“A Portuguesa estava no leito da UTI. Agora está no quarto, se recuperando”. A metáfora é do presidente Antônio Carlos Castanheira. Ele a usa para dar a dimensão do processo de reestruturação pelo qual passa a Portuguesa. O projeto de remodelar o clube tem sido bem-sucedido, na sua avaliação, e pavimentou o caminho para a tradicional equipe da capital se aproximar da elite do futebol paulista.
Neste sábado, como venceu o primeiro duelo por 1 a 0, a Portuguesa precisa de um empate contra o Rio Claro para voltar à Série A1 do Paulistão e disputar a final da segunda divisão estadual. “É uma angústia, uma ansiedade e uma responsabilidade grande. A Portuguesa nunca passou na história dela tanto tempo na segunda divisão”, diz Castanheira. O período é, de fato, o mais longo do clube fora da elite do Paulista. São sete anos jogando a divisão de acesso.
A Lusa decide em sua casa, o Canindé, a vaga à final depois de jogar fora o primeiro duelo porque somou mais pontos na primeira e segunda fases do torneio. Se avançar à final, vai decidir o título contra o ganhador de São Bento e Oeste, que também jogam neste sábado, mas às 19 horas, na Arena Barueri – o primeiro jogo terminou empatado por 2 a 2.
“Não dá pra afrouxar a corda de jeito nenhum. O futebol permite tudo”. É o poder de convencimento do técnico Sérgio Soares, diz o cauteloso treinador. “Estamos preparados para o mata-mata com os pés no chão e a humildade de saber que temos que correr”.
“O acesso é uma obsessão nossa”, resume Toninho Cecílio, que aceitou no fim do ano passado a proposta para interromper a carreira de uma década como treinador e assumir o cargo de executivo de futebol da Portuguesa. Seu último trabalho como diretor havia sido no Palmeiras, entre 2007 e 2010. “É um projeto redondo, que está funcionando da maneira que foi planejado”, considera o executivo..
Presidente, diretor e técnico avaliam que a montagem “cirúrgica” do elenco, com atletas experientes, o planejamento pensado especificamente para a Série A2, o ajuste das finanças, sem salários atrasados e com acordos sendo honrados, e o bom ambiente foram essenciais para a campanha consistente que deixou a Portuguesa a um empate de regressar à elite paulista. O time perdeu apenas uma vez em 18 partidas e liderou a primeira fase.
“O time foi pensado para ter sucesso, tem jogadores que entregam muita intensidade. Os que chegaram tiveram uma conversa muito franca conosco”, explica Toninho Cecílio. “A experiência dos atletas faz diferença num momento com este, mas muitos foram contratados justamente por isso”, endossa o técnico Sérgio Soares.
Cecílio colocou nos contratos dos atletas gatilhos que premiam o jogador financeiramente em caso de metas alcançadas. “O contrato dá mais para quem entrega mais. Tem jogador que, se o time subir, já garante a renovação automática. Eles se sentem motivados”.
Um dos times mais tradicionais de São Paulo, a Lusa foi vice-campeã brasileira em 1996, tem três títulos estaduais e ganhou a Série B em 2011. A tradicional equipe paulistana foi berço de talentos como Djalma Santos, Roberto Dinamite, Dener, Leivinha e Zé Roberto.
“Eu espero que neste ano, que é o primeiro ano ‘limpo’, sem efeitos da pandemia, com os acordos feitos, a gente possa fortalecer mais o caixa da Portuguesa”, deseja o presidente. “Quero que a Portuguesa jogue ano que vem a A1 com muita força para nunca mais sair da elite. Esse é nosso lugar. Sempre rivalizamos com os grandes”, lembra.
A HISTÓRIA COMO MOTIVAÇÃO
Todos os atletas que compõem o elenco da Portuguesa visitaram o museu do clube e a sala de troféus assim que foram contratados. Foi uma medida que a diretoria encontrou de passar aos jogadores a importância da equipe para o futebol nacional.
“A grandeza da Portuguesa está na nossa memória. O torcedor da Portuguesa e nós todos temos que entender que fases ruins não são exclusividade da Portuguesa”, avisa Cecílio. “Não podemos nos envergonhar. Temos de enfrentar o problema para voltarmos à elite”.
Cerca de 70% da receita do clube foi destinada para a montagem do elenco, que deve ser bastante modificado ao final da competição estadual porque o time não tem divisão nacional em 2022 – jogará, no segundo semestre, a Copa Paulista. Estima-se que a folha salarial da Portuguesa seja a quarta maior da Série A2. Um dos destaques do grupo é o atacante Luan, ex-Palmeiras. Ele é o goleador da equipe no torneio, com quatro gols.
RECONSTRUÇÃO
No cargo desde 2020, o presidente Antônio Carlos Castanheira gosta de usar o termo “reconstrução”. “A palavra é essa”, opina. O trabalho, ele diz, está sendo bem feito. Embora a dívida ainda seja alta – R$ 480 milhões – os acordos estão sendo cumpridos, o Canindé não corre mais risco de ser leiloado e a renda não será mais penhorada. “A Portuguesa não pode passar pelo que passou. Você ver um fiscal bloquear a renda é humilhante”, afirma Castanheira.
O mandatário entende que a reorganização financeira permitiu que a Portuguesa brigasse para subir em todos os campeonatos. Ainda que o clube tenha deixado de arrecadar R$ 9 milhões durante a pandemia, as finanças estão em dia, ele conta. Os próximos planos de Castanheira são viabilizar a transformação da Portuguesa em clube-empresa e do Canindé em uma arena multiuso, moderna, capaz de receber shows e outros eventos.
“Os acordos me dão segurança jurídica e pavimentam a vinda de investidores para que façamos uma SAF diferente, com um fundo aberto, um CEO, um conselho administrativo profissional, um conselho de orientação fiscal profissional. Os outros departamentos já estão profissionalizados”, explica Castanheira.