TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – A entrada de um novo esporte no programa olímpico sempre provoca alguma contrariedade. Reclamações pela escolha em questão, pelos outros que foram preteridos ou, no caso do skate, até mesmo dos próprios skatistas.
Desde 2016, quando se soube que os Jogos de Tóquio abrigariam a estreia da modalidade, houve dúvidas sobre como o universo olímpico comportaria um esporte com uma cultura própria muito estabelecida.
Criar novas entidades; estabelecer um calendário de competições que contemplasse a classificação para os Jogos; definir e padronizar modelos de disputa; se adequar ao código antidoping. O skate passou por todos esses processos e enfrentou resistências.
O choque entre o alto rendimento competitivo e o lifestyle do skate é constante, ainda que esses mundos não sejam totalmente separados.
Com a realização das disputas masculina e feminina do street em Tóquio nos últimos dias, o gelo finalmente foi quebrado. Pistas com os aros olímpicos pintados simbolizaram a aguardada união entre Jogos Olímpicos e skate.
As primeiras competições atraíram a atenção principalmente dos países mais dominantes: Japão, EUA e Brasil. No domingo (25), no street masculino, com a presença do astro americano Nyjah Huston, do destaque local Yuto Horigome e de três brasileiros, entre eles o medalhista Kelvin Hoefler, o espaço planejado para a imprensa foi tomado por jornalistas e ficou pequeno.
Huston decepcionou, mas ao fim da competição a foto mais buscada foi a do cumprimento entre ele e o campeão Horigome. Um novo herói local seria uma história muito bem-vinda para o país-sede dos Jogos após decepções com dois de seus principais atletas: o ginasta Kohei Uchimura e o nadador Daiya Seto.
Nesta segunda (26), era aguardado um embate entre brasileiras e japonesas, o que acabou acontecendo mesmo com as eliminações inesperadas de Pâmela Rosa e Leticia Bufoni nas eliminatórias. Rayssa Leal, medalhista de prata, ficou entre as japonesas Momiji Nishiya (ouro) e Funa Nakayama (bronze).
Bons resultados e grandes personagens ajudaram a impulsionar a popularidade da disputa olímpica do skate tanto no Japão, com três medalhas, quanto no Brasil, com duas. A devoção à “fadinha” Rayssa tomou conta das redes sociais brasileiras, assim como a curiosidade para saber mais sobre os supostos atritos entre Hoefler e Bufoni.
Do ponto de vista esportivo, o skate também se encaixou muito bem no programa olímpico, sem disputas longas ou regras mirabolantes. Vai bem ao encontro do que o COI (Comitê Olímpico Internacional) busca para o rejuvenescimento da audiência dos Jogos.
No Japão, o parque de esportes urbanos de Ariake, montado para receber o skate e o BMX, poderia ser um dos principais pontos de encontro e trocas culturais para o público. A pandemia impediu, mas em Paris o palco será ainda mais intrigante, a praça La Concorde, que receberá ainda o BMX, o basquete 3 x 3 e o estreante breaking.
Nem mesmo as notas, que viraram polêmica nas redes sociais brasileiras por um suposto favorecimento às japonesas, se tornou um grande tema negativo entre as competidoras brasileiras.
“Eu acho que as notas estavam certas. Esses juízes estão fazendo os eventos há alguns anos e foram treinados para isso. A gente não tem que ficar reclamando que o juiz deu nota errada. Eu não acompanhei o evento inteiro, todas as notas, mas acredito que eles não tenham errado”, afirmou Bufoni.
As próximas disputas da modalidade serão em 4 e 5 de agosto, com o park. Pelo menos até agora, é possível dizer que o skate entrou de cabeça nos Jogos e foi muito bem recebido por eles.