SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Para chegar até as Olimpíadas e fazer história como a primeira medalha brasileira em Tóquio-2020, Kelvin Hoefler, prata no skate street na madrugada deste doingo (25), e o skate precisaram, antes de tudo, vencer o preconceito e até as proibições ao esporte.
Uma delas, em especial, se passou na cidade de São Paulo no fim da década de 1980. A capital paulista chegou a ter uma legislação municipal e orientações do prefeito que impediam os skatistas de circularem, primeiro, no parque do Ibirapuera e, depois, em toda a cidade.
Começou com o decreto municipal de número 25.871, de 6 de maio de 1988. Era uma resposta de Jânio Quadros, então prefeito de São Paulo, a um protesto de skatistas que contestavam justamente a limitação do skate aos fins de semana nos espaços do Ibirapuera.
À época, o parque abrigava a sede da Prefeitura e, ao mesmo tempo, vinha se tornando o ponto de encontro dos praticantes do esporte, que se divertiam no piso liso da marquise.
A comunidade do skate não aceitou a imposição e se manifestou novamente. O grupo queria o fim da proibição e reivindicava mais espaços para a prática. Um texto da época conta que já existiam pistas em cidades vizinhas, como em São Bernardo do Campo.
Em 24 de junho de 1988, a Folha noticiava: “Cerca de 200 jovens participaram ontem de uma ‘passeata sobre skate’ desde a estação Paraíso do metrô até o gabinete de Jânio Quadros, no Ibirapuera, em protesto contra a decisão do prefeito, tomada em maio, de proibir a prática do skate no parque”.
Jânio contra-atacou, proibindo no dia seguinte o skate em toda a metrópole. Quem desrespeitasse seria detido e, com muitos praticantes abaixo dos 18 anos, até levado para o Juizado de Menores.
“Meninos brincando com skates, ricos em sua maioria, fizeram ontem, segundo os jornais, uma passeata pelas ruas da cidade. Ao Ibirapuera não chegaram, porque tomariam a lição que o pai não lhes deu”, esbravejou o prefeito na ocasião, também em registro na Folha, agora de 25 de junho de 1988.
A “pirraça” de Jânio, como classificou Paulo Lima, um dos manifestantes, conhecido como fundador da revista Trip, durou cerca de seis meses. Eleita como a nova prefeita, Luiza Erundina revogou o decreto na primeira semana de 1989 e ainda contribuiu para a popularização do esporte com a construção de pistas de skate. A política ficou acordada até tarde para acompanhar a disputa no Japão e, na madrugada de domingo, comemorou nas redes sociais, parabenizando Kelvin Hoefler.