade. A torcida incentivando o time da casa, mas, no final, o pessoal sempre quer tirar foto. O carinho desta vez não será apenas fora da quadra, será durante o jogo porque é seleção brasileira. Será uma sensação muito boa.
A ausência de jogadores faz parte do trabalho, como lidar com isso?
Infelizmente é uma constante na seleção, não apenas no Brasil. O Uruguai, por exemplo, que será o nosso adversário teve mudanças na lista. Tivemos problemas de lesão, covid… Não temos tantos talentos assim, mas temos grandes jogadores com capacidade de repor esses que ficaram de fora desta vez. A gente sempre quer contar com força máxima, mas nem sempre é possível.
A primeira janela foi sua estreia. Agora, na segunda janela, já foi possível perceber alguma mudança no comportamento dos jogadores?
É possível verificar mudanças sim. Quando eles voltam para os clubes estão mais habituados com o jogo internacional, que é bem diferente do que temos no Brasil. Você vê aqui jogadores que abrem mão do volume ofensivo que estão acostumados no clube. Eles abrem mão disso em prol do grupo. A gente sempre percebe uma mudança de comportamento e tudo vai ficando mais fácil porque eles te conhecem melhor, se acostumam com o sistema de treino, de jogo, como funciona o trabalho da comissão. A cada janela fica mais fácil.
Como vê Uruguai e Colômbia, os rivais do Brasil nesta janela?
O Uruguai tem um time mais técnico, com jogadores bons no perímetro. É um time bastante jovem, com muito talento, com capacidade para pontuar nas bolas de três e, ao mesmo tempo, bastante agressivos nas infiltrações. Dispõe de jogadores grandes na posição 4, com bom aproveitamento nos arremessos de fora, mas sofrem um pouco com os pivôs, principalmente pelas ausências do Wachsmann e Calfani, mas tem o Esteban Batista, que já passou pela NBA, jogou na Europa, sempre em altíssimo nível. A Colômbia é um jogo mais físico, um jogo pautado em transição e rebote de ataque.
Qual o peso de ter obrigação de ir ao Mundial para ter chance de estar em Paris-2024?
O Brasil e os Estados Unidos são os únicos que nunca ficaram fora de um Mundial. A pressão é grande, sabemos da nossa responsabilidade. Estamos prontos para levar o Brasil para mais um Mundial. A cada ano o basquete, principalmente o masculino, fica mais competitivo, mais forte, o nível fica mais elevado. A cada ano fica mais difícil, mas também estamos nos estruturando melhor. Temos total capacidade de levar o Brasil ao Mundial, mas não podemos pensar lá na frente. O próximo passo é o Uruguai e temos de pensar neste jogo. Queremos uma vitória contra o Uruguai para ter, teoricamente, mais vantagem lá na frente, na outra fase, porque carregamos o resultado.
O momento financeiro ainda complicado da CBB interfere de alguma maneira no seu trabalho?
Não afeta diretamente o aspecto técnico. A gente tem ótimas condições para treino, de hotel, transporte e alimentação, que é o que interessa neste momento. Ninguém está na seleção para ganhar dinheiro. A gente está aqui porque amamos o Brasil e queremos ajudar o basquete brasileiro.
O feminino, recentemente, não conseguiu se classificar. A Fiba erra ao colocar apenas 12 seleções no feminino e 32 no masculino?
Realmente tem uma disparidade. Não sou um especialista no basquete feminino, mas tenho certeza que existem mais do que doze seleções que merecem participar de um Mundial. Assim como existe mais do que doze, tanto no masculino quanto no feminino, que merecem estar nos Jogos Olímpicos. Se dependesse de mim, teríamos mais equipes. O nível não iria cair por esse motivo. O Brasil, infelizmente, ficou fora por essa questão. Para mim deveria ser igual. Se temos 32 seleções no masculino, temos de ter 32 no feminino.
Sei que neste momento você é técnico da seleção, mas, se me permitir, queria te perguntar qual o peso da conquista do título mundial do Flamengo, sua equipe, para o basquete brasileiro?
Considero uma conquista muito importante porque valoriza os treinadores, os jogadores, a organização como um todo. Ganhamos de equipes fortes, campeãs continentais. As atenções se voltaram para o basquete brasileiro. Vi repercussões positivas de agentes, diretores, clubes… Tanto da Europa quanto da NBA. Pessoas perguntado sobre os jogadores e sobre o trabalho de treinadores. E tudo isso por causa de uma conquista de um grande clube do Brasil, que é o Flamengo. Estou muito feliz com isso. Feliz pelo Flamengo, porque é uma retribuição por todo o investimento que é feito na gente. Feliz pela torcida do Flamengo e pela repercussão positiva para o basquete brasileiro.