SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Poucos anos atrás, Cynthia Erivo era praticamente uma anônima. Sua presença estava confinada a pequenas produções, nem sempre elogiadas, às margens da West End, versão londrina da Broadway. Mas, em 2015, ela subiu num avião rumo a Nova York, onde o musical “A Cor Púrpura” ganhou uma nova montagem.
Celie, papel de uma menina negra do sul dos Estados Unidos castigada por uma sociedade racista, misógina e homofóbica, que já pertenceu a Whoopi Goldberg no filme homônimo de 1985, representou uma virada na carreira de Erivo. A produção, aclamada, garantiu a ela um Tony de melhor atriz e atraiu os olhos de produtores de teatro, cinema, televisão e música.
Sim, Erivo parece ser um arraso em qualquer área por onde passa, e prova disso é que, nessa última meia década, além do prêmio máximo do teatro americano, ela ainda conquistou um Emmy e um Grammy. Também foi indicada ao Oscar duas vezes –pelo trabalho como atriz e como compositora no filme “Harriet”.
Se tivesse arrematado uma das estatuetas douradas no ano passado, teria entrado para o exclusivíssimo clube dos EGOTs, uma lista enxuta de artistas que conquistaram as quatro maiores honrarias da indústria americana de entretenimento –o Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony. Mas não há pressa, já que Erivo, aos 34 anos, só agora começou a desabrochar.
“Eu estou aproveitando muito esse momento, porque, sabe, eu sou insaciável quando o assunto é trabalho”, diz a atriz por videoconferência. “Eu amo o que faço e amo poder criar, então o verdadeiro desafio é não ter horas suficientes no dia para fazer tudo o que eu gostaria de fazer.”
Nascida em Stockwell, bairro londrino que é lar de muitos imigrantes portugueses, caribenhos e africanos -como seus pais, que deixaram a Nigéria rumo à terra da rainha-, a atriz vem sendo elogiada por mais um trabalho, dessa vez nas telinhas. Em “Genius: Aretha”, ela dá vida a Aretha Franklin, rainha do soul e ícone da cultura negra.
A série antológica da National Geographic já teve temporadas em que Geoffrey Rush assumiu o giz de cera de Albert Einstein, e Antonio Banderas, os pincéis de Pablo Picasso.
Os oito episódios deste terceiro ano da produção chegam ao Brasil como parte do catálogo do Star+, serviço de streaming recém-lançado pela Disney. Pelo trabalho, Erivo está indicada ao Emmy de melhor atriz em minissérie ou filme para a TV –os vencedores serão revelados no mês que vem.
“A primeira memória que tenho da música da Aretha é de quando eu tinha nove ou dez anos e escutei ela no carro da minha mãe, a caminho para a escola”, diz ela, sobre uma época em que certamente não pensava que um dia interpretaria a cantora que embalava suas viagens. “Eu me apaixonei por aquele som, pelo jeito como ele me fez sentir.”
“Genius: Aretha” cobre uma boa parte da história da rainha do soul, com um belo enfoque em sua relação com o pai, o pastor e ativista pelos direitos civis C. K. Franklin, vivido por Courtney B. Vance. Há temas comuns à trama que a alçou ao estrelato, “A Cor Púrpura”, já que a série mostra os entraves que a voz de uma mulher negra, mesmo que tão poderosa quanto a dela, precisou enfrentar numa sociedade ainda muito retrógrada.
Este não é o único trabalho de ficção feito a partir da vida de Aretha Franklin previsto para este ano, no entanto. “Respect”, que embarcou na onda recente de cinebiografias musicais, já vem sendo ventilado como possível indicado a categorias do próximo Oscar.
No filme, curiosamente, a protagonista ficou com Jennifer Hudson, atriz que foi par de Erivo em “A Cor Púrpura”, na Broadway. Mas a atriz acha que há espaço para todos cantarem a vida de Aretha Franklin e que cada uma das obras, com suas particularidades, prega uma abordagem diferente para a vida da biografada.
“Respect”, de fato, parece ser bem mais espetaculoso que “Genius: Aretha”, que não chega a ser uma superprodução televisiva e tende a ter dramas pessoais, mais intimistas, em seu cerne –e não as apresentações estonteantes e o glamour que a fama trouxe à rainha do soul
Depois de “Genius: Aretha”, Erivo vai provar que, de fato, seu único inimigo é o tempo. Ela tem mais seis projetos para serem lançados no futuro breve. O que pretende apresentar a atriz a um público ainda mais amplo é a nova versão da Disney para “Pinóquio”, na qual ela viverá a Fada Azul sob a direção de Robert Zemeckis, acompanhada de Tom Hanks e Luke Evans.
GENIUS: ARETHA
Onde: Disponível no Star+
Elenco: Cynthia Erivo, Courtney B. Vance e Malcolm Barrett
Produção: EUA, 2021
Criação: Suzan-Lori Parks