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Lazer e CulturaCensurado e underground, cineasta Aron Feldman tem trajetória resgatada em livro

Censurado e underground, cineasta Aron Feldman tem trajetória resgatada em livro

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com uma câmera na mão, meia dúzia de ideias na cabeça e quase nenhum dinheiro no bolso, Aron Feldman conseguiu um façanha em 1972.

Seu primeiro longa-metragem, “O Mundo de Anônimo Jr.”, foi tolhido pela ditadura militar em duas instâncias. Primeiro, o departamento de censura determinou o corte de duas cenas. Até aí, vá lá, a produção de Feldman ainda poderia chegar às salas de exibição. Mas o golpe maior veio de uma comissão do Instituto Nacional de Cinema, o INC, que proibiu o filme de entrar em cartaz em circuito comercial. O motivo? Precariedade, disseram os burocratas.

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Figuras influentes do cinema brasileiro da época chiaram. “O infortúnio teve em todo o caso o mérito de sublinhar mais uma vez o alheamento e a ignorância da comissão carioca que se responsabilizou pela marginalização de ‘Anônimo Jr.'”, escreveu Paulo Emílio Sales Gomes, professor da Universidade de São Paulo e crítico.

Assim, o filme mais comentado de Feldman, diretor de família judaica, se restringiu à projeção em cineclubes e pequenos espaços culturais, especialmente em Santo André, na Grande São Paulo, onde ele passou a maior parte da vida, e em São Paulo. Poucos puderam ver em tela grande o delírio e o deboche da saga de Anônimo Jr., rapaz que foge do manicômio para morar num cemitério, onde tem casos amorosos e bate papo com um camundongo. Nascido em 1919 na pequena cidade gaúcha de Quatro Irmãos, Feldman sempre viveu de vender coisas, de tecidos a móveis, como conta Cláudio Feldman, filho do diretor e autor do livro recém-lançado “Aron Feldman – Cinema nas Veias”. Boa parte do dinheiro conquistado no comércio ia para produções de baixíssimo orçamento, que só eram concluídas graças à persistência de um autodidata.

Cláudio, aliás, fala do pai como um “homem-equipe”, que quase sempre conciliava a produção, a direção, a câmera, o som e a montagem dos filmes.

“Eu faço filmes à margem dos marginais”, disse Feldman num vídeo em sua homenagem. “O pessoal do cinema marginal nunca aceitou meu pai. Até pelo fato de ser do ABC, meu pai frequentava pouco a Boca do Lixo, não era da patota”, afirma Cláudio.

Quando morreu, em 1993, Feldman contabilizava 22 filmes, de “Pinceladas”, de 1958, a “Afogados”, de 1993. Filmou especialmente curtas, mas fez também alguns longas e médias. Ele se arriscou na ficção e no documentário e transitou por diversos formatos, super-8, 16 milímetros, 32 milímetros e VHS.

Críticos classificaram seu cinema como “alucinado”, “estranho”, “maldito”, “neorrealista” e “naïf”, e se referiram a ele como “artesão marginal” e o “patriarca do cinema do ABC”. Segundo o autor do livro, Feldman foi, sim, tudo isso. “Mas, no fim das contas, o mais exato é dizer que ele foi um amante do cinema.”

“Meu pai [Aron] gostava dos diretores do neorrealismo, como Fellini e Visconti nos seus primeiros filmes, De Sica. Depois ele conheceu Buñuel, que influenciou muito o humor negro e o sarcasmo em ‘Anônimo Jr.'”, afirma Cláudio.

Feldman foi tema de mostras no Centro Cultural São Paulo, em 1988, e no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2008, ambos em São Paulo, e alguns dos seus filmes se destacaram em festivais, como o curta documental “Casqueiro”, de 1966, e o longa de ficção “A Odisseia de um Cadáver”, de 1988.

Segundo Cláudio, seu pai representava “o outro lado do cinema do ABC”, a vertente modesta e alternativa em contraponto à Vera Cruz, estúdio de São Bernardo do Campo que se dedicou a produções comerciais nos anos 1940 e 1950. “Mariana, Paraná e Greve”, de 1984, por exemplo, é um registro curioso das lutas sindicais em Diadema.

Feldman “transformava sucatas em joias”, diz Cláudio, afirmação que talvez traduza mais o orgulho que o filho sente do pai e menos a realidade. Suas tramas se revelam, muitas vezes, ingênuas demais, e algumas interpretações se perdem na caricatura –por falta de dinheiro, ele costumava trabalhar com elencos amadores.

Feldman, porém, deixou achados cômicos, como se vê no protagonista chapliniano de “Anônimo Jr.”, e demonstrou sensibilidade para questões sociais, caso dos curtas sobre os operários do ABC. Por isso, ao contrário do que pensavam os burocratas da ditadura, seus filmes merecem ser vistos. Alguns deles estão no YouTube.

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ARON FELDMAN – CINEMA NAS VEIAS

Quando: lançamento em live na sex.(18), às 14h30, com participação dos filhos de Aron Feldman, Cláudio (autor do livro), Ida e Sérgio

Onde: Canal do YouTube da UFABC – https://www.youtube.com/user/ufabcvideos

Preço: R$ 35 mais o frete – livro pode ser encomendado pelo WhatsApp (11) 98797-3065

Autor: Cláudio Feldman

Editora: Bartira (184 págs.)

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