Enquanto o futebol brasileiro vai cada vez mais atrás de técnicos estrangeiros estudiosos, a editora Grande Área traz ao Brasil o livro Entre Linhas – de Ajax a Zidane, a construção do futebol moderno nos gramados da Europa mostrando as mudanças táticas que o futebol europeu passou nos últimos 30 anos. Da Holanda do início da década de 1990 até a Inglaterra, com a liga mais importante do mundo atualmente.
A obra de 440 páginas, originalmente intitulada Zonal Marking, é do jornalista inglês Michael Cox, referência na análise tática, e tem prefácio do comentarista Rafael Oliveira. Cox descreve e explica as principais mudanças táticas dos times e seleções europeias, com uma leitura simples e de fácil compreensão.
Ele aborda as diferentes tendências estabelecidas nesse período: a maior intensidade do jogo, a preocupação com a posse de bola e seu uso, as diferentes ocupações de espaço, a chegada ao ataque com muitos ou poucos passes, a utilização do falso 9, a pressão pós-perda da bola, dentre outras.
A obra é um estudo aprofundado que busca ajudar a entender o jogo e suscita reflexões também para exemplificar que para cada golpe surge um contragolpe. Apresenta a alternância de padrões táticos que influenciam o jogo, incluindo reinvenções ou readaptações de estratégias antigas.
A história do livro parte de 1992, ano em que ocorreram mudanças importantes no futebol do continente. A Inglaterra criou a Premier League, quando clubes formaram uma liga para organizar o Campeonato Inglês, e a Uefa promoveu a reformulação da Copa dos Campeões da Europa – hoje Liga dos Campeões.
Além disso, neste ano, houve a mudança da regra do recuo para o goleiro, um dos pontos de partida do livro. A qualidade do holandês Edwin van der Sar com os pés já no início dos anos 1990 chamava atenção quando seus colegas goleiros tinham pouca intimidade com a bola. Citando em especial o alemão Manuel Neuer, Cox destaca a importância dessa característica para os goleiros de hoje.
“‘Um dos primeiros a nos apresentar uma nova perspectiva foi Edwin van der Sar. Ele jogava muito com os pés e fez a posição evoluir para uma nova fase’, disse o goleiro campeão do mundo pela Alemanha, Manuel Neuer”.
O livro pincela alguns trechos sobre personagens brasileiros. Cita a influência do técnico Otto Glória no futebol português e também discute o trabalho de Luiz Felipe Scolari no comando das seleções brasileira e lusa. “No comando da seleção canarinho, ele declarou que os dias do futebol-arte haviam chegado ao fim; gostava de disciplina, encorajava seus times a cometerem faltas táticas e utilizava muitos jogadores de mentalidade defensiva em suas equipes”.
Já na análise sobre o domínio espanhol dos anos 2010, com a seleção e o Barcelona, o livro também expõe o impacto da vitória do time catalão sobre o Santos na final do Mundial de Clubes da Fifa de 2011, com goleada por 4 a 0. “O Barcelona jogou efetivamente em um 3-7-0, e o Santos simplesmente não conseguiu lidar com o rival. ‘Eles inventaram uma nova formação’, surpreendeu-se o técnico brasileiro Muricy Ramalho”.