Quase 60 anos depois de sua primeira exibição no Festival de Cannes, o longa brasileiro Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, participa do festival na mostra Cannes Classics com uma cópia restaurada em 4K. A nova versão começou a ser feita em 2019, quando o produtor Lino Meireles se uniu à diretora Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha, para restaurar o longa, que é um marco do Cinema Novo.
Segundo longa-metragem de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol estreou mundialmente na competição do mesmo festival, em 1964, sendo indicado à Palma de Ouro. O filme foi lançado nos cinemas do Brasil em julho do mesmo ano. O legado do diretor inclui longas-metragens como Barravento (1962), Terra em Transe (1967), O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969), O Leão de Sete Cabeças (1970), entre outros.
“É um ciclo completo para a nossa restauração, onde o filme será reexibido pela primeira vez no mesmo local em que estreou. Que seja um novo chamado de resistência cultural”, afirma o produtor Lino Meireles, diretor de Candango: Memórias do Festival. “Num país com a cultura tão depreciada, com a produção artística sofrendo ataques, fizemos um esforço de contracorrente. Isso só é possível porque o filme tem a força própria dele”, explica a diretora Paloma Rocha.
A última versão digitalizada do filme é de 2002 e tem qualidade inferior à atual. O novo restauro foi realizado na Cinecolor, empresa parceira da Cinemateca Brasileira, onde estava armazenada a cópia em película – cinco latas de negativos 35mm em perfeitas condições. Parte da obra de Glauber foi perdida no incêndio que atingiu um dos galpões da Cinemateca, em São Paulo, em julho de 2021.
Em Deus e o Diabo na Terra do Sol o vaqueiro Manuel (Geraldo del Rey) e sua esposa Rosa (Yoná Magalhães) fogem para o sertão depois que ele mata um coronel que tenta enganá-lo. No ermo brasileiro, violento e assolado pela seca, eles encontram duas figuras icônicas: Sebastião, que se diz divino, e Corisco, que se descreve como demoníaco. O filme mescla influências literárias de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.