TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Nas Olimpíadas reguladas mais do que nunca pelos protocolos, Bruno Fratus e Michelle Lenhardt, sua esposa e treinadora, quebraram um após a cerimônia de premiação dos 50 metros nado livre.
Com a medalha de bronze no peito, o atleta brasileiro de 32 anos deixou o pódio e foi em direção a ela, que estava na área reservada para as delegações nas arquibancadas. O beijo do casal já se tornou uma das imagens marcantes nos Jogos das máscaras e do distanciamento social.
“Desde que estou treinando o Bruno, essa é a primeira prova que eu assisti sendo a esposa. Não consegui ter um olhar técnico. Fui só coração a prova inteira. Hoje eu quis estar com o meu marido, torcendo”, disse Michelle.
Os dois se conheceram na rotina de atletas e estão juntos há dez anos. Também velocista, a gaúcha de 41 anos participou dos Jogos de Pequim-2008 e passou a treinar o marido no fim de 2016.
Na época, Fratus estava arrasado pela participação frustrante nas Olimpíadas do Rio, e ela também não sabia para qual caminho encaminhar a carreira após uma incursão pelo mundo das competições fitness.
“A medalha foi construída desde novembro de 2016, quando estavam os dois no tapete da sala, chorando, sem saber o que seria do futuro e comendo sem parar. Isso demorou algumas semanas, até a gente falar: ‘não pode ser o fim, vamos em frente’. O Brett [Hawke, treinador australiano] não podia mais dar treino a ele e precisava que alguém o treinasse. Eu disse que assumiria”, contou Michele.
O primeiro teste foi a participação no Mundial de 2017, em que Fratus ficou com a medalha de prata. Dali em diante decidiram seguir em frente com a parceria até Tóquio.
Michelle reconhece que Bruno Fratus “dá muito trabalho”, na visão dela, por ser perfeccionista. Afirma que o marido sempre soube o que é bom para ele em termos de planejamento, mas ela também passa os conhecimentos adquiridos na carreira. “A gente agrega muito ao outro. Nossa parceria funcionou porque os dois fizeram a mesma coisa a vida inteira”, define.
Mas nem sempre foi fácil, principalmente no início da relação profissional. “Muitas vezes saíram faíscas, na borda da piscina, inclusive em competição… Mas, quando tudo passa, a gente percebe o quanto se fortalece com esses pequenos acontecimentos”, diz. “Aprendemos a nos divertir, brigar e dar risada depois. Fomos avaliando, impondo limites. Em vez de estourar, espera, porque no final do dia a gente está junto.”
Michelle foi a única treinadora do time de seis profissionais da comissão técnica brasileira em Tóquio. Para Fratus, era ela quem deveria ficar com a sua medalha no peito. Além dos treinamentos e das broncas, ele diz que sem a esposa não teria sido salvo do buraco em que se enfiou após a Rio-2016. “Eu falo para mim que o amor sempre vence. É a mulher da minha vida, minha companheira para a vida inteira.”