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Lazer e CulturaPedro Bial lembra início de amizade com Ariano Suassuna após entrevista

Pedro Bial lembra início de amizade com Ariano Suassuna após entrevista

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Não existe progresso na arte”. O dono da frase é o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna (1927-2014), um dos escritores mais populares do país. Em 1997, em entrevista para o jornalista Pedro Bial, no programa Espaço Aberto Literatura, na GloboNews, o autor de “Auto da Compadecida” explica que, na visão dele, o conceito de progresso faz sentido quando se trata de tecnologia ou ciência.

“Um cirurgião do século 20 sabe mais do que um cirurgião do século 17. Mas no campo da arte isso não é verdade. Seria até bom para mim que eu, por ser um escritor do século 20, escrevesse melhor do que o [Miguel de] Cervantes, que é do século 17, mas isso não acontece não, infelizmente”, diz ele, aos risos.

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“No meu entender, em arte não existe progresso. Existem variações, flutuações, diferenças”, complementa.

A partir de segunda (21), toda essa conversa entre Bial e Suassuna estará disponível no Globoplay — também para não assinantes. A iniciativa faz parte das comemorações dos 25 anos da GloboNews, que acontece em outubro.

Mas, desde o dia 7 de junho, entrevistas marcantes exibidas ao longo dos anos pelo canal de notícias da Globo são disponibilizas na plataforma de streaming. Serão ao todo 25 entrevistas com nomes como Bill Gates, Oscar Niemeyer, Fernanda Montenegro, Dorival Caymmi, Dalai Lama, Jô Soares e outros.

No caso de Suassuna, a conversa com Bial marcou o início de uma amizade entre eles, segundo lembra o jornalista. “Desde o encontro para essa entrevista, passamos a ter um contato mais regular e ele sempre foi extremamente generoso e com aquela inteligência transbordante. Ariano sempre foi um homem muito amigo, muito afetuoso, e, por isso, tenho muito orgulho de ter tido essa amizade.”

“Esses grandes autores são um patrimônio da história do Brasil e não temos identidade nacional sem falar no nome de cada um deles”, completa Pedro Bial, que hoje apresenta o Conversa com Bial, na Globo.

Suassuna tornou-se ainda mais conhecido no Brasil a partir dos anos 1990, quando passou a rodar o país com suas “aulas-espetáculos”, misto de palestra, concerto e balé em que exibia com graça picaresca a erudição e o fervor pela cultura brasileira.

Sempre se revelou um palhaço frustrado, como afirma na entrevista a Bial. “Como não consegui [ser palhaço], fui ser autor. Eu acho que escritor eu seria de qualquer maneira. Não sei se escreveria para teatro, mas escreveria de qualquer maneira porque foi minha vocação desde os 12 anos de idade”, afirmou na entrevista.

Ele disse também que, desde que se alfabetizou, passou a considerar escritores verdadeiros heróis, “pessoas das mais importantes do mundo”. No programa, o paraibano destacou que a literatura para ele “é inseparável da vida”. “É vocação, é missão e é festa. Digo que é festa porque é fundamental para o povo brasileiro.”

Na ocasião, Suassuna diz também que não se conformava com a morte. “O homem não foi criado para a morte. Foi criado para imortalidade. Como isso não é possível na vida, acredito que a arte é um dos protestos que o homem consegue fazer contra a morte”, disse. Suassuna morreu no dia 23 de julho de 2014 aos 87 anos, em decorrência de uma parada cardíaca, dias depois de sofrer um AVC hemorrágico.

Anos depois da entrevista com o escritor, Bial lembra de uma história engraçada, quando o visitou no Recife e convidou Matheus Nachtergaele para o acompanhá-lo. O ator já tinha interpretado João Grilo na minissérie “O Auto da Compadecida” (Globo, 1999), que em 2000 virou filme e teve mais de atraindo mais de 2 milhões de espectadores.

Segundo o jornalista, Nachtergaele tinha muito medo de perguntar a opinião do dramaturgo sobre sua atuação no longa. “Matheus não falou nada durante todo o dia. Ao final do encontro, na hora de nos despedirmos, Ariano entregou um DVD com poesias armoriais ao Matheus e dentro havia uma carta sua com uma linda mensagem para o ator”, relata Bial.

Ao jornal Folha de S.Paulo, Nachtergaele relembra que, assim como um filho que encontra o pai, um ator quando encontra o seu autor fica muito ansioso, “querendo aprovação”. Como nada sobre o “O Auto da Compadecida” foi falado durante o encontro, ele admite ter ficado “um pouco desolado”.

Mas, no final, veio a surpresa. “Um DVD com poesias dele, que eu guardo até hoje, e uma dedicatória dizendo que eu tinha dado o rosto final para o João Grilo dele. Foi muito emocionante”, afirma.

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