BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Sem forças para lançar candidatos com chances de vitória nas eleições para o Governo de Minas Gerais em 2022, PSDB e PT tentam alianças respectivamente com o governador Romeu Zema (Novo) e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), os dois principais nomes na disputa pelo Palácio Tiradentes.
O PSDB atraiu de volta para seus quadros o vice-governador do estado, Paulo Brant, que foi filiado ao partido até 2015. Depois do PSDB, Brant esteve no PSB e em 2017 foi para o Novo, formando a chapa com Zema para a disputa pelo governo do estado em 2018. Brant deixou o Novo em abril de 2020.
Com o retorno do ex-filiado, os tucanos fazem pressão por um casamento de papel passado com Zema. O partido já participa do governo estadual. A secretária de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto, por exemplo, é filiada ao PSDB e disputou a Prefeitura de Belo Horizonte no ano passado. O cargo, porém, não é tratado como indicação política por ambos os lados.
A relação entre o PT e Kalil é semelhante. O partido tem no primeiro escalão da prefeitura a secretária de Políticas Urbanas, Maria Caldas, posto que também não é tratado como de ocupação por indicação da sigla. Além da secretária, o PT mantém outros cargos na prefeitura, sobretudo na área da assistência social.
Na filiação de Brant, ocorrida na segunda-feira (16), os tucanos, ao menos oficialmente, tentaram deixar em aberto o que poderia ocorrer em 2022. Uma aliança com Zema ou uma disputa pelo governo do estado com Brant. “Aceitei voltar ao partido não pela tradição, mas pelo seu futuro”, declarou o vice-governador, no ato de filiação.
Os petistas, por outro lado, revelam claramente o plano principal. “Depende muito mais dele do que da gente”, afirma o presidente estadual da legenda, deputado estadual Cristiano Silveira, sobre uma aliança com Kalil para 2022. O partido avalia, porém, que o convite deve partir do prefeito que, até agora, não fez aceno algum.
Pelo lado do PT, o balançar de mãos para o prefeito é constante e já envolveu o comando da Frente Mineira de Prefeitos (FMP), uma entidade que reúne 101 municípios do estado com mais de 25 mil habitantes.
Kalil foi eleito presidente da frente na quinta-feira (12) com articulação conduzida pelo prefeito de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Daniel Sucupira (PT), que ficou com o cargo de vice na entidade.
Mais contundente, o movimento do PSDB pode significar uma tentativa de emparedamento de Zema, mas que vem do lado mais fraco da relação. Além disso, não é claro até o momento qual o nível atual de proximidade entre o governador e Brant.
A saída do vice-governador do Novo no ano passado foi em meio a críticas ao partido, repetidas durante a filiação ao PSDB. Para Brant, a articulação política de sua antiga legenda é “um pouco sectária” e “exclusivista”, conforme disse na cerimônia organizada pelo diretório estadual tucano para o seu retorno.
Tanto integrantes do Novo como do PSDB afirmam que a relação entre Zema e Brant não está estremecida. Se o cenário descrito não for verdadeiro, os tucanos podem estar tentando um início de conversa com o governador, abrindo as negociações para um outro nome do partido para vice de Zema no ano que vem.
PSDB e PT encontram sérias dificuldades para não passarem apenas como coadjuvantes nas tentativas de aliança com Zema e Kalil. Os dois partidos já governaram Minas Gerais, mas perderam forças tanto por acontecimentos locais como nacionais.
Pelo lado do PSDB, o ex-cacique do partido, hoje deputado federal Aécio Neves, eleito duas vezes governador do estado, chegou a ter sua irmã e principal articuladora política, Andrea Neves, presa em maio de 2017 depois de delação do empresário Joesley Batista, da JBS.
Além de governar duas vezes Minas Gerais, Aécio disputou a Presidência da República pelo partido em 2014 e foi senador. Em 2018 foi eleito deputado federal com pouco mais de 106 mil votos, na 19ª colocação entre os concorrentes à Câmara dos Deputados pelo estado.
No mesmo ano, Zema foi eleito governador de Minas Gerais no segundo turno com ampla vitória exatamente contra um tucano, o senador Antonio Anastasia, hoje no PSD. O candidato do Novo teve 71,80% dos votos válidos, contra 28,20% de Anastasia, que já havia governado o estado por duas vezes.
O PT teve resultado ainda pior em 2018. O então governador do estado, Fernando Pimentel, que tentava a reeleição, ficou em terceiro lugar na disputa. O petista fez uma administração marcada por atrasos e escalonamentos no pagamento de salários de servidores.
A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril de 2018, principal nome do PT, depois de condenação na Lava Jato, também contribuiu para o enfraquecimento da legenda em Minas, assim como ocorreu em todo o país à época.
PSDB e PT enfrentam outro problema nas articulações para o governo do estado. As alianças a serem fechadas precisam levar em conta a montagem local de palanques para candidatos das legendas à Presidência da República no ano que vem. Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo.
Uma aliança com Kalil, portanto, seria colocar lado a lado o prefeito de Belo Horizonte com Lula, que deverá disputar a Presidência pelo PT. Existe ainda a possibilidade de o PSD de Kalil lançar candidato ao Planalto, embolando ainda mais o cenário em Minas.
No caso de Zema, o palanque seria dividido com quem vencer as prévias do PSDB. Podem entrar na disputa o governador de São Paulo, João Doria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati, e o ex-senador Arthur Virgílio.
A reportagem entrou em contato com as assessorias dos governos do estado e municipal. O Palácio Tiradentes não retornou, e a prefeitura disse que não seria possível responder questões sobre política.