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PolíticaMaia toma posse no governo Doria, ironiza DEM e declara apoio ao tucano na corrida presidencial

Maia toma posse no governo Doria, ironiza DEM e declara apoio ao tucano na corrida presidencial

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma cerimônia que exaltou a candidatura de João Doria (PSDB) à Presidência da República em 2022, o governador de São Paulo assinou a nomeação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (sem partido-RJ), nesta sexta-feira (20), como secretário de Projetos e Ações Estratégicas.

Em sua fala, no Palácio dos Bandeirantes, Maia deixou claro que será um articulador pela candidatura de Doria no campo da terceira via. O governador ainda precisa vencer as prévias presidenciais tucanas marcadas para novembro.

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“Nada mais importante na política do que aquilo que é natural. E o natural, nesse momento, é o fortalecimento não apenas do seu nome [Doria], mas daquilo que São Paulo representa para o Brasil”, disse.

“Daqui nós vamos construir um projeto de país, unindo aqueles democratas que respeitam a economia de mercado e o setor privado”, completou.

Mais do que coordenar projetos de governo, algo que será a função oficial de Maia, a ida do deputado para o Governo de São Paulo tem peso político e objetivo eleitoral —o que ficou claro na cerimônia, que tratou mais de perspectivas para 2022 e da oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do que de ações ou metas específicas da gestão Doria.

O novo secretário deixou claro que, entre a fragmentação da chamada terceira via para 2022, vai trabalhar para construir unidade em torno de Doria. Aliados de longa data, Maia e Doria costumam não ser econômicos em críticas a Bolsonaro —embora o primeiro seja lembrado por não ter dado seguimento a pedidos de impeachment do presidente quando comandava a Câmara.

“Todo homem público precisa ter responsabilidade e sinalizar para a sociedade o que acredita. […] Está na hora de todos aqueles que falam em independência ao governo federal, da necessidade de mudar, todos tenham a responsabilidade de deixar claro que precisamos construir um caminho. Não teremos cinco caminhos, teremos um caminho. As nossas vaidades pessoais não podem estar acima do interesse da sociedade”, disse Maia.

“Com cinco projetos, nós correremos o risco de reeleger um projeto autoritário”, completou, pregando a união da centro-direita. “Talvez eu tenha sido o primeiro a alertar e enfrentar o extremismo autoritarismo do presidente da República.”

Maia ainda deu um recado ao seu ex-partido, o DEM, que tem tendências internas bolsonaristas. Ele e Doria estão rompidos com o presidente da sigla, ACM Neto.

Após sair derrotado da eleição para a presidência da Câmara, que teve Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, como vencedor —e não Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Maia— o deputado deixou o partido, de onde acabou expulso. Maia reclamou de ter sido abandonado pela própria legenda na eleição.

Já o rompimento entre Doria e ACM, com duras críticas do dirigente ao tucano, se deu por ocasião da filiação do vice-governador Rodrigo Garcia, antes no DEM, ao PSDB para que, seguindo o plano do governador, ele fosse o nome do partido na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes em 2022 —o que inviabilizou a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB).

Segundo Maia, aceitar o convite de Doria foi um gesto político, uma “sinalização para aqueles que se falam de centro, que falam que serão contra o governo Bolsonaro, mas que estão em Brasília, infelizmente, compondo a base do governo”.

Além das traições de membros de partidos de centro que votaram em Lira ainda em 2019, recentemente deputados do DEM, PSDB, MDB e PSD voltaram a contrariar a orientação de seus partidos ao votarem a favor do voto impresso, pauta de Bolsonaro.

Assim como Maia criticou o adesismo em seu partido, Doria também tem, dentro do PSDB, adversários ligados a Aécio Neves (PSDB-MG) e que são considerados próximos do governo Bolsonaro.

Maia mencionou ainda simpatia pela candidatura de Ciro Gomes (PDT), que também considera natural, mas reforçou a opção por Doria. Ele pregou contra a polarização e não mencionou Lula (PT), embora já tenha se encontrado com o ex-presidente.

“O que é natural hoje é uma candidatura do PSDB e a outra do PDT”, disse.

“O natural é fortalecer um projeto no nosso campo. Temos outro projeto que eu também respeito e tenho admiração no campo da centro-esquerda, que é o do Ciro Gomes. Mas, no nosso campo, nós temos um nome que tem condições de liderar esse processo, que é o nome do governador João Doria. E a minha sinalização política está dada.”

Maia passa a integrar o Governo de São Paulo após acumular seguidas derrotas políticas. Ainda antes de perder a sucessão na Câmara, tentou viabilizar mais uma reeleição para o comando da Casa, mas acabou vendo a possibilidade ser derrotada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que rejeitou a tentativa de atropelo à Constituição.

Ele afirmou que vai levar a experiência do diálogo para São Paulo e que está aprendendo no novo cargo. Ao lembrar sua passagem à frente da Câmara, falou da aprovação de projetos na área econômica. “Não é apenas a vontade de atropelar, de executar qualquer coisa, foi a vontade de ouvir aqueles que de fato entendem de cada uma das áreas”, disse.

A presença do presidente do PSDB, Bruno Araújo, na mesa de autoridades, ao lado de Doria, Maia, Garcia e outros secretários do governo, também deu tom político à cerimônia. O governador justificou: “Embora seja uma ação de ordem administrativa, o Bruno se deslocou de Pernambuco para estar aqui ao lado de seu amigo Rodrigo Maia”.

Maia sinalizou ainda estar próximo do PSDB, mas, ao ser questionado sobre eventual filiação ao tucanato, afirmou que seu projeto político e sua escolha partidária estão vinculados ao seu aliado e prefeito do Rio, Eduardo Paes, que recentemente ingressou no PSD e de quem Doria também é próximo.

“Claro que a tendência é essa. Meu projeto é com o prefeito do Rio, seja no PSD ou numa outra construção que ele entenda relevante”, disse Maia a respeito de se filiar ao PSD.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de ser vice na chapa presidencial de Doria, Maia respondeu que sequer tem um partido. “Fui expulso dos Democratas democráticos”, ironizou, antes de dizer que irá concorrer à reeleição como deputado federal no Rio.

Doria afirmou que não houve conversa com Maia que vinculasse a aceitação do cargo de secretário a uma filiação ao PSDB. A cerimônia foi acompanhada por secretários de Doria e por deputados federais e estaduais, a maioria tucanos.

A respeito de Maia ter atuação e domicílio político no Rio de Janeiro, Doria lembrou que muitos dos seus secretários não são paulistas.

“A política não deve ter nem fronteiras e nem muros. Quem gosta de muros são os extremistas. […] Rio e São Paulo são complementares. […] A política é brasileira, é dos brasileiros. São Paulo crescendo, o Brasil todo se beneficia. […] Somos contra os extremos”, afirmou Maia sobre ser carioca.

“O que vale é o currículo e o comprometimento. […] Aqui nós não fazemos seleção nem por domicílio, nem por oportunismo e muito menos por valores eleitorais. […] A composição desse governo sempre foi pela eficiência e capacidade de entrega à população”, disse Doria.

Para acomodar Maia, Doria criou a 27ª secretaria de seu governo. O tucano lembrou que sua gestão tem envergadura de ministério por abrigar sete ex-ministros de Michel Temer (MDB), estratégia adotada desde o início do governo para projetá-lo nacionalmente.

​Como mostrou a Folha, o tucano, nos últimos meses, abriu mão de nomes técnicos para incorporar políticos em seu secretariado e, assim, melhorar a relação com parlamentares, prefeitos e líderes partidários.

Maia é o reforço político de maior relevância no governo até agora. Em março, Cauê Macris (PSDB), ex-presidente da Assembleia de São Paulo, assumiu a Casa Civil com a missão de reconstruir pontes entre Doria e a classe política, após uma série de escorregões do tucano. Já em maio, o ex-deputado estadual Itamar Borges (MDB) foi nomeado secretário da Agricultura como uma forma de contemplar o partido aliado.

Doria, afirmou, no entanto, que a motivação para nomear Maia “é a formação de um secretariado focado na gestão”. E ressaltou a interlocução de Maia com empresários, bancos e o que chamou de “economia liberal”.

“Ele não é secretário de assuntos políticos, é o secretário de ações estratégicas. Mas obviamente que eu reconheço que ele traz o peso político de seis mandatos como deputado federal”, disse o tucano. “A boa política se faz somando. A causa aqui não é exclusiva de São Paulo, é do Brasil.”

Repondendo a pergunta sobre sua prioridade na gestão, Maia disse estar começando a estudar a pasta, mas citou a Sabesp e afirmou que prepará-la para a privatização será seu objetivo.

“E aqui o compromisso é gestão. Com gestão se faz a boa política. Com transparência se faz à obediência à verdade e o respeito ao dinheiro público”, afirmou Doria.

A Folha de S.Paulo revelou, no entanto, em uma série de reportagens, que o governador não dá transparência a repasses de verbas políticas para irrigar a base de parlamentares aliados. Os valores alcançam R$ 1,05 bilhão em 2021.

Toda a fala do governador foi voltada ao aspecto nacional, ecoando o discurso de um candidato a presidente, como costuma fazer.

Ele concorre nas prévias tucanas com o governador gaúcho Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) declarou apoio a Doria nesta semana.

Doria também afirmou que São Paulo segue a ciência e exaltou a vacinação. “Aqui é o estado da vacina no braço e da comida no prato”, disse.

Rodrigo Garcia, vice de Doria e que deve assumir o governo em abril de 2022 e depois disputar a reeleição, exaltou a experiência de Maia “não só legislativa, mas de articulação política”.

“Muito feliz de receber esse grande reforço pro nosso time. Acho que a nossa sensação aqui, governador, é que nós já estamos ganhando esse jogo, e a entrada do deputado Rodrigo Maia vai fazer com que a gente ganhe de goleada”, disse. ​

Maia foi designado para atuar com projetos de parcerias, privatizações e concessões, área sob influência de Garcia, que, por sua vez, tem dedicado mais sua agenda à candidatura estadual, com viagens e inaugurações.

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