Atual campeão da Copa Libertadores, o Palmeiras estreia no Mundial de Clubes confiante em alcançar um resultado melhor do que o registrado há um ano, quando amargou a pior campanha de um time sul-americano na competição ao perder dois jogos e terminar na quarta colocação. O time revê nesta terça-feira, às 13h30 (de Brasília), o Al Ahly, que surpreendeu ao superar desfalques importantes e eliminar o Monterrey, do México. No ano passado, os egípcios levaram a melhor diante do time alviverde nos pênaltis. Trata-se, portanto, de uma possibilidade de revanche para a equipe brasileira no acanhado, mas confortável Al Nahyan, estádio que terá cerca de 10 mil presentes.
É fácil entender porque dirigentes, comissão técnica e jogadores chegaram a Abu Dabi confiantes de que é possível brigar pelo título neste ano. Os atletas tiveram tempo para descansar e se preparar para o torneio, algo que não puderam fazer no ano passado.
Antes da edição anterior do Mundial, o Palmeiras venceu o Santos no dia 30 de janeiro, no Maracanã, pela final da Libertadores, e viajou ao Catar no dia 2 de fevereiro. A equipe de Abel Ferreira teve somente três dias de treinamento até o confronto contra o Tigres, pela semifinal. Os atletas, depois, relataram dores, problemas na adaptação ao fuso e cansaço mental. Foram somente oito jogos entre a decisão continental e a estreia no Mundial.
“Era muito importante o restabelecimento físico e mental dos jogadores, ainda mais considerando que as últimas temporadas foram emendadas”, salienta Daniel Gonçalves, coordenador científico do Núcleo de Saúde e Performance do clube.
“No ano passado, o período de oito dias entre a final da Libertadores e o primeiro jogo do Mundial impossibilitou uma aclimatação adequada e consequentemente isso acabou fazendo com que o planejamento não fosse ideal”, acrescenta o profissional.
Em 2021, o Palmeiras perdeu para o Tigres por 1 a 0 e depois foi superado pelo Al Ahly na disputa por pênaltis. Um representante sul-americano nunca havia encerrado o Mundial sem ao menos uma vitória. Internacional (2010), Atlético-MG (2013), Nacional, da Colômbia, (2016) e River Plate, da Argentina, (2018) foram as outras equipes derrotadas nas semifinais, mas que ao menos garantiram o terceiro lugar.
Desta vez, com um mês de descanso após a Libertadores para o elenco e Abel Ferreira e mais um mês reservado para treinos e jogos antes do Mundial, há o entendimento no Palmeiras de que a chance de título sobe consideravelmente. “Chegamos melhor preparados que no ano passado, mais experientes, mas vamos enfrentar os melhores do mundo”, diz o técnico Abel Ferreira. O português afirma ter preparado o seu elenco com “o pé fundo”, isto é, no limite.
“Está todo mundo focado, querendo mesmo. Todos estão sabendo dos objetivos da temporada e que já nesse mês temos pela frente um dos nossos sonhos”, reforça o zagueiro Luan.
Também existe o consenso de que o elenco está mais maduro após ser forjado por meio de uma sequência de insucessos e glórias em 2021. O próprio fracasso no Mundial no Catar, além das derrotas na final do Paulistão, Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana, são vistos com importância pelo grupo para que não se repitam as falhas em Abu Dabi.
“Nossa equipe está mais experiente, tivemos em sete, oito finais. Ganhamos umas, perdemos outras e aprendemos”, enfatiza Abel. “Estamos juntos há um ano e alguns meses. Já estivemos em várias decisões. Ganhamos, perdemos, mas o certo é que essa equipe está mais habituada a disputar finais”.
“Cometemos na última edição alguns erros que vão nos deixar mais maduros para 2022. A maturidade do nosso time vai nos ajudar muito”, avalia Raphael Veiga, o craque da equipe na conquista da Libertadores.
O time atual possui um maior repertório tático em relação ao do início da temporada passada e é mais criativo. É capaz de, em uma mesma partida, jogar de formas distintas, ancorado em estratégias definidas de acordo com cada adversário. “Sabemos que não há um sistema perfeito. Estamos preparados para todos os sistemas”, assegura o português.
Abel Ferreira trabalhou diferentes formações no ano passado, utilizou atletas em posições a que não estavam acostumados a jogar e resgatou jogadores importantes. Passou a usar, por exemplo, Piquerez como zagueiro pela esquerda quando o time não tem a bola, e Scarpa como um ala. A equipe continua forte nos contragolpes, o que talvez seja sua principal arma ofensiva.
O elenco passou por uma pequena renovação. O tão desejado camisa 9 não veio, o que fará Rony atuar improvisado na função, mas chegaram cinco reforços: o goleiro Marcelo Lomba, o zagueiro Murilo, o volante Jailson, o meio-campista Eduard Atuesta e o atacante Rafael Navarro. Todos já fizeram suas estreias com a camisa alviverde. Murilo até balançou as redes.
O grupo foi rejuvenescido com a saída dos veteranos Jailson, Felipe Melo e Willian, titulares no duelo contra o Al Ahly no Catar. Também saíram Danilo Barbosa e Luiz Adriano, este que chegou a um acordo com a diretoria para que seu vínculo fosse rescindido. Dudu não esteve no Catar há um ano e é a grande novidade em relação à edição anterior.
A única dúvida em relação à escalação diz respeito à utilização ou não de Piquerez. O uruguaio se recuperou da covid-19 e está em Abu Dabi desde a madrugada de domingo. Portanto, treinou apenas uma vez com o grupo. O técnico limitou-se a dizer que, se precisar dele, o lateral “vai voar.”
RIVAL REFORÇADO – Maior campeão africano, com dez conquistas, o Al Ahly joga reforçado em relação ao duelo anterior, mas não se sabe quantos e quais atletas estarão em campo. Cinco retornaram da seleção egípcia após o revés para Senegal na final da Copa Africana e dois se lesionaram.
O zagueiro Mohamed Abdelmonem, os meias Hamdi Fathi e Amr Al Sulaya, o lateral Ayman Ashra e o atacante Mohamed Sherif retornaram e estão à disposição do técnico sul-africano Pitso Mosimane, um personagem carismático e sincero.
“Esses atletas vão estar disponíveis, mas isso não significa que eles estão entre os 11 iniciais”, disse o comandante, que aprendeu parte do conhecimento futebolístico com Carlos Alberto Parreira, de quem foi auxiliar na seleção da África do Sul. “Temos que demonstrar confiança no time que chegou até aqui. Isso não significa que não queremos um time ainda mais forte, mas precisamos buscar equilíbrio na dinâmica da equipe, equilíbrio emocional com os jogadores que nos trouxeram até aqui.”