Quem vê o currículo de Juan José Campanella pode imaginar que o cineasta argentino é um apaixonado por futebol ou então que passou a infância jogando pebolim. Não passou. E ele até gosta de ver jogo – mas só os realmente importantes. Vê as partidas da Argentina em Copa do Mundo, claro, e se interessa por aqueles vídeos que compilam os melhores momentos dos melhores jogadores de todos os tempos. E isso é tudo. Nem time ele tem. Mas para alguém com tão pouco interesse num dos esportes mais populares do planeta, até que ele ficou envolvido com isso nos últimos anos.
Campanella, hoje com 62 anos, já era um diretor reconhecido e premiado, responsável por filmes como O Segredo dos Seus Olhos (2009), vencedor do Oscar de melhor filme internacional, e O Filho da Noiva (2001), quando fez sua primeira animação: Um Time Show de Bola (Metegol, 2013). Na história, Amadeo, um garoto fanático por pebolim, é desafiado em uma partida por outro garoto – que volta anos depois de sua derrota para destruir a mesa, os jogadores e tudo ao seu redor. Os bonequinhos acabam ganhando vida e começa aí uma aventura. E começa também uma aventura para Campanella que, por causa desse longa de animação, criou o estúdio Mondoloco CGI.
Hoje, quase 10 anos depois da chegada do filme aos cinemas (está disponível na Amazon Prime Video e YouTube Filmes), alguns dos jogadores retornam em uma nova série de animação que acaba de estrear no Discovery+: Underdogs United.
Esta é a segunda produção do estúdio de Campanella que o Discovery Kids traz ao País, mas, desta vez, exclusivamente para o streaming – a primeira foi Mini Beat Power Rockers, sucesso entre crianças pequenas.
Underdogs United também é para crianças menores, diferentemente do filme que o inspirou, que tinha um humor mais maduro, na opinião do diretor, e podia ser compreendido bem por espectadores em seus 11, 12 anos. Não se trata de uma continuação de Um Time Show de Bola que, por sua vez, é uma adaptação do conto Memorias de Un Wing Derecho, de Roberto Fontonarrosa (1944-2007).
EM CAMPO
Na nova série os personagens vivem em Sportsville, um mundo paralelo bem embaixo da mesa de pebolim. Capi, Beto e Kiko (o Loco, do original, mas agora com um nome mais universal) são mais jovens do que no filme. Ao lado deles estão duas novas jogadoras, Emma e Gigi. Há também um vilão, Waldoberto Worst, um ursinho daquelas máquinas de parque de diversão que as crianças nunca conseguem pegar. Sua missão é fazer com que todos sejam sedentários como ele.
Em entrevista ao Estadão, Campanella explicou seus personagens. “Os meninos são basicamente os mesmos do filme, mas agora são adolescentes. São todos muito qualificados. Kiko é um cara que fala ‘grandes verdades’ em cada frase, sempre busca o lado filosófico da vida. Beto é o maior jogador do mundo. Se Maradona, Messi e Pelé tivessem um filho, ainda não seria bom como Beto. E ele não quer apenas ganhar, mas ser aquele que faz todo mundo ganhar. Capi é a voz da razão. Ele tenta manter todos juntos sempre, é sábio e realista e tem os pés no chão. A Gigi é um poço de energia e muita madura. E Emma também é madura e inteligente, mas é muito rígida com as regras e não tem a elasticidade para mudar. Quando as coisas não saem do seu jeito, ela se deprime. É perfeccionista.”
A ideia foi fazer algo divertido e sem grandes lições. “Não queremos dizer às crianças o que elas têm que fazer ou ensinar nada. Queremos apenas mostrar, por meio de histórias engraçadas, que estar unido e trabalhar como um time é muito importante”, comenta. “Também gostaríamos que elas assistissem ao desenho, mas que também sentissem vontade de sair, fazer esportes e ter uma vida saudável. Isso é muito importante.”
Underdogs United tem 52 episódios de 11 minutos. Os oito primeiros já estão na plataforma. Outros sete entram em 13 de março. E haverá lançamentos em maio, julho e setembro.
PROJETOS
Diretor, ainda, de alguns episódios de Law & Order SVU (incluindo o 500º, inédito) e da nova série Los Enviados (Paramount +), Campanella tem um carinho especial pela animação. “A coisa mais excitante que dirigi na minha carreira foi a partida final de Um Time Show de Bola”, ele conta. “A animação nos dá a chance de fazer coisas que não podemos fazer em live-action e não só porque os personagens podem se dobrar ou cair e fazer coisas assim, mas é como poesia: as regras da realidade estão quebradas e você tem mais liberdade ao contar a história. Gosto muito disso.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.