Uma série de faroeste, um filme de terror sobre bruxas eslavas, um curta-metragem sobre uma artista de rua e um thriller em finalização sobre um jogo de assassinos: esse é o roteiro só do primeiro semestre da sueca Noomi Rapace, uma das atrizes mais requisitadas da Europa desde 2009, quando ultrapassou as fronteiras audiovisuais da Escandinávia no papel da hacker Lisbeth Salander. Antes da refilmagem do livro Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, feita em 2012, por David Fincher, com Rooney Mara, Noomi foi a encarnação da anti-heroína da série de best-sellers de Stieg Larsson (1954-2004), conquistando prestígio mundial.
Hollywood lhe abriu as portas via Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (2011) e cineastas como Brian De Palma e Ridley Scott lhe confiaram as protagonistas de Paixão e Prometheus. Emplacou ainda uma participação na série Jack Ryan. Mas há uma pequenina produção islandesa, revelada ano passado em Cannes (Prêmio de Originalidade, na mostra Un Certain Regard), que vem repaginando a carreira da atriz: o horror Lamb. O assustador longa de Valdimar Jóhannsson já está disponível nas plataformas digitais via Mubi narrando uma exótica história de maternidade envolvendo uma mulher e um cordeiro.
“Cresci numa região rural de Hudiksvall, no campo, cercada de animais, minha companhia mais fiel. Havia muitas ovelhas na fazendinha onde cresci e eu me lembro do prazer de alimentá-las, como se fossem parte da família. Era como se a natureza fosse uma experiência religiosa”, disse Noomi ao Estadão via Zoom.
Seu desempenho em Lamb garantiu o prêmio de melhor atriz no Festival de Sitges, o mais prestigiado do cinema fantástico, celebrado anualmente na Espanha. O longa foi ainda escolhido como melhor produção, além do Prêmio Cidadão Kane de Direção Revelação, dado a Jóhannsson. Sua sombria narrativa acompanha rotina de um casal, Maria (Noomi) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason), que vive isolado em uma remota fazenda na Islândia. Perturbados por uma perda recente, eles têm a rotina abalada pela descoberta de uma misteriosa criatura recém-nascida entre as suas ovelhas.
“É uma fábula sobre o fato de a natureza sempre ser capaz de nos devorar”, disse Jóhannsson ao Estadão. “Fiquei feliz com a vitória de Titane na disputa pela Palma de Ouro no mesmo Festival de Cannes em que estreamos, pois foi uma celebração do filme de gênero, do olhar para o mistério.”
Silêncio
Estreante na direção de longas, com experiência em equipes técnicas de fotografia, Jóhannsson escalou Noomi pelo que a atriz simboliza para ao audiovisual da Escandinávia e pelo que classifica como “uma habilidade singular de moldar o silêncio”.
“A quietude é o maior presente que o cinema pode oferecer nestes tempos em que todo mundo tenta falar e se fazer ouvir. Em um filme, é a quietude que dá a medida do espaço físico e a dimensão real do abismo interior de uma personagem como Maria, que se abre ao estranho, ao desconhecido”, diz Noomi, que será vista este ano ao lado do belga Matthias Schoenaerts na série de western Django, homônima do longa de Sergio Cobucci.