SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um vídeo de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que completa 90 anos nesta sexta-feira (18), foi exibido em live nas redes do PSDB e reuniu depoimentos de economistas, ex-ministros, intelectuais, artistas e políticos -como Maitê Proença, Fafá de Belém, Luciano Huck, Flávio Dino, Michel Temer, Boris Fausto e os quatro presidenciáveis tucanos, João Doria, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio.
Ao final, FHC comentou os depoimentos ao vivo e agradeceu a todos que, segundo ele, exageraram em suas qualidades e quase não tocaram em seus defeitos.
A pandemia do coronavírus e a comparação implícita com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) foi feita por alguns em seus depoimentos, ao lembrarem qualidades de estadista de FHC e falarem em superação do momento atual do país.
Apesar da reaproximação recente com FHC, o ex-presidente Lula (PT) não participou da homenagem. Os ex-presidente almoçaram e tiraram uma foto juntos, no mês passado, e Fernando Henrique já afirmou que votaria no petista se o adversário for Bolsonaro.
“Muito obrigado pela generosidade, por ainda prestarem atenção num velho que está em casa, […] que não tem mais poder de mobilizar massa nem deseja isso, porque sabe que o momento passou, mas que continua acreditando em valores”, disse FHC ao final da transmissão.
“Noventa anos é muita idade, você é velho, cabelo branco e tal, mas o que acontece é que é melhor solução estar vivo do que estar morto, é melhor estar aqui tentando viver, tentando sentir o momento”, afirmou ainda.
FHC ressaltou que sempre teve prazer em “conviver com as pessoas” e disse ter tentado “dar melhores condições de vida para o povo” e que isso o “entusiasma até hoje”. Ele se definiu como “sociólogo por formação e político por acidente”.
“Se não tiver formação não adianta nada, não consegue nem dar um modelo, um valor para que as pessoas possam se agarrar nele e trabalhar com um certo afinco”, lamentou o ex-presidente, lembrando suas viagens para que o Brasil “tivesse presença no mundo” e o apelido “Fernando Viajando Cardoso”.
O governador de São Paulo, João Doria, afirmou que FHC é “um grande ser humano” e agradeceu sua contribuição na defesa da democracia, da liberdade e pela construção do PSDB. Doria afirmou homenagear a “grande figura humana, sensível, harmoniosa, integradora e serena de FHC”.
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, afirmou que FHC é um exemplo e uma inspiração. O gaúcho disse ter admiração pelo ex-presidente, que segue “se posicionando com coragem e com palavras inspiradoras, motivando as pessoas que querem fazer a política bem feita”.
O senador Tasso Jereissati (CE) disse que o ex-presidente tem uma das “mais bonitas e vitoriosas histórias de homem público do país”. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio afirmou que, na presidência de FHC, o Brasil era respeitado e tinha “diplomacia de verdade”.
O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou que FHC tem equilíbrio, liderança e um caráter pacificador. “Alguém que ousou desafiar o país a pensar, a agir, a se estabilizar”, disse.
Flávio Dino, governador do Maranhão que anunciou nesta semana sua saída do PC do B e filiação ao PSB, agradeceu a FHC “sobretudo pelas múltiplas oportunidades de aprendizado nos nossos diálogos” e citou obras do ex-presidente que leu.
Luciano Huck, apresentador da TV Globo, afirmou ser “um privilégio poder falar de boca cheia que sou seu amigo”. FHC era parte do grupo que apostava na candidatura de Huck à Presidência da República, opção descartada pelo apresentador nesta semana.
Ainda assim, Huck afirmou estar seguindo as pegadas de FHC. “Essas pegadas da ética, da retidão, da inteligência, do bom humor, da gente finisse”, disse.
FHC foi lembrado pelos nomes que compuseram seu governo como uma pessoa bem-humorada, conversadora e que gostava de ouvir. Diversos economistas que participaram do Plano Real, a principal marca do tucano, e também ex-ministros, como Arminio Fraga, Celso Lafer, Pedro Malan, Persio Arida e Pedro Parente, destacaram qualidades do ex-presidente.
Outros nomes fizeram críticas implícitas ao governo Bolsonaro. O ex-senador José Aníbal (PSDB-SP) afirmou que o Brasil não tem um estadista hoje e que FHC faz falta. “Vamos encontrar um caminho do meio entre os extremos políticos do Brasil”, disse o economista Edmar Bacha.
Elena Landau, economista que coordenou privatizações no governo FHC, afirmou que a venda das estatais só aconteceu por causa da convicção de ideias do tucano.
“Queria agradecer o fato de você ter conduzido dois mandatos com muito respeito às instituições democráticas e, ao mesmo tempo, fazer as reformas modernizantes liberais com olhar no social. Isso me dá da esperança de que a gente possa de novo ter esse caminho no Brasil, quem sabe né?”, disse ela.
“O senhor tinha um projeto de nação, tinha respeito pela sociedade e manteve sempre o apreço as instituições e o regime democrático. […] Sua história, sobretudo nesses momentos sombrios que estamos vivendo, nos servem de exemplo, nos servem de esperança de que dias melhores virão”, afirmou o ex-ministro Raul Jungmann.
A atriz Maitê Proença parabenizou FHC por “ter dado uma injeção de ânimo ao Brasil, que agora anda com o espírito tão combalido”.
O historiador Boris Fausto, colega de FHC na Universidade de São Paulo, lhe felicitou por chegar ao time dos 90 anos. “A natureza nos impõe um futuro curto, mas que ele seja vivido plenamente”, disse.
A live do PSDB começou com um panorama histórico do Brasil nos anos 1930, época em que FHC nasceu. Os fatos foram narrados pelo ator Stepan Nercessian.
Houve ainda um trailer do filme “O presidente improvável”, que estreia em março de 2022. Nas cenas, FHC aparece conversando com amigos e personalidades, inclusive o ex-presidente americano Bill Clinton.
“Meu temperamento é mais professor do que de político” e “nunca fui neoliberal na vida”, são trechos selecionados das falas do ex-presidente no filme.