SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “É como quando uma mulher sai à noite e põe batom, blush e uma roupa bonita: ela é aquela pessoa, mas também não é”, diz Gene Simmons, 71, sobre a tradicional caracterização da banda Kiss, da qual é baixista e vocalista. “As pessoas ainda querem saber como ela é depois que tira a maquiagem e surge a pessoa real ali embaixo.”
Um dos líderes do grupo de heavy metal, ela afirma que é isso que as pessoas vão assistir em “Kisstory”, documentário de 4 horas, que será exibido em duas partes pelo canal pago A&E. A primeira parte estreia neste sábado (21), às 22h30, enquanto a sequência vai passar no domingo (22), no mesmo horário.
São 50 anos de trajetória passados a limpo na frente da tela. “Não é adoçado nem floreado, queríamos que mostrasse que, assim como em qualquer jornada que dura algum tempo, vai haver muitos buracos na estrada”, compara o músico. “É como a vida, tem as partes boas e as partes ruins, mas estamos muito orgulhosos da honestidade dessa história.”
Ele lembra que os integrantes do grupo, na ativa desde 1973, se tornaram mais que colegas. “Começou como uma banda, mas virou uma família”, afirma. “É fácil gostar da família em que você nasceu, porque tem os laços de sangue, mas o Kiss, assim como a maior parte das famílias, teve suas brigas.”
O baterista Peter Criss e o guitarrista Ace Frehley, da formação mais conhecida do quarteto, por exemplo, não quiseram participar do filme. Eles são mostrados por meio de material de aquivo. Mesmo assim, o cantor contemporiza: “Eles sempre serão da família, sem eles não estaríamos aqui”.
Já o guitarrista e vocalista Paul Stanley gravou depoimento e também narra o filme junto com Simmons. Ambos, junto com Eric Singer e Tommy Thayer, acabam de retomar a turnê de despedida da banda, que precisou ser interrompida e agora deve durar até 2022 -com passagem prevista pelo Brasil para abril.
“O mundo ainda não está a salvo, mas já está melhor do que em outros momentos da pandemia”, avalia. “Vamos ser muito cuidadosos, com a equipe toda usando máscaras e todo mundo lavando as mãos a cada 30 segundos. Também pedimos a todo mundo que vai aos shows que, por favor, se vacine.”
Ele aproveita para falar da situação do Brasil e dar um conselho aos fãs do país. “Sei que o grande problema no Brasil é que a política está atravessando o caminho da ciência”, lamenta. “Tem pessoas morrendo e isso é muito sério. Vacinem-se com as duas doses, não só por vocês mesmos, mas pelas outras pessoas que podem morrer. Políticos são idiotas, ouçam os cientistas e os médicos, por favor.”
O país, aliás, está na lista dos preferidos dele para tocar, desde o show histórico feito no Maracanã, no Rio, nos anos 1980. “Lembro de ficar olhando para aquele estádio, que era um dos maiores do mundo, e não entender direito quantas pessoas havia ali”, conta. “Se eu pudesse reviver algo, gostaria de tocar no Maracanã todas as noites.”
Porém, seja no Maracanã ou em qualquer outro local, Simmons afirma que a banda sempre dá o máximo para fazer que a noite seja inesquecível para os fãs. “Espero que as pessoas esqueçam dos próprios problemas quando estão no nosso show, é como quando você vai à igreja e deixa tudo do lado de fora, o trânsito, a namorada que está te ferrando”, brinca. “Esperamos que seja uma hora mágica e sempre tocamos para fazer jus à forma como nos apresentamos no palco: ‘Vocês queriam a melhor, vocês conseguiram. Com vocês, a banda mais legal do mundo’.”
O músico já está se preparando para a aposentadoria e imagina como será o último show. “Sei que vou chorar como uma garotinha de 12 anos que teve seu coração partido”, adianta. “Tem sido uma trajetória incrível para nós e não mudaria nada nela.”
Apesar disso, ele diz que ainda poderá se apresentar nos palcos com a própria banda. Qual o segredo de tanta vitalidade? “Você tem que fazer exercícios quase todos os dias e parar de comer bolo”, revela. “Eu amo bolo é biscoitos, esse é o meu maior problema (risos).”
O roqueiro também recomenda “não beber, não usar drogas e não fumar cigarros”, dos quais afirma nunca ter sido usuário. “Tem tanta gente morrendo jovem por causa dessas besteiras no corpo”, reclama. “Meu único vício é meu ego, sei disso e é algo que tento controlar. Sou filho único e quando você só tem a si próprio para brincar, é fácil esquecer que tudo é melhor quando feito em equipe. Sem meus colegas, eu não estaria aqui.”