SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por volta das 19h40, quando começa a novela “Salve-se Quem Puder” na Globo, Heleno, filho de 1 ano de João Baldasserini, 37, está a todo vapor, correndo para lá e para cá na casa da família em Indaiatuba, no interior de São Paulo.
Intérprete do caipira Zezinho na trama escrita por Daniel Ortiz, o ator procura chamar a atenção do menino, mostrando que ele está ali na televisão e também ao seu lado. “Ele olha para TV e olha para mim, olha para TV e olha para mim. Eu fico pensando: o que será que se passa na cabecinha dele?”
Apesar da loucura que é muitas vezes ter uma criança pequena, Heleno é também um dos principais responsáveis pelo momento de serenidade e equilíbrio que Baldasserini afirma estar vivendo. É mais do que isso, segundo destaca o ator.
“É uma coisa de enfrentamento. Ele me dá coragem para amar, para viver”, enfatiza. “Antes, eu tinha alguns complexos em relação ao amor, medo de me envolver muito e ser rejeitado. E com o meu filho, eu não tenho preocupação nenhuma em amar, é muito bom.”
“É realmente o sentimento mais nobre que eu venho sentindo. Tenho falado isso para a minha mulher [ Érica Lopes], em como é fácil, gostoso e leve amar um filho”, complementa. O ator diz até que o casal já pensa na possibilidade de aumentar a família. “Acho que é legal um irmão ou uma irmãzinha sim”, diz.
Mas não é só Heleno o responsável pela serenidade de Baldasserini. “Eu faço terapia e tem me feito muito bem. Gosto muito”, ressalta.
Aliás, uma das suas motivações para fazer análise é encontrar algo que Zezinho, o seu personagem em “Salve-se”, tem de sobra: uma pureza e uma leveza ao encarar a vida. “Eu faço terapia para isso, para descobrir a minha leveza, para me conectar comigo mesmo, ser honesto comigo”, afirma.
Baldasserini diz se identificar também com a simplicidade e a transparência do caipira. Outro aspecto em comum entre eles é o fato de ambos serem pessoas do interior -o ator foi criado em Indaiatuba, onde mora atualmente. “Não sou da roça como o Zezinho, mas carrego esse ritmo de cidade do interior, que eu gosto.”
Já o sotaque carregado do personagem foi um dos desafios para ele na fase de composição do papel, quando teve de mostrar a sua proposta em uma leitura para 20 pessoas. “Eu sempre tive vontade de fazer um caipira. Não foi difícil, mas tive que criar coragem e me expor, me arriscar ali na frente de todo o mundo.”
“Deu certo, eles gostaram do tom que eu trouxe. Dali para a frente foi uma brincadeira.” O ator pondera, por outro lado, que Zezinho é um personagem que pode cair facilmente em um estereótipo e “ficar muito desenho animado”. “Eu tinha sempre que recuar para humanizar ele. Eu tinha que estar sempre muito conectado comigo também para não deixá-lo histriônico, exagerado.”
Baldasserini relata que uma das suas inspirações para fazer o caipira foi Petruchio, o machão rude, mas muito engraçado e bondoso vivido por Eduardo Moscovis em “O Cravo e a Rosa” (Globo, 2000-2001).
“Eu assisti a essa novela quando passou a primeira vez, quando reprisou… até hoje se passar, eu assisto de novo. Acho que o Eduardo Moscovis fez de uma maneira muito carismática. Ele foi uma referência para mim”, declara.
Interrompida por causa da pandemia, as gravações de “Salve-se” voltaram em agosto do ano passado com uma série de restrições como as cenas de beijo em que os atores não se encostavam, já que estavam separados por um acrílico. “É um ângulo da câmara, porque eu beijava o ar e virava a cabeça, e a Deborah [Secco, intérprete da Alexia, seu par na trama], virara para o outro lado. Assim, a gente ia fazendo. E de olho fechado. Sabe aquela coisa que quem está assistindo fala: nossa, que vergonha, coitados”, relata.
Mas, para ele, o importante era contar a história. “Como ator, a gente tem que ter essa disposição. É como contar uma piada, você corre o risco de as pessoas não rirem. O ator está sempre correndo o risco de fazer algo e não agradar.”
Cenas de beijos gravados desta forma já foram para o ar, e João Baldasserini admite que não fica igual. “Mas não ficou falso não, é crível… ficou bem feito”, afirma. “Falei para minha mulher: ‘amor, ali ó, não teve boca com boca não, fica tranquila”, diz, aos risos.
O que muita gente quer saber é se, afinal, Zezinho e Alexia terminam juntos. O ator gargalha ao ser questionado sobre o assunto. “Ele tem um final muito bonito, posso dizer isso, mas se ele vai terminar com a Alexia é uma surpresa.”
TRÊS NOVELAS NA SEQUÊNCIA
“Salve-se Quem Puder” chega ao fim no dia 16 de julho, mas João Baldasserini segue no horário das 19h na Globo. Ele também está em “Pega Pega” (2017-2018), trama que será reprisada na faixa enquanto não estreia a inédita “Quanto Mais Vida Melhor”.
Na história escrita por Cláudia Souto, o ator é Agnaldo, um tipo bem diferente do caipira Zezinho. Recepcionista do Carioca Palace, ele é comunicativo e engraçado. Apaixonado pela camareira Sandra Helena (Nanda Costa), ele será convencido por ela a participar do roubo ao hotel de luxo em que trabalham e ponto inicial do enredo.
“É uma novela que conta de uma realidade que nosso país vem passando há muito tempo, que é essa bandidagem, muito roubo [e corrupção]. Tem um momento da trama, mais para para o fim, que cerca de metade do elenco está na cadeia”, relembra.
Baldasserini diz torcer para que o mesmo aconteça na vida real e que as pessoas responsáveis pelo que o Brasil está enfrentando sejam punidas. “Estou falando da CPI da Covid.” E o presidente Jair Bolsonaro [presidente] também?, questiona esta repórter. “Principalmente o presidente. Eu acho que ele, como chefe de Estado, era para ser a nossa referência, o nosso exemplo, e não foi bem isso o que aconteceu. Nenhum exemplo bom partiu dele”, diz.
Além das duas novelas, o ator também estava em “Haja Coração”, de 2016, reapresentada entre outubro de 2020 e março deste ano, antes do retorno de “Salve-se”. Baldasserini e Mariana Ximenes chegaram até a gravar, durante a pandemia, um novo final, em que Tancinha, papel da atriz, termina com Beto, personagem interpretado por ele.
No final da reprise, porém, a direção da Globo desistiu de exibir a novidade, e a mocinha ficou com Apolo (Malvino Salvador) mesmo. O ator admite ter ficado frustrado e chateado pelos fãs do casal. “Mas super entendi que não podia ser. É uma pena, vamos ver se numa próxima reprise, daqui uns bons anos, o Beto fica com a Tancinha”, afirma.
Indagado sobre estar em três novelas na sequência, Baldasserini afirma ficar feliz por seguir no ar e não ser esquecido, mas ressalva que tem um certo receio de que essa superexposição possa prejudicar a sua escalação em novos trabalhos. “Espero que isso não aconteça”.
Contratado por obra na Globo, o ator afirma que está gravando um novo projeto para um canal fechado, mas que ainda não pode dar detalhes. Ele só adianta que o trabalho não tem esse tom de comédia de “Salve-se”, “Pega Pega” e “Haja Coração”.
“Estou muito feliz de poder retomar a fazer drama”, diz. Além do momento especial na vida pessoal, Baldasserini afirma que tem feito também muitos testes para filmes e séries. “Vejo coisas novas e boas se abrindo”, finaliza.