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EsportesTimidez e curiosidade levaram Leila e Bianca, de Paraisópolis, ao rúgbi olímpico

Timidez e curiosidade levaram Leila e Bianca, de Paraisópolis, ao rúgbi olímpico

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TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Para a comunidade de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, pouco importa se a seleção brasileira feminina de rúgbi de sete tenha chances de brigar por uma medalha olímpica. Fala mais alto a ansiedade pela estreia de Bianca dos Santos Silva, 23, e Leila Cássia dos Santos Silva, 24, nos Jogos de Tóquio.

Bianca e Leila são crias de Paraisópolis e passaram pelo projeto Rugby para Todos, fundado em 2004. Aos 11 anos, Bianca teve curiosidade pela modalidade, pouco conhecida no Brasil. Leila, quando era uma menina tímida de 10 anos, queria acompanhar seus únicos cinco amigos, praticantes do esporte.

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Hoje, as duas jogam no Yaras, apelido do time feminino do Brasil, que estreia nesta quarta (28) nas Olimpíadas, às 21h30 (de Brasília), contra o Canadá -dono do bronze nos Jogos do Rio-2016. Na sexta (30), a equipe enfrenta França (às 5h) e Fiji (21h).

Os apelidos são comuns no rúgbi. Partiu das próprias jogadoras brasileiras a alcunha de Yaras, que remete à união e à coragem das mulheres.

Quando a Confederação Brasileira de Rugby divulgou a lista com as 12 escolhidas para o megaevento esportivo, Paraisópolis vibrou. “Recebemos muitas mensagens positivas dos moradores. Uma que me tocou bastante: a comunidade se sente bem representada”, diz Bianca, que nasceu em Guarulhos e, quando tinha um ano, mudou-se com os pais para a favela vizinha ao Morumbi.

“A comunidade me ensinou a ser forte, me deu forças para nunca desistir”, afirma Leila Cássia. “As pessoas veem, em jornais e televisão, que a comunidade tem roubo, assassinato. Mas depois da convocação eu já sinto outro olhar. Eu venci só de olharem para mim sem julgamentos.”

Filha da auxiliar de limpeza Genilda, Leila Cássia diz ter o pai ausente desde a infância. Na escola, era muito tímida e sentia-se travada na hora de dialogar com as pessoas.

“Meus únicos cinco colegas de classe me chamaram para conhecer o rúgbi. Por ser um esporte coletivo, superei a timidez e comecei a construir uma conexão dentro e fora do campo”, conta.

Paralelo ao esporte, a jogadora cursa o terceiro ano de Serviço Social numa universidade particular de São Paulo.

“Sempre sonhei com uma faculdade, estudava bastante porque não tinha condição de pagar mensalidade. Mas hoje eu penso: se não fosse o rúgbi, como eu, tímida e antissocial, agarraria as oportunidades da vida?”

Bianca teve que convencer os pais, Ana Maria e Jucelino, a deixá-la praticar a modalidade. “Eles não aceitaram porque não conheciam o esporte, eu chegava em casa suja e sempre com alguns machucadinhos. O grande medo da minha mãe era ter que procurarmos um hospital por ter quebrado um braço, uma perna”, diz a ponta da seleção, rindo

A marcação de Ana Maria e Jucelino era cerrada. “Para ir aos campeonatos, precisava de uma cartinha de autorização dos pais, e eles sempre tinham um pretexto para não assinar. Ainda sim fui evoluindo e não tinha mais como não deixar eu ir”, diz.

Atleta veloz, Bianca foi destaque do Brasil na Copa do Mundo de 2018, em São Francisco (EUA), e no Pré-Olímpico de Lima, no Peru, em 2019.

Nesse ano, a seleção conquistou o inédito título do World Sevens Series, também chamado de Hong Kong Sevens, e entrou para a elite da modalidade.

Bianca sabe de onde vem sua força. “Paraisópolis me deu resistência e me ensina, diariamente, a correr atrás do que eu quero e até o último segundo.”

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