Jovens de 16 e 17 anos, que têm direito ao voto facultativo, enfrentaram filas nas sedes de zonas eleitorais no Rio nesta quarta-feira, 4, último dia para se inscrever como eleitores antes do pleito deste ano. Incentivados por campanhas de artistas, influenciadores e políticos nas redes sociais, os adolescentes se mobilizaram para se habilitar a votar. Disputaram espaço ao lado de adultos que não votaram em eleições passadas e por isso precisavam regularizar sua situação na Justiça Eleitoral.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 625 mil pessoas em todo o Estado do Rio estavam com o título cancelado no fim de março. A procura pelos postos do TRE na capital fluminense aumentou nesta última semana, segundo fiscais e servidores das zonas eleitorais visitadas pelo Estadão. Apesar de todos os serviços serem oferecidos pela internet, sem necessidade de comparecer ao cartório eleitoral, cariocas encontraram grandes filas no início da tarde desta quarta-feira.
A estudante Beatriz Alexandre, de 17 anos, moradora da Rocinha, na zona sul do Rio, foi uma das que deixaram para tirar o título de eleitor no último dia. Procurou a sede da zona eleitoral no Jardim Botânico, a mais próxima de sua casa. Ela acompanhou a campanha de influenciadores e artistas, de esquerda e de direita, que nas redes sociais pediam que os jovens emitissem o documento para participar das eleições. Segundo ela, esse movimento a incentivou a procurar o Tribunal Regional Eleitoral.
Embate nas redes
“Eu decidi tirar o título por dois motivos. O primeiro é que vou fazer 18 anos esse ano e pretendo viajar. Preciso estar com todos os documentos em dia. E o outro é que pretendo votar no presidente em outubro. Eu concordo que a campanha nas redes incentivou os jovens a procurarem os cartórios para tirar o título. O que não concordo é artistas dizendo em quem devemos ou não votar. Cada um exerce o seu direito ao voto da forma que achar melhor”, afirmou a jovem.
Os jovens de 16 a 17 anos, que têm direito ao voto facultativo, tornaram-se alvo de uma nova disputa entre direita e esquerda nas redes sociais. Com a aproximação do fim do prazo para a emissão de novos títulos eleitorais, influenciadores e políticos bolsonaristas criaram a campanha “Sou Jovem, Sou Bolsonaro”.
Foi uma reação a ações pelo alistamento eleitoral e o voto contra o presidente de personalidades e artistas identificados com a esquerda, como Anitta, Pablo Vittar e Felipe Neto. Os dois lados disputam os cerca de 10 milhões de brasileiros de 16 e 17 anos. Segundo o TSE, 2022 é um dos anos de menor emissão de títulos da história para essa faixa etária.
Aumento
O número de jovens que buscaram os Tribunais Regionais Eleitorais para a emissão do documento subiu. O alistamento na Justiça Eleitoral no mês de março registrou um salto de 45,63%, quando comparado a fevereiro, entre adolescentes de 15 a 17 anos. Os números foram divulgados pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Edson Fachin.
Apesar da disputa entre esquerda e direita pelo voto jovem, há aqueles que ainda não decidiram em quem votar na próxima eleição. É o caso de Matheus de Souza, de 19 anos. Ele conta que não conseguiu tirar o título na eleição passada, em 2020, por falta de tempo. Neste ano, pediu para ser liberado no trabalho para regularizar a situação eleitoral e não ficar de fora da eleição.
“Há o fator de que precisamos ter o documento em dia, mas também acho extremamente necessário tanto jovens, quanto os mais velhos estarem se disponibilizando para votar. O futuro do nosso País depende disso. Nós podemos mudar nosso caminho com um simples gesto. Eu acompanho política no dia a dia, mas não pauto minhas opiniões entre o que a esquerda ou a direita querem. Avalio as pessoas e suas ações”, explica.
Robert Luke, de 17 anos, também ressalta a importância dos jovens tirarem o título de eleitor, mas evitar entrar na polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Dá tanta dor de cabeça brigar por políticos que não quero me envolver. Eu reconheço a importância do voto e dos jovens participarem das eleições, mas precisamos levar a política de forma mais leve, dos dois lados”, disse.
Já Fábio Mendes, de 17 anos, enfrentou as filas para emitir o título e se alistar nas Forças Armadas. Ele conta que não acompanha política diariamente e que deve “começar a se preocupar em quem votar” nos dias que antecedem a eleição. “Pretendo servir às Forças Armadas. Por isso preciso título. Está cada vez mais difícil acompanhar política sem brigas. Eu prefiro deixar para decidir o meu candidato quando a eleição estiver mais próxima”, disse.
O prazo final foi definido em lei. A regra prevê o intervalo de 151 dias entre o fechamento do sistema e o pleito do ano vigente. Ainda segundo o TRE, quem estiver na fila, mas não for atendido nesta quarta-feira receberá uma senha para voltar no dia seguinte. A regularização do título também pode ser feita pela internet até às 23h59 desta quarta pelo site do TRE-RJ.
“Sendo assim, quem perder o prazo desta quarta-feira, não poderá votar nas eleições deste ano”, diz comunicado do TRE.
Um grupo de parlamentares pediu ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, para que a data para emissão, transferência ou regularização do título eleitoral fosse prorrogada. Na resposta encaminhada aos parlamentares, o presidente TSE também reforçou que os sistemas eleitorais estão em pleno funcionamento.
De acordo com o ministro, a suspensão dos procedimentos de inscrição eleitoral ou transferência nos 150 dias que antecedem as eleições está prevista no artigo 91 da Lei nº 9.504/97. “Nessa toada, qualquer alteração no aludido prazo demandaria alteração legal, exigindo a atuação do Congresso Nacional”, afirmou.
As instabilidades registradas no portal do TSE devido à alta demanda pelos serviços eleitorais nos últimos dias motivaram o pedido dos parlamentares. No Rio, de acordo com O TRE-RJ, não foi relatada instabilidade no sistema neste último dia. Para aliviar o nível de acesso ao sistema, a análise dos pedidos será feita apenas a partir de amanhã, 5.