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Política'Apoio a ditaduras revela esquerda anacrônica'

‘Apoio a ditaduras revela esquerda anacrônica’

‘Apoio a ditaduras revela esquerda anacrônica’

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O historiador Alberto Aggio diz que parte do PT mantém a defesa da ideia da revolução em vez de se comprometer com a democracia. Essa opção, que se opõe à modernidade e não reconhece a necessidade das instituições do liberalismo político, explica por que setores do partido apoiam ditaduras como a de Daniel Ortega, na Nicarágua, ou de Nicolás Maduro, na Venezuela. Ele aponta o papel ambíguo de Luiz Inácio Lula da Silva. Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em história da América Latina, Aggio é autor de Um Lugar no Mundo: Estudos de História Política latino-americana.

Como a esquerda deveria se posicionar diante das manifestações em Cuba?

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Se é verdade que a esquerda que apoia Cuba acredita na soberania dos cubanos sobre o território e o Estado, fica evidente que o comando do Estado cubano faz com que o povo não tenha liberdade e soberania sobre esse Estado. A repressão que se estabelece permanentemente em Cuba é um atestado de que, na ilha, os cubanos não têm soberania. Há uma permanente usurpação da soberania. Cuba não tem representação democrática, a sociedade não se representa democraticamente no Estado.

Na semana passada, um dirigente do PT divulgou nota de apoio à eleição de Daniel Ortega, na Nicarágua O que leva setores do partido a apoiar ditaduras na Nicarágua e na Venezuela?

O apoio a ditaduras parte de uma esquerda anacrônica e passadista que ainda está dentro do paradigma da revolução. Sabe que a revolução não tem mais a perspectiva da guerrilha, da luta armada, tipo Marighella e Che Guevara, mas quer manter a perspectiva de emergência de massas na política, com um programa cada vez mais radicalizado para acentuar contradições na expectativa de chegar a situações pré-revolucionárias.

Há dificuldade afetiva de setores da esquerda em criticar Cuba e Ortega?

Acredito que existe. Todo elemento de mito da esquerda provoca esse tipo de relação de afeto, que é um sentimento de defesa, quase se materializando na ideia de que tomar um caminho crítico seria uma traição à revolução, ou que seria fazer o jogo dos exploradores, dos opressores e da direita.

Qual o papel de Lula na forma de o PT tratar Cuba e Venezuela e se relacionar com a democracia?

O papel do Lula é fazer a ponte com esse passado do paradigma da revolução sem assumi-lo. Lula negocia com os protagonistas desse paradigma. Ele faz a ponte com a herança dessa esquerda, que está no PT, nos ex-integrantes da luta armada e na igreja da teologia da libertação. Lula expressa o sindicalismo de resultados que negocia com esse campo. Ele nunca quis ser afiliado à social-democracia europeia, tanto é que o partido afiliado à Internacional Socialista era o PDT.

Lula manteria essa ambiguidade ao viajar à Europa e se encontrar com líderes da social-democracia comprometida com a globalização e com o liberalismo político, como Olaf Scholz?

Mas ele não fala nada nesse sentido (da social-democracia). O que ele fala é o que essa social-democracia quer ouvir, que ele aqui é o protagonista da luta contra as elites, contra as oligarquias, o atraso, a violência e a queima da Amazônia. Alguns temas se vinculam à social-democracia de lá, mas ele tem de ser um protagonista contra a injustiça que existe nos países subdesenvolvidos e, como a Europa não fará mais a revolução e não se apoia mais um personagem que venha do atraso, a social-democracia europeia preza muito bem protagonistas como Lula, que são, na visão dela, a expressão da luta contra a miséria e a pobreza fora da Europa. Lula mantém essa ambiguidade. Ele não assume nem o discurso do paradigma da revolução nem a identificação com a social-democracia.

Para superar o risco autoritário é necessário o abandono da ideia de revolução?

Isso de saída, como cimento de uma nova cultura política. Abandonar o paradigma da revolução e se instalar definitivamente no paradigma da democracia. O tema democrático exige atenção, dedicação e um diálogo de diversos atores, pois o tempo da democracia é de múltiplas dimensões do presente. Não é o tempo agudo da revolução, do antes e depois. Produzir consenso é necessário na democracia. Sabemos que nossa democracia está em um ponto de mal-estar. A sociedade julga que as coisas não estão boas, com altos salários e gente em excesso no Estado brasileiro. É extraordinário o número de pessoas no Brasil que vive da política. É necessário pensar uma reforma política saneadora da nossa democracia? É evidente. A sociedade precisa ver que a democracia muda a vida num contexto de paz e não de exacerbação de contradições.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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