O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), deixou claro nesta sexta-feira, 18, que considera ser candidato à Presidência, mesmo após o partido ter escolhido nas prévias o governador de São Paulo, João Doria, para concorrer ao Palácio do Planalto. Com convite para deixar o ninho tucano e se filiar ao PSD de Gilberto Kassab, o gaúcho afirmou a empresários que tem “disposição” de apresentar um projeto alternativo para o País, falou em “passar o bastão” no Estado e indicou que deve renunciar ao atual cargo em março. Leite chegou a dizer que, se passar um cavalo encilhado não é fácil, “passar dois não dá para desprezar”, numa referência ao convite para ser candidato ao Planalto.
Em reunião na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), o governador aproveitou para apresentar resultados de seu governo, disse que quer “prestar contas” e defendeu o equilíbrio fiscal. O tom foi de despedida. “Fiquem sempre atentos às medidas populistas, demagógicas que governos tentem fazer no Rio Grande do Sul”, pediu ele aos empresários.
Em diversos momentos do discurso, Leite deu a entender que não vai disputar um segundo mandato no Estado. Ele chegou a sinalizar que planeja entregar o posto para o vice em março. Governadores que pretendem concorrer a outros cargos têm até abril para renunciar.
“Como é, possivelmente, uma das minhas últimas falas aqui como governador, não sei se até o final do ano ou se até logo mais, em março, não é, Ranolfo? Mas eu quero fazer uma prestação de contas”, disse o tucano, dirigindo-se ao vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB). “E, de fato, estou sendo provocado novamente sobre o cenário nacional. Olha, passar um cavalo encilhado já não é fácil, passar dois não dá para a gente desprezar”, declarou Leite, em referência aos convites que têm recebido, acrescentando que se sente “vocacionado” para a vida pública. “Se for, de fato, algo consistente, e que a gente tenha apoio para isso, eu tenho coragem, vontade e disposição de poder apresentar algum caminho alternativo”, acrescentou, numa referência à disputa pelo Palácio do Planalto.
Leite disse que tem mantido conversas sobre a candidatura à Presidência com Kassab. Na segunda-feira, os dois se reuniram em São Paulo. O dirigente do PSD busca alternativas ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tem demonstrado pouca vontade de concorrer ao Planalto.
“Pode ser Eduardo Leite, sim. Ele tem condições, tem pré-requisitos para ser candidato, é jovem, é respeitado, já mostrou que tem vontade de ser presidente da República, tem uma aliança com o PSD em seu Estado, o Rio Grande do Sul”, afirmou Kassab no último dia 9, em entrevista após o ato de filiação do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, ao PSD. O ex-ministro, porém, também tem feito acenos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Terceira via
Cotado para representar a terceira via, Leite adotou na reunião desta sexta-feira com empresários um discurso contra a polarização. “Me causa especial preocupação que no cenário nacional se insista numa fórmula de enfrentamento em todas as candidaturas que estão, na minha visão, postas. Existem dois campos políticos bem marcados que polarizam fortemente esta disputa eleitoral”, afirmou, numa referência a Lula e ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que lideram as pesquisas de intenção de voto para a eleição de outubro.
Aliado de Leite, o deputado Daniel Trzeciak (PSDB-RS) disse ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que é preciso “dar tempo ao tempo” para que o governador bata o martelo. “Eu tenho conversado com o próprio governador, mas nenhuma decisão foi tomada ainda por parte dele. É claro que tem que ter muita cautela, não tem como tomar uma decisão assim, indo para um novo partido. Mas tem que entender também qual é o sentimento das ruas, qual é o anseio da população.”
O governador gaúcho também citou os apelos para que concorra a um segundo mandato no Rio Grande do Sul, feitos especialmente pelo presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. Leite disse se sentir “envaidecido” com a situação, mas tratou de afastar essa possibilidade ao reiterar ser contra a reeleição. “Eu insisto, eu já me manifestei várias vezes com a minha crítica à reeleição. É uma convicção, em função do sistema político-eleitoral brasileiro”, destacou.
“A gente vai construir isso na nossa base política, com serenidade, com tranquilidade, com continuidade, sem precisar ser comigo, passando esse bastão adiante”, afirmou o governador sobre a sucessão no comando do Estado.