CHIBA, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Último campeão mundial de surfe, em 2019, Italo Ferreira comemorou muito a conquista inédita, mas sempre deixou claro que não pretendia parar ali. Em 2020, o potiguar já queria o bicampeonato da WSL (World Surf League) e se planejava para perseguir a medalha olímpica na estreia do esporte nos Jogos.
A pandemia da Covid-19 adiou os dois planos em um ano, mas não freou suas ambições. Finalmente em Tóquio-2020 para inaugurar a história do surfe nas Olimpíadas, ele saiu do mar de Tsurigasaki (Japão) nesta terça (27) com o direito de colocar no peito a medalha de ouro.
O primeiro campeão olímpico do surfe é também o primeiro medalhista de ouro do Brasil em Tóquio. Até agora são cinco medalhas, com duas de prata (Kelvin Hoefler e Rayssa Leal no skate) e duas de bronze (Daniel Cargnin no judô e Fernando Scheffer na natação).
Na decisão, em que viu sua prancha quebrar na primeira manobra, Italo se recuperou e derrotou com ampla superioridade (15.14 a 6.60) o japonês Kanoa Igarashi, algoz de Gabriel Medina nas semifinais e que evitou um confronto nacional na decisão. Medina perdeu o bronze contra Owen Wright.
“Competir por tudo é um pouco de ambição também, um desejo que é muito grande e por isso que eu não parei até hoje. Quando eu chegar lá, no fim das competições, vou ver o quanto me dediquei e fazer valer a pena todo o esforço”, Italo afirmou à Folha de S. Paulo em outubro do ano passado, com o circuito mundial paralisado pelo coronavírus.
Após seis etapas da WSL em 2021, ele é o segundo colocado do ranking, atrás apenas de Medina, que lidera disparado. Neste ano, o campeão será definido após um “mata-mata” com os cinco melhores depois de oito etapas.
Competindo em quatro eventos consecutivos na Austrália e um nos EUA, ele passou cerca de quatro meses longe de sua casa, em Baía Formosa (RN). Portanto, antes de embarcar ao Japão, fincou os pés na cidade para recuperar as energias e passar tempo com a família e amigos. Também queria poder surfar o dia inteiro sem pressão, conforme contou às vésperas da viagem.
As condições do mar em Baía Formosa costumam ser parecidas com as que esperava encontrar em Tsurigasaki, e ele tentaria tirar a vantagem que pudesse desse fator para realizar o que na sua cabeça já se desenhava.
“Penso muito na Olimpíada, imagino como pode ser se eu conseguir alcançar o que eu quero. Fico sonhando, mas vivo muito no presente. Tem ansiedade, mas tem tranquilidade também, muita confiança. Poxa, acho que estou preparado”, disse na mesma ocasião.
Preocupação dos surfistas, as ondas na praia localizada a cerca de 100 km de Tóquio, na cidade de Ichinomiya, província de Chiba, contrariaram as expectativas iniciais e estiveram grandes, principalmente nesta terça. Os competidores também conseguiram altas notas em aéreos, e os temores de que a competição pudesse ter baixo nível técnico não se justificaram.
O dia começou com tempo fechado, chuva e vento forte no local, mas o sol abriu a partir do fim da manhã. A previsão de que uma tempestade tropical atrapalharia o andamento das competições fez com que as finais, que ocorreriam na quarta (28), acabassem antecipadas em um dia.
Quando Italo saiu da água como campeão olímpico, foi carregado e festejado pelos poucos membros da delegação brasileira, em imagem bem diferente daquela usual nas comemorações de títulos de surfe. Seus gritos de comemoração podiam ser ouvidos de longe por causa da ausência de público.
Nesse momento, o céu em Tsurigasaki estava novamente tomado por nuvens carregadas, mas ainda com um resto de sol e um arco-íris que se formou. Diante desse cenário, o hino brasileiro foi executado pela primeira vez em Tóquio, e Italo deu um mortal para comemorar na saída do pódio.