Um dos pontos mais movimentados e de maior relevância para a comunidade LGBTQ+ de Salvador, na Bahia, durante as décadas de 1980 e 1990, a Rua Carlos Gomes, terá sua história contada no documentário ‘Rua Carlos Gomes: Apogeu e Resistência da Comunidade LGBTQIA+’.
O documentário vai ser lançado pelo portal Dois Terços – especializado na mídia LGBTQ+ baiana. A estreia está programada para quinta-feira, 3, às 20h, no canal do YouTube do portal. A produção foi idealizada pelo maquiador e drag queen, Galdino Neto, com consultoria e pesquisa do ativista e criador do Dois Terços, Genilson Coutinho.
“Eu sentia falta de algo que falasse de nós. Eu me descobri gay lá [na Rua Carlos Gomes], lá era o único lugar que eu podia ir na minha juventude e que eu me sentia seguro. Eu fiquei com essa reflexão na minha cabeça que precisávamos revitalizar aquela rua de alguma forma. Aí surgiu a oportunidade quando ganhamos um prêmio em um edital de cultura”, explicou o ativista.
Coutinho disse ainda como foi o processo de produção: “Comecei a buscar as fontes das boates mais antigas e dos artistas. Algumas pessoas eu passei dois meses tentando o contato e, quando consegui, elas não toparam gravar, mas fomos ouvindo as histórias. Temos no total sete pessoas dando depoimentos, com imagens e músicas, contando suas vivências e esse é um material que com certeza vai servir para abrir novas discussões sobre a cultura LGBTQ+ e sobre a economia local”.
Genilson dá um panorama de como a rua funcionava nas décadas de 1980 e 1990 e como ela abriga a comunidade LGBTQ+ nos dias de hoje: “Tinha mais de 20 casas, entre boates e bares, voltadas para a nossa comunidade na Rua Carlos Gomes, nas décadas de 1980 e 1990. Mas, hoje, elas se resumem a três: o Âncora do Marujo, um bar de resistência que tem 22 anos, o Carmén Lounge Bar e o Maximu’s Bar, que hoje está ocupando o Bar Champagne (também conhecido como Bar da Ray). Este era o único ponto de resistência de mulheres lésbicas da rua”.
O local, no seu ápice, recebeu nomes importantes da comunidade. “Muitas pessoas se descobriram ali, muitos artistas passaram por ali… A Boate Is’Kiss, por exemplo, recebeu Jorge Lafon, Rogéria, Divina Valéria… Todas as pessoas LGBTQ+ que vinham para Salvador sabiam que a Rua Carlos Gomes era um ponto de encontro da comunidade. Precisamos contar que nessa cidade existe essa rua, mas que as pessoas passam batido. Não era institucionalizado, mas nós instituímos como a rua LGBTQ+ da cidade”, afirmou o criador.
O consultor do projeto mencionou também a importância que o documentário terá para a juventude como uma história de referência: “O que me deixa mais triste é que a falta de incentivo do próprio governo faz com que os empreendedores da comunidade fechem as suas portas e isso é lamentável. Isso tudo nos deixa desestimulados, mas a resistência está na ordem do dia e isto não deixaremos de ter. Muitas pessoas irão se ver neste documentário, muitas pessoas irão sentir falta de outras pessoas, mas o mais importante é que a juventude vai conhecer essa história”.