BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Os músicos Zé Renato e Lourenço Baeta deixaram o quarteto vocal Boca Livre depois de relatar divergências políticas com Maurício Maestro. O anúncio foi feito no sábado (16) pela empresária e produtora do grupo carioca, Memeca Moschkovich, numa rede social. Ela também comunicou que não gerencia mais as atividades do conjunto fundado em 1978.
Segundo Zé Renato, os desentendimentos com Maestro já vinham acontecendo há alguns anos, mas chegaram ao limite após uma discussão sobre vacinação.
“A gente estava conversando no WhatsApp sobre uma gravação que fomos convidados a fazer. Eu falei que toparia ir para o estúdio depois de tomar a vacina e ele [Maestro] disse que não iria se vacinar”, conta. “Para mim, ali foi o momento de perceber que a minha presença no Boca Livre não faria mais sentido.”
Nas redes sociais, Maestro costuma compartilhar conteúdos de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Entre as últimas publicações, há um vídeo do blogueiro Allan dos Santos, que é investigado no inquérito da fake news no Supremo Tribunal Federal, e outro de Olavo de Carvalho, considerado um guru dos bolsonaristas.
Procurado, Maestro disse que não comentaria a decisão dos músicos. “A saída foi deles, por vontade própria, e não por minha vontade”, afirmou o músico.
Segundo Zé Renato, a questão não se resume a uma simples divergência ideológica. “Eu não tenho filiação partidária e não tenho problema nenhum em ter pessoas ao meu lado que pensam diferente, contanto que sejam abertas ao diálogo”, disse o cantor. “É uma decisão política, mas vai além disso. É uma questão humanitária”, acrescentou.
É o que também pensa o músico Lourenço Baeta, que deixou o quarteto pelos mesmos motivos de Zé Renato. Segundo ele, é possível conviver com uma pessoa que pensa diferente, o problema é quando isso começa a interferir em posições mais difíceis de serem aceitas, como é o caso da vacina.
Baeta diz que as diferenças políticas também estavam impactando a sintonia do grupo e comprometendo o resultado musical. “Com um clima difícil, se perde o que é necessário para criar. É preciso estar junto, ter harmonia, e, quando há muita divergência, fica difícil”, afirma.
Criado em 1978, o quarteto alcançou projeção nacional com o álbum “Boca Livre”, de 1979, que misturava influências de música caipira, rock rural, bossa nova e do Clube da Esquina. Lançado longe do apoio das grandes gravadoras, o disco fez sucesso em todo o Brasil com as músicas “Toada (Na Direção do Dia)” e “Quem Tem a Viola”.
Formado originalmente por Maurício Maestro, David Tygel, Zé Renato e Claudio Nucci, o Boca Livre mudou sua formação em 1980, com a substituição de Nucci por Lourenço Baeta. Depois de 40 anos de carreira, o grupo –que ganhou notoriedade pela harmonia vocal entre os integrantes -perde duas vozes importantes e segue apenas com Maestro e Tygel.
Sobre os projetos para 2021, Zé Renato diz que vai lançar dois trabalhos que já vinham sendo produzidos em paralelo à sua carreira no Boca Livre. O primeiro será um disco gravado ao vivo em 2004, com um repertório de Orlando Silva. O outro será um álbum infantil chamado “Água para as Crianças”, feito com crianças do complexo da Maré, no Rio de Janeiro, e com participação de Lenine, Pedro Luís, entre outros artistas.
Já Lourenço Baeta disse que vai dar um tempo na carreira para entender qual caminho seguir. “Vou estar junto da música, mas não sei exatamente em qual atalho vou entrar. Se tiver que ir para alguma picada, eu quero a do braço primeiro”, disse.
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Grupo Boca Livre racha depois de discussão sobre vacina contra coronavírus
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