FOLHAPRESS – Um dos filmes estrangeiros mais bacanas na programação do festival In-Edit Brasil não é biografia de algum astro da música. O personagem é uma fazenda em Monmouth, no interior do País de Gales, transformada em estúdio de gravação no final dos anos 1960.
“Rockfield A Fazenda do Rock”, dirigido por Hannah Berryman, mostra a aventura dos irmãos Kingsley e Charles Ward. Como quase todos os adolescentes britânicos, eles queriam ter uma banda. Emprestaram um gravador de rolo e o levaram até sua casa, na fazenda de porcos da família. Registraram suas canções e as mostraram em gravadoras.
Apesar de conseguir até uma audição com George Martin, produtor dos Beatles, a coisa não foi para frente. Mas perceberam que o melhor poderia ser partir logo para fazer concorrência aos estúdios. Em 1968 e 1969, foram montando um estúdio, que seria aos poucos ampliado, e ofereceram o espaço para bandas alugarem.
No começo, os Ward atendiam interessados ainda com o cheiro forte dos porcos que tinham acabado de alimentar na outra parte da fazenda.
Novatos na produção, também atraíram artistas longe do sucesso. Entre eles, uma banda esquisita com ideias para gravar músicas tenebrosas. Foi em Rockfield que o Black Sabbath fez suas primeiras gravações. E, quando você tem Ozzy Osbourne entre os entrevistados, já sabe que terá algum humor no documentário.
“Eu nunca tinha entrado num estúdio de gravação antes. E nunca tinha visto uma vaca de verdade na minha vida”, dispara o príncipe das trevas, entre outras declarações muito engraçadas. “Tudo ali era novidade para mim.”
A permanência do Black Sabbath na fazenda serviu de preparação dos irmãos para outros malucos que vieram em seguida. Como os integrantes do Hawkwind, banda de Lemmy Kilmister antes de formar o Motörhead. Eram bem mais experientes que o Sabbath, principalmente no consumo desenfreado de qualquer droga disponível.
A visita do Hawkwind fez a polícia local começar uma vigília constante no estúdio. No decorrer dos anos, muitos roqueiros não conheceram apenas os três pubs de Monmouth, mas também a delegacia da cidade.
Os proprietários dizem no filme que eram apenas testemunhas das maratonas de drogas das bandas. Difícil acreditar, ainda mais nos anos 1970.
Para o estúdio, a passagem da hoje esquecida banda Ace foi um marco. Lá o grupo gravou o hit “How Long”, primeira canção registrada em Rockfield a atingir o topo da parada, em 1974. No ano seguinte, o estúdio entrou definitivamente na história do rock ao receber o Queen para gravar o que seria o álbum, “A Night at the Opera”. Lá a banda criou o hino, “Bohemian Rhapsody”.
Charles Ward conta que via Brian May, Roger Taylor e John Deacon passando dias inteiros jogando frisbee e pescando, enquanto Freddie Mercury se trancava em um dos estúdios. Do que ouviu do som saindo de lá, Ward reconheceu depois “Bohemian Rhapsody”.
Em seus primeiros 20 anos, Rockfield recebeu nomes consagrados, como Robert Plant, Rush e Simple Minds. Mas, celebrado como ótima opção para gravar guitarras e por suportar o comportamento tresloucado dos roqueiros, o estúdio teve uma queda de trabalho no final da década de 1980, com a ascensão do rock eletrônico. Com computadores, não havia necessidade de espaços acústicos tão bons.
Quase quebrando, o estúdio foi salvo pelo Stone Roses. A banda tinha sido sensação com o álbum de estreia, e a gravadora liberou dinheiro para o álbum seguinte. O grupo de Ian Brown chegou a Rockfield para permanecer ali por 14 meses, gravando “Second Coming”, disco que não repetiu a repercussão do anterior.
Depois do dinheirão deixado pelo Stones Roses, o estúdio voltou a ser importante, atraindo nomes como Oasis e Coldplay, também entrevistados.
O documentário é muito engraçado, revela alguns segredinhos das bandas e faz qualquer um invejar os irmãos Ward, hoje velhinhos e, ao que parece, muito felizes.
ROCKFIELD – A FAZENDA DO ROCK
Avaliação Ótimo
Quando Disponível a partir de ter. (22), às 19h até sex. (25) às 23h45
Onde br.in-edit.org
Preço Reserva por R$ 3
Produção Reino Unido, 2020
Direção Hannah Berryman