Quase dois anos após sua demissão do Corinthians, o técnico Tiago Nunes, atualmente sem clube, contou que enfrentou resistência interna para realizar mudanças e relatou o clima de ‘guerra fria’ nos bastidores em meio às eleições para presidente do clube.
“Eu acabo indo no ano de eleição, é como ir em uma eleição presidencial. É polarizado. É guerra fria no bastidor, com a imprensa, com dirigentes. Passei muita dificuldade por falta de experiência. Quis fazer uma gestão centralizadora, com os jogadores e a equipe de trabalho nos demais departamentos. Me pediram para ter a incumbência de mudar tudo e fui entrando nos departamentos, mas tive muita resistência, não pelos jogadores, mas pelos profissionais. Hoje vejo que não se muda a cultura de um clube em tão pouco tempo”, contou Tiago Nunes, em entrevista ao Charla Podcast, “eleito” para assumir essa responsabilidade.
“O Corinthians foi vencedor nos últimos anos com um modelo de jogo pragmático e cirúrgico na hora de fazer o gol. Foi assim com diversos treinadores. Mas na minha chegada, houve um clamor público para que o Corinthians passasse a jogar um futebol mais bonito, fugisse do estilo de joga anterior”. Em 2020, foi vice-campeão paulista, após perder a final para o Palmeiras, então treinado por Vanderlei Luxemburgo.
Contratado em 2020 para substituir Fábio Carille, tricampeão paulista e campeão brasileiro no Corinthians, Tiago Nunes chegou com a missão de modificar o estilo de jogo da equipe, para um futebol mais atrativo, mais propositivo, próximo ao apresentado pelo “Flamengo de Jorge Jesus em 2019”, nas palavras do treinador. Entretanto, não conseguiu chegar perto do seu objetivo
“Ingenuidade. Esse é o mal da pessoa idealista, achar que consegue mudar tudo. Quando você está em um bom momento na carreira, acha que tudo que irá tocar dará certo, vira ouro”, afirmou Tiago Nunes. “Quando saio de um ambiente controlado (Athletico-PR), querido pelas pessoas, e vou pro Corinthians, é o mesmo desafio de um governador. Às vezes, até mais”.
Tiago Nunes conta que, durante sua passagem pelo Corinthians, sentiu a pressão da torcida, da imprensa e da opinião pública. “Eu vivia em uma bolha. Cheguei a ficar sem usar o celular, assistir a televisão, longe das redes sociais, para não absorver as críticas e xingamentos. Acaba sendo influenciado. Como técnico do Corinthians você fica 24 horas por dia no ar, ‘tomando porrada'”.
Segundo o técnico, os quatro meses de salários atrasados, o ano de eleição no clube e o início da pandemia, atrapalharam seu desenvolvimento no Corinthians e suas ideias de jogo. Além disso, o treinador brinca com as opiniões antes e após a sua chegada ao clube. “Tinha gente que pedia pela minha contratação. Quando eu chego, ‘é uma m****, não presta’. É assim que é viver o Corinthians”. Além disso, ele compara seu momento com o de Vítor Pereira. “Ele é um técnico de características ofensivas, mas que já se adaptou à um jogo mais pragmático no Corinthians. É difícil alterar essa postura de jogo.”