Tom é um pai de primeira viagem, que não sabe lidar com o nascimento da filha. Pior: ele acredita que sua mulher, Elisa, é exigente demais, especialmente quando critica a vontade dele de jogar futebol logo no período após o parto. “Passei pela mesma experiência ao não focar na divisão de tarefas quando nasceu meu primeiro filho, João Vicente”, conta Lázaro Ramos, que vive Tom em Papai é Pop, longa que chega nesta quinta, 11, aos cinemas.
O desejo de estrelar um filme sobre a paternidade era antigo, segundo o ator, que se encantou com o convite do diretor Caíto Ortiz para o projeto inspirado no livro de Marcos Piangers. “É um tema desafiador e permite mostrar situações que o público reconhece com facilidade, se identifica, frases que a gente já ouviu e já disse.”
Lázaro reconhece que se apoiou em histórias próprias para criar as ações de Tom. “Logo que soube que seria pai, organizei tudo: qual seria a escola, a melhor forma de dar banho, mas me sentia frio em relação à paternidade. Quando João nasceu, veio uma emoção que desordenou tudo o que o racional tinha proposto. Passei a ter medo de tudo, de não saber educar, fiquei tão nervoso que cheguei a deslocar uma vértebra. Os erros apareceram em algum momento, em medidas diferentes. Durante o filme me lembrei muito disso.”
O ator se lembra ainda de que organizou um grupo no WhatsApp com amigos que também viviam a expectativa da paternidade, a fim de trocarem conselhos. “Mas, se a conversa começava no assunto principal, logo era desviada para futebol, trabalho”, conta ele, que encontrou espaço para discutir sobre ser pai a partir da atuação. “Fui muito severo comigo mesmo e até com meus filhos, impondo os limites que eu julgava prudentes.”
O filme trata desse assunto, mas com leveza – a comédia é o caminho ideal para falar de discussões espinhosas como abandono parental, crises conjugais e adoção. Lázaro conta que se assustou ao descobrir os dados alarmantes de ausência e abandono paternos no País, que pulou de 5 milhões para 11 milhões de pais que não registraram seus filhos, entre 2018 a 2020. “As obras precisam dialogar com seu tempo e o longa chega a esse ponto por meio da comédia, da suavidade, pois é um assunto que geralmente incomoda, mas que precisa ser discutido. Já até me dispus a fazer uma continuação”, brinca o ator.
O humor, de fato, é essencial para tratar de temas delicados como racismo e crítica social – em uma cena, quando precisa ir rapidamente ao hospital, Tom tenta pegar um táxi, mas não consegue logo de cara. Em seguida, ela pede a Deus para que ninguém o veja como homem negro, pelo menos naquele momento.
RAÇA
O enredo trata também como natural um detalhe que ainda gera discussões infundadas: o casal inter-racial. Tom é casado com Elisa, vivida pela atriz Paolla Oliveira. “Com esse casal, a trama ganha outra camada, pois estimula o debate sobre essa formação de família”, observa Lázaro, que já havia passado por essa experiência em O Homem que Copiava, filme de 2003 de Jorge Furtado, em que ele vive um rapaz que se apaixona pela vizinha, interpretada por Leandra Leal.
Outro aspecto importante apresentado na história é a mãe de Tom, Gladys (vivida por Elisa Lucinda), que, por ter criado o filho sozinha, lhe dá conselhos importantes sobre paternidade. “Quando eu engravidei, pensei: ‘Quero ter um filho homem e criá-lo para saber amar uma mulher'”, contou Elisa, na entrevista coletiva concedida pelo elenco na semana passada.
E, embora a paternidade seja o foco principal, os problemas vividos pela personagem de Paolla Oliveira não ficam para trás. Afinal, Elisa vive a obrigação de se dedicar integralmente à criança, pressão que sofre da mãe, dos amigos, de si mesma. “Para construir essa personagem, fui atrás de mães que eu conheço, do meu instinto maternal, do afeto dentro da família. Trabalhei a reconstrução familiar, tudo isso me fez chegar a essa personagem”, disse a atriz, que ainda não vivenciou a maternidade.
FIGURA DO PAI
A riqueza de assuntos se entrelaça para mostrar como a transformação de Tom afeta não apenas a sua própria vida, mas de toda a família. “É a primeira vez que um filme nacional posiciona a figura do pai nesse lugar. Não estamos falando do homem que abandona a família e desaparece, tampouco do pai super-herói, sem uma trajetória da construção da paternidade. Por meio do afeto, a trama convoca para uma responsabilidade que é nossa, que muitos homens fazem questão de não encarar”, acredita Lázaro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.