SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com projetos em várias telas, a atriz Roberta Rodrigues, 38, diz que se sente privilegiada de poder trabalhar em meio à pandemia. “A produção artística no Brasil sempre foi difícil. Quando entra a pandemia, com o governo que temos hoje, já sabíamos tudo o que ia acontecer.”
A atriz está na novela inédita “Nos Tempos do Imperador” (Globo) e em dois novos filmes: as comédias “L.O.C.A.”(Telecine) e “Dois + Dois” (cinemas). Para ela, ter a oportunidade de lançar dois longas neste momento é gratificante. “Estou em um lugar de protagonismo [nos filmes]. Uma atriz preta. Neste momento do país, [fazer isso] é um privilégio”, afirma, em entrevista ao F5.
Rodrigues conta que, desde que gravou “L.O.C.A.”, em 2018, decidiu que sempre faria papéis de destaque. “É o meu direito.” No longa, ela forma o trio de protagonistas com Mariana Ximenes, 40, e Debora Lamm, 43.
A produção foi dirigida por Cláudia Jouvin e feita inteiramente por mulheres -e para Rodrigues, não poderia ter sido de outra maneira. “Este momento é de empoderamento da mulher, e isso tem que ser contado, escrito e dirigido por mulheres.”
No filme ela interpreta Rebeca, que já não suporta as traições do parceiro Jorge (Érico Brás) e que chega ao ponto de partir para violência. “Em relacionamentos que eu tive, toda vez que a pessoa falava que eu estava louca, eu sabia que eu estava certa”, conta.
Já na comédia “Dois + Dois”, ela interpreta a personagem Bettina, que parte com o marido e um casal de amigos para uma casa de swing. Sobre a experiência, Roberta diz que, embora conheça o conceito de poliamor, nunca praticou e chegou a repensar sua participação no filme, por causa das cenas de sexo. “Até em relação a tudo o que eu passei na minha carreira, por sempre estar fazendo a ‘gostosona’.”
Mas acabou confirmando sua participação no elenco depois de conhecer Marcelo Saback, diretor do filme, que estava “totalmente aberto a fazer de uma forma poética e nos proteger”. Ela diz que o longa mostra os relacionamentos de todas as perspectivas e torce para que a história possa contribuir com visões diferentes sobre os diversos tipos de experiência.
NOVELA
Em “Nos Tempos do Imperador”, Roberta interpreta Lupita, “uma escrava que pensa à frente, uma empreendedora”. “[Ela] quer ser liberta, quer ser alguém na vida.”
Na história, ela é obrigada pelo delegado Borges (Danilo Dal Farra) a se infiltrar na Pequena África, local que recebe e protege negros, mas acaba descoberta e, por fim, vira uma espécie de agente dupla, cedendo informações para ambos os lados. “Ela quer se dar bem em tudo”, resume.
A atriz, que participa das gravações da novela desde outubro do ano passado, relembra que, ao aceitar o convite, teve medo de sair de casa, por causa do novo coronavírus. “Entrei em pânico, tive crise de ansiedade de sair de casa e voltar para o meu marido e a minha filha.”
Ela afirma, contudo, que encontrou refúgio e coragem em sua espiritualidade. “É isso que temos para nos segurar”, diz ela, que nunca pegou Covid. Para deixar seu universo menos pesado, ela conta que decidiu se divertir nas gravações. “Como disse Paulo Gustavo [1978 – 2021], rir é resistência.”
Quando o assunto é arte, Roberta Rodrigues diz que “tudo na arte vale, desde o errado ao certo”. Para ela, a produção artística é essencial para gerar reflexão e pensamento crítico. “Por mais que neste país tudo caminhe de forma lenta, já entendemos qual é o caminho e estamos aprendendo a ter outro olhar, de respeito pelas escolhas”, diz.
Ela diz que um dos principais deveres do artista é ser “a voz daqueles que não podem falar” e afirma que tem como referência o dramaturgo William Shakespeare. “O artista sempre foi esse mensageiro das transformações para sociedade”, diz. “Temos que ter essa consciência, porque fazemos a diferença, principalmente neste país movido pela teledramaturgia.”