TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Eduardo Katsuhiro Barbosa, 29, é o judoca da casa na equipe brasileira de judô em Tóquio. Fluente em japonês, ele viveu no país entre os 3 e os 17 anos. Morou quase todo esse tempo em Hamamatsu, onde residem cerca de 12 mil brasileiros.
Ser o intérprete dos companheiros nas Olimpíadas não será novidade, já que lhe coube essa tarefa em outras competições. Katsuhiro disputa a categoria até 73 kg neste domingo (25) à noite, por volta das 23h (de Brasília). Seu primeiro adversário será o francês Guillaume Chaine.
“Meu pai era professor de judô e se mudou para o Japão para trabalhar numa fábrica. Com o tempo, começou a dar aulas da arte marcial em Hamamatsu e deixou o trabalho”, explica.
Ele não é o único atleta olímpico da família. Sua irmã Danielli Yuri Barbosa competiu nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. Perdeu na primeira rodada para a coreana Kong Ja-Young. Mas foi sentado na arquibancada chinesa, torcendo por Danielli, que Eduardo decidiu se dedicar integralmente ao esporte e voltar ao Brasil. Seu outro irmão Silvio e a mãe Dirce também são judocas.
Foi uma caminhada que levou quase 13 anos. Período em que várias vezes desistiu de saídas noturnas, de comer o que estava com vontade, de acordar cedo quando desejava dormir até tarde. Mais de uma década de abrir mão da vida normal, como a dos seus amigos sem sonhos olímpicos.
“Os Jogos são o topo da montanha. São o motivo de todo o trabalho, de tudo o que abdiquei até hoje, de não ter uma vida social. Eu dediquei toda a minha vida para chegar neste momento. Você não tem uma rotina normal. É o momento de alegria suprema. São poucos que conseguem. Muita gente boa fica pelo caminho”, explica o atleta, que defende o Clube Paineiras do Morumby.
Por saber que outros atletas não obtiveram a vaga para Tóquio, ele teve sentimentos conflitantes quando percebeu estar entre os convocados da seleção brasileira. Após perder para o georgiano Lasha Shavdatuashvili no Mundial de Budapeste, neste ano, o brasileiro somou pontos, fez cálculos e imaginou ter ranking suficiente para ir às Olimpíadas pela primeira vez.
“O sistema de classificação é complicado. Mas eu fiz algumas contas, comparações e concluí que a vaga era minha. Não fiz festa, guardei para mim porque estava com outros judocas e nem todos conseguiram e vaga. Não quis comemorar na frente deles. Tinha de respeitar. Não demonstrei emoção por respeito aos outros. Mas não foi fácil”, constata.
A comemoração ficou para o dia em que ouviu, pela transmissão na internet, a convocação oficial da Confederação Brasileira de Judô. Quando seu nome foi divulgado, Eduardo, que dirigia em direção ao treino, começou a buzinar e gritar dentro do carro. As mensagens pipocavam no seu celular.
“Ele estava comprometido desde o início desse processo, que é longo, desgastante. Você tem de ser muito focado e resiliente para passar por ele”, analisa seu técnico, Alexandre Lee, ele próprio também judoca olímpico. Participou dos Jogos de Atenas, em 2004.
Ao chegar no Japão, local que já conhecia tanto e, por isso, respondia a perguntas de colegas sobre como seria passar quase um mês no país, Eduardo percebeu que esta viagem era diferente de todas as outras. Que o ciclo olímpico dos últimos cinco anos pode acabar em uma luta de quatro minutos. Ele tem de aproveitar cada segundo.
“É bom ter me classificado. Foi uma alegria imensa e um momento que nunca vou me esquecer na vida. Mas não é o bastante. Não estou em Tóquio a passeio. Vim para disputar uma medalha”, ressalta o judoca.
Sem público, ele não terá a torcida no Nippon Budokan dos seus antigos professores japoneses e dos amigos de Hammamatsu. A bolha criada para os atletas evitou contaminações porque funcionários do hotel onde estava a delegação testaram positivo para Covid-19.
Eduardo tinha planos de encontrar todos os conhecidos que não via há anos. A torcida terá de ser pela televisão, assim como vai acontecer com sua família no Brasil.