SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma viagem no tempo para conhecer momentos da história da população afro-brasileira. Assim a “Expo da Consciência Negra” pretende abordar aspectos da trajetória da população negra, como a vinda forçada do continente africano para o país.
A exposição, organizada pela Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo com execução da SpTuris, faz parte do projeto São Paulo Farol de Combate ao Racismo Estrutural, que, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, visa o combate ao preconceito racial desde a primeira infância, com foco na capacitação de professores da rede pública.
Se na sala de aula os professores irão analisar e investigar como o preconceito se manifesta na educação, fora dela, os paulistanos que forem à exposição viverão uma experiência multissensorial, com base nos conceitos da cultura e da história afro-brasileira ensinados nas escolas municipais.
A mostra pretende recuperar a trajetória afro-brasileira a partir de uma narrativa em que a população negra seja a protagonista e que tenha foco nas suas lutas por emancipação e equidade. Além disso, quer promover conhecimento ao colocar estudantes e o público paulistano em contato com a história desta população.
A expo será dividida nas áreas de educação, saúde, mulher negra, cultura e empreendedorismo e tecnologia, distribuídas em grandes alamedas tecnológicas com elementos do Carnaval brasileiro.
Além disso, contará com apresentações e palestras de personalidades estrangeiras e visa também estimular a visibilidade de países africanos como possíveis parceiros econômicos.
No último dia, haverá um seminário fechado para explorar possibilidades de negócios entre o Brasil e a África, embora a prefeitura ainda não vislumbre nenhuma negociação.
A inauguração da exposição será em 19 de novembro e o evento tomará 10 mil metros quadrados do Pavilhão 10 do Anhembi. O responsável pelo conceito artístico da expo é o carnavaleso André Rodrigues, e a expectativa é que cerca de 5.000 pessoas visitem o local por dia.
A iniciativa teve início enquanto Bruno Covas (PSDB) estava à frente da prefeitura e, após sua morte, teve a aprovação do prefeito Ricardo Nunes (PSDB), conta a secretária de Relações Internacionais e ex-prefeita da cidade Marta Suplicy.
Idealizadora da ação, a secretária explica que o objetivo inicial foi colocar São Paulo como uma referência no combate ao racismo. Para isso, a gestão municipal buscou dar visibilidade à população negra e à sua contribuição para a formação do país.
“A Expo quer resgatar a autoestima do negro através desta exposição que vai abarcar várias alamedas, com vários temas, mostrando o que os negros fizeram no Brasil, e mostrando muito da cultura negra”, diz. “A marca da cultura africana está na culinária, na cultura, e tem que ser reconhecida.”
Ao mesmo tempo, explica Marta Suplicy, a exposição quer abordar os processos históricos que levaram a população negra aos piores índices de desenvolvimento no Brasil, como o momento após a abolição da escravatura, em que não houve políticas de desenvolvimento social e econômico voltadas para os negros.
Como parte da proposta educacional na rede de ensino municipal, as escolas terão um dia reservado para visitar a exposição. Essa parte do projeto busca deixar um legado para a cidade combatendo o racismo desde o momento em que a criança começa a criar as primeiras percepções, explica a secretária.
“Quantas meninas [negras] não poderiam estar lá e não estão porque não tem oportunidade? Isso eu digo em todos os campos científicos onde o negro não participa. Quando participa, é muito difícil chegar a um cargo de chefia. Isso está mudando rapidamente no Brasil. Mas, se você começar a trabalhar as crianças e os professores principalmente para quebrar essa cadeia, você cria uma cadeia de movimento.”
Assim como a visita à exposição, as atividades principais do projeto São Paulo Farol de Combate ao Racismo Estrutural serão extracurriculares e haverá um foco na capacitação dos professores para que possam aplicar a Lei 10.639 de 2003, que instituiu o ensino da cultura e da história africana e afro-brasileira nas escolas.
O projeto será implementado a partir da diretorias regionais de ensino e das unidades escolares municipais, tendo a Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Nelson Mandela como modelo.
A instituição foi escolhida por seu projeto pedagógico, que promove a inclusão da história da cultura afro-brasileira no currículo escolar, tendo por isso se tornado alvo de ataques.
Antes de ganhar o nome do ex-presidente da África do Sul que lutou contra a segregação racial, a escola se chamava Emei Guia Lopes, em homenagem a um general que lutou na guerra do Paraguai. Em 2011, devido aos seus projetos com temáticas étnico-raciais, a escola teve o seu muro pintado com a frase: “Vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas”, seguida da imagem de uma suástica.
Apesar disso, as aulas sobre o tema continuaram e ganharam força. Em 2016, após um abaixo-assinado, a alteração do nome foi acolhida pela Prefeitura de São Paulo, durante a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
“Nosso trabalho possibilita a abordagem do tema racial com as crianças e, a partir dele, o debate de várias outras questões para a valorização das diferenças. Muitos dos alunos chegam tímidos, mas ao longo do tempo ficam empoderados e se reconhecem como parte da sociedade, multiplicam isso”, conta a diretora da instituição, Roseli Rodrigues da Silva.
As ações do projeto se inspiram nas atividades implementadas na Emei Nelson Mandela. Os resultados do programa só serão divulgados em novembro de 2023. A avaliação será paralela às atividades de formação.
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EXPO DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Quando: Abertura em 19 de novembro para autoridades e convidados, 20 e 21 de novembro, para o público, e 22 de novembro, para visitações escolares
Onde: Pavilhão 10 do Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, São Paulo)
Preço: Gratuito
Protocolo contra Covid-19: As visitas serão realizadas mediante agendamento. Será obrigatório o uso de máscara e distanciamento social. Outras medidas específicas para eventos deste porte serão determinadas no local.