A direção de Wimbledon confirmou nesta quarta-feira que vai vetar os tenistas da Rússia e de Belarus em sua edição deste ano, que começa no dia 27 de junho. A proibição, que impedirá a participação do número dois do mundo Daniil Medvedev, faz parte da retaliação do governo britânico à Rússia por conta da invasão da Ucrânia, no fim de fevereiro. A punição atinge também Belarus pelo apoio concedido ao país vizinho.
“Reconhecemos que essa decisão será dura para os indivíduos afetados e é com tristeza que eles vão sofrer os efeitos das ações dos líderes do regime russo”, afirmou Ian Hewitt, presidente do All England Club, entidade que dirige e organiza o terceiro Grand Slam da temporada.
O dirigente indicou que a decisão poderá mudar caso o cenário de guerra sofra alguma alteração drástica. “Se as circunstâncias sofrerem alguma mudança material entre agora e junho, vamos levar em consideração e dar uma resposta adequada”, declarou Hewitt.
Em comunicado, a direção do torneio britânico voltou a condenar a invasão russa na Ucrânia e justiçou a decisão ao afirmar que está se alinhando com as decisões do governo quanto a guerra. “Também levamos em consideração as orientações estabelecidas pelo governo do Reino Unido especificamente em relação a órgãos e eventos esportivos”, explica a entidade.
“É nossa responsabilidade desempenhar nosso papel nos esforços gerais do governo, indústria, instituições esportivas e criativas para limitar a influência global da Rússia através dos meios mais fortes possíveis.”
A decisão foi tomada após meses de conversas e negociações entre o governo e a organização do mais tradicional torneio de tênis do mundo. O plano inicial era pedir aos tenistas dos dois países que demonstrassem publicamente seu repúdio à guerra na Ucrânia, algo que alguns atletas vinham fazendo.
O russo Andrey Rublev, por exemplo, escreveu a mensagem “Não à guerra, por favor” na lente de uma das câmeras que transmitia o Torneio de Dubai, no início do ano. Daniil Medvedev, que chegou a liderar o ranking por três semanas entre o fim de março e o início de abril, afirmou que “quer paz em todo o mundo”. Eles e os demais atletas russos vêm evitando se aprofundar no tema em entrevistas coletivas e declarações nas redes sociais.
Para os britânicos, as declarações não foram suficientes. E havia a ideia de exigir dos tenistas destes países que assinassem declarações se comprometendo a não fazer comentários a favor da guerra ou do presidente Vladimir Putin durante a disputa de Wimbledon. Mas este plano também ficou para trás.
“Consideramos com muito cuidado as medidas alternativas que poderiam ser tomadas seguindo as orientações do governo. Mas, devido aos holofotes que o campeonato costume receber, se tornou ainda mais importante não permitir que o esporte seja usado para promover o regime russo e nossas preocupações mais amplas com o público e a segurança do tenista (incluindo suas famílias). E não acreditamos que seja viável prosseguir em qualquer outra decisão no campeonato”, justificou Hewitt.
Trata-se da primeira vez desde o início da guerra que um torneio ou evento esportivo bane atletas individuais de competições internacionais. Até então, havia impedimento apenas de grupos ou times, como aconteceu com a equipe russa nos Jogos Paralímpicos de Inverno, em Pequim; nas Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar; e nas competições europeias de clubes de futebol.
No âmbito do tênis, a Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês) baniu as equipes russas e belarussas tanto na Copa Davis quanto na Billie Jean King Cup (antes chamada de Fed Cup). No circuito profissional, a ATP e a WTA permitem a participação dos tenistas de ambos os países, mas competindo com bandeira neutra.
Com a decisão, Wimbledon não terá em quadra tenistas como Medvedev, atual número dois do mundo, Rublev (8º do mundo), Karen Khachanov (26º) e Aslan Karatsev (30º). Na chave feminina, ficariam impedidas de competir Anastasia Pavlyuchenkova (15ª) e Daria Kasatkina (26ª), por exemplo. Entre as belarussas, perderiam o torneio Aryna Sabalenka, 4ª do mundo, e Victoria Azarenka, ex-número 1 do ranking e dona de dois títulos de Grand Slam.
A proibição dos tenistas da Rússia e Belarus se estende para os demais torneios britânicos, que são disputados antes de Wimbledon, como preparatórios para o terceiro Grand Slam do ano. Na prática, os atletas destes países perdem quase toda a curta temporada de grama do circuito.
REAÇÃO RUSSA
A Rússia reagiu à proibição antes mesmo da divulgação oficial por parte do governo britânico e da direção de Wimbledon. “É inadmissível voltar a transformar atletas em
reféns de intrigas e preconceitos políticos, de ações hostis ao nosso país”, afirmou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.
“Levando em consideração que a Rússia é um país muito forte no tênis e que nossos atletas figuram na parte mais alta dos rankings mundiais, a exclusão deles terá um impacto na própria competição”, completou Peskov.