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Lazer e CulturaErika Verzutti quer reaver cores sequestradas por Bolsonaro e seus apoiadores

Erika Verzutti quer reaver cores sequestradas por Bolsonaro e seus apoiadores

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Erika Verzutti gosta de imaginar que suas obras reunidas numa nova exposição no Masp se encontraram para uma festa. E a festa se dá com uma série de símbolos conhecidos por quase todos nós –são jacas, carambolas, abóboras e ovos espalhados pelo subsolo do museu.

Mas essa familiaridade logo se desestabiliza nas próprias peças, que evocam um certo aspecto de bestas animadas. A casca de um abacaxi se revela uma tartaruga, apoiada em quatro patas. Quiabos e pincéis se transformam em patas de uma aranha firme e de pé. As esculturas de jacas, na proporção real da fruta, recebem cortes exatos e transitam entre o orgânico e a preciosidade de um mineral.

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Setenta e nove trabalhos da artista, feitos de 2003 para cá, compõem “Erika Verzutti: A Indisciplina da Escultura”, mostra que faz parte da programação sobre histórias brasileiras do museu. É também a primeira exposição de Verzutti, que já teve individuais em lugares como o Pompidou, em Paris, numa instituição brasileira de peso.

A artista, de 50 anos, diz que, apesar de ser um evento cheio de entusiasmo expor no Masp, não é fácil

sentir felicidade no Brasil de hoje, que “está morrendo com a pandemia e a fome”.

“A exposição está no subsolo do museu enquanto, no nível da rua, o Masp é o ponto de encontro e o ícone das manifestações populares”, diz.

Mesmo não sendo uma retrospectiva, afirma André Mesquita, à frente da curadoria com Adriano Pedrosa, a mostra abarca séries centrais do trabalho da artista, com esculturas e relevos de parede.

As ironias, o humor e o erotismo das obras de Verzutti, no entanto, estão agora conjugadas com uma inquietação política. “Esperança Equilibrista”, do ano passado, por exemplo, é uma referência à música “O Bêbado e a Equilibrista”. A canção, que foi relacionada aos exilados durante o regime militar, é evocada nessa escultura de parede com um centro crepuscular, circular como os discos.

Uma coluna recente de Djamila Ribeiro, que refletia neste jornal sobre a branquitude no contexto do assassinato de George Floyd, motivou a obra “A Era da Inocência Acabou”, em que pintou a capa do diário com a manchete “Vacina e Impeachment”, cercada por uma borda dourada.

“No último ano, minha visão sobre a arte passou por muita mudança. A vida toda acreditei e defendi que a arte operava num lugar à parte, ouso dizer ‘acima’ dos acontecimentos da sociedade com necessário distanciamento para refletir sobre os fatos”, afirma.

“‘Picasso não foi para a guerra’, eu pensava, ficou e pintou. Hoje, acho que esse distanciamento é muito permeável, que temos que ir para a guerra, pintar e fazer tudo o que pudermos para ajudar.”

A expressão máxima dessa conexão com a crise política do Brasil talvez esteja em “Torre de Cacau”, que é exposta pela primeira vez. A escultura de bronze, com frutos de cacau empilhados, parece fazer jorrar de seu topo um suco das cores verde e amarela.

As tintas saem num tom claro, pálido, “numa tentativa de recuperar os símbolos nacionais hoje sequestrados por apoiadores de Bolsonaro”.

Isso surge em meio a uma preocupação da artista com “a apropriação da camisa de futebol do Brasil como apoio ao governo autoritário”.

Essa torre também retoma a coluna infinita de Brancusi, operação já usada pela artista em outras esculturas mais altas que estão na mostra. Ela trava, constantemente, diálogos com outros artistas –e faz da mostra também um passeio pela história da arte.

Um dos sete núcleos, “Sob o Sol de Tarsila (E Outras Histórias)”, costura peças que tornam tridimensional a figura vegetal da pintura “O Sol Poente”, de 1929. Ela é acompanhada, em peças diferentes, por uma laranja, um ovo e até por uma bola de vidro que lembra as do artista americano Jeff Koons.

“Erika Verzutti dialoga com vários artistas, entre eles, Maria Martins”, diz André Mesquita. Isso acontece no “Beijo” e em “Maria”, exemplifica o curador. Martins também terá mostra no Masp neste ano.

Ele afirma que o trabalho de Verzutti já circula no Brasil e internacionalmente, mas que essa mostra no Masp retoma a própria formação da artista, que diz que boa parte de seu desenvolvimento se deu a partir de visitas aos museus.

“A gente está apresentando as obras para um público ainda maior”, diz o curador. Público que, segundo ele, agora pode criar novas conexões entre as esculturas e a fauna, a flora, a história da arte, e o que mais é possível ver nessa composição indisciplinada.

ERIKA VERZUTTI: A INDISCIPLINA DA ESCULTURA

Quando: De 2/7 a 28/11. Ter: 10h às 18h. Qua. a sex.: 12h às 18h. Sáb. e dom.: 10h às 18h

Onde: Masp – av. Paulista, 1.578

Preço: Ingressos em masp.org.br/ingressos

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