SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cantor, compositor, multi-instrumentista e jurado do The Voice Kids (Globo). O currículo de Carlinhos Brown, 58, é vasto e não para de crescer. Tanto que o músico aproveitou o isolamento imposto pela pandemia da Covid-19 para tocar ainda mais projetos, de curso online a projetos sociais.
Enquanto parte da classe artística amargava o cancelamento de shows e relatava bloqueio criativo, o baiano lançava o álbum “Umbalista” (2020) e se inspirava até no Big Brother Brasil 21 para compor. O single “Juliette, Mon Amour”, que chegou às plataformas em abril, homenageia a campeã do reality.
A paraibana Juliette Freire, 31, chamou a atenção de Brown quando revelou no programa já ter enviado uma mensagem privada a ele em 2018. Apesar de muitos fãs duvidarem e do músico confessar que não consegue ler todas as mensagens diretas, ele procurou nos directs das redes sociais e lá estava.
“Não aceitei as pessoas dizendo que era mentira [a afirmação de Juliette]. Meus fãs pediram para eu responder com uma música e eu disse: ‘prontamente’. Respondi com essa canção”, afirma ele, que elogiou o carisma da paraibana, que, segundo ele, mostra os “Brasis” de sotaque e cultura variados.
Apesar da homenagem, Brown ainda não a conheceu pessoalmente, mas não descarta trabalhos conjuntos. “Está de bom tamanho tudo o que acontecer entre nós dois. Juliette tem uma voz linda, um segmento do canto brejeiro de Elba [Ramalho], Amelinha. Isso é lindo, o Brasil tem uma artista”.
Mas os projetos de Brown para param aí. Na terça-feira (6), ele fará masterclass “Reconcavando o Saber” de abertura do semestre do Cecult (Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas) da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). O cantor vai falar sobre cultura e ancestralidade da Bahia em uma aula online aberta ao público e transmitida no canal TV UFRB no YouTube.
Em maio deste ano, ele, que já trabalha com educação musical há 40 anos e já formou mais de 15 mil músicos, lançou um curso online de introdução à percussão, na plataforma Domestika, para ajudar as pessoas a descobrirem a arte da percussão e dos ritmos.
“Todo mundo nasce musical. Tudo está interligado, portanto, toda canção é influenciada pela música ancestral. Abrir os ouvidos para as sonoridades do mundo e conhecer as raízes de diferentes ritmos faz abrir possibilidades infinitas de conhecimento sobre nós mesmos e sobre a natureza ao nosso redor”.
O artista também passou o último ano compondo a trilha sonora para o espetáculo “Cura”, da bailarina e coreógrafa Deborah Colker. “Foi a melhor coisa que eu fiz nos últimos cinco anos. Eu tive tempo para construir, levei um ano compondo a trilha. Eu fechadinho no estúdio, só eu e o técnico”, recorda ele.
Para Brown, o mais importante no trabalho com Deborah Colker é a oportunidade de fazer música contemporânea. A peça, no entanto, estava prevista para ser lançada em janeiro deste ano em Londres, mas foi adiada por causa da pandemia. “A gente não pode viajar, brasileiro não pode viajar”, lamenta.
No ano passado, o artista também revisitou a própria obra com o lançamento de “Umbalista”, com canções autorais que fizeram sucesso na voz de outros artistas. Ele conta que a ideia era respeitar as gravações originais feitas pelos colegas, “mas uma oportunidade de ouvir também na minha voz”.
“A ideia surgiu de uma brincadeira, eu conversando com Arnaldo [Antunes] e Marisa [Monte]. Recebi o maior apoio”, afirma o cantor, que não economiza nos elogios a amiga Marisa Monte. “Ela me honra muito por ser a pessoa que percebeu a minha canção e o meu lado cancioneiro”, completa.
Amiga há muitos anos de Brown, a cantora lançou em junho a música “Calma”, em parceria com Chico Brown, 25, filho do cantor com Helena Buarque de Holanda, filha de Chico Buarque. “Depois de Chico Buarque [que gravou a valsa “Massarandupió” com neto], ela faz parceria com meu filho”, diz orgulhoso.
PAI CORUJA
Carlinhos Brown diz que tem uma família muito musical, mas nunca forçou os filhos a nada. Ainda assim, Chico não é o único a seguir os passos do pai. “Está no DNA e a única coisa que eu fiz quando descobri foi colocar para estudar com professores diferentes para não ficarem monotemáticos nem com a ideia que a música saia apenas do seu pai”.
Outro filho de Brown na música é Miguel Freitas, 24, que o pai coruja afirma ser muito talentoso e revela que ele o ajudou na gravação da música em homenagem a Juliette. “Trabalhar com o filho é mais fácil, a musicalidade está no olhar. É igual a músicos que tocam muitos anos [junto], fica fácil”.
Brown também se derrete quando fala da primogênita Nina Freitas, 29, que mora nos Estados Unidos. Ele diz que Nina é a mais veterana de todos os seus filhos e a música dela é muito internacional. “Ela fez música para as Olimpíadas passadas e teve mais de 15 milhões de visualizações”, recorda.
“Não esqueça de Clara não”, se apressa o músico se referindo à filha mais nova. Segundo ele, Clara Buarque de Freitas, 22, é atriz, cantora, compositora e tem muito carisma. “Ela está trabalhando em um musical, eu ainda não sei o nome porque eles estão todos em segredo”.
Além dos filhos, outro motivo de orgulho para Brown é sua editora Candyall Music, que assinou com a Warner Chappell Brasil um contrato global de administração de todas as suas obras musicais, em fevereiro. Ele tem 962 músicas gravadas e mais de 3.740 rascunhos de canções nos últimos cinco anos.
O artista lembra que o selo tem mais de 20 anos e que sempre foi um incentivador de novos talentos, produtor e convidava as pessoas para usar o estúdio [da associação Pracatum, que ele mantém há mais de 35 anos]. Segundo ele, o contrato com a Warner foi uma oportunidade única.
“Isso foi de extrema importância, era o meu sonho, criar essa oportunidade para os artistas, um espaço para se mostrar sem que precisasse de chancela que para a gente muitas vezes é necessária no eixo Rio-São Paulo”, afirma ele.
A dedicação de Brown à associação Pracatum, por sinal, foi outro destaque do músico nesse período de pandemia. Criada na comunidade do Candial, em Salvador, onde o cantor nasceu e cresceu, ele inclui projetos de habitação, saneamento, música, alfabetização, inglês, corte e costura, capoeira, karatê, futebol.
As parcerias da Pracatum com grandes empresas, como a Avon, Elo e banco Itaú, possibilitaram a distribuição de máscaras, álcool em gel, panelas, cestas básicas e cards para as pessoas comprarem cestas básicas. Segundo o artista, existe um movimento social muito forte que agrega os outros.
“Eu não o faria sozinho, eu sou um instrumento dentro da minha comunidade. Assisto a minha comunidade através de mim, das minhas ações, e a minha comunidade também assiste outras porque o que mais acontece entre nós não é o que sobra, é o que podemos dividir”.