SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Partido Novo decidiu apoiar formalmente o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, em razão, sobretudo, de seu desempenha no combate à pandemia da Covid-19.
“Na avaliação do Novo, alguns dos crimes cometidos são omissões e péssimas ações na gestão da pandemia, descaso com a aquisição das vacinas e possível prevaricação em denúncia de esquema de corrupção na compra do imunizante Covaxin”, diz nota divulgada pelo partido, após deliberação tomada pelo seu diretório nacional nesta segunda-feira (5).
Segundo o presidente do partido, Eduardo Ribeiro, as recentes suspeitas com relação à compra de vacinas pesaram na decisão.
“Não bastasse o descaso com a compra das vacinas, surge então a suspeita de um grande esquema de corrupção, o que é completamente inaceitável”, diz Ribeiro.
Outros pontos destacados pela legenda são a possível interferência do presidente Jair Bolsonaro em investigações da Polícia Federal, como denunciou o ex-ministro Sergio Moro.
“Além dos crimes relacionados à pandemia, Bolsonaro também agiu para interferir na Polícia Federal, Ministério da Justiça e Abin”, diz nota do partido.
De acordo com Ribeiro, a eventual participação do partido em manifestações de rua contra Bolsonaro ainda está sendo discutida.
“Vai depender de quem estiver organizando. Não queremos criar confusão com extremistas do outro lado”, afirmou. Segundo ele, é possível que o partido esteja em manifestações em datas diferentes dos atos promovidos pela esquerda.
A bancada federal do Novo tem oito integrantes, mas parte dos deputados têm resistência ao apoio ao impeachment. Já o diretório nacional tem tendência maior de fazer oposição a Bolsonaro.
Segundo o líder da bancada federal, deputado Vinicius Poit (SP), já há elementos suficientes para se falar em abrir processo por crime de responsabilidade contra Bolsonaro.
“Estamos falando da abertura do processo, que depois seguirá seu curso. Nesse caso, vale o ditado de que quem não deve não teme. Por que Bolsonaro não enfrenta essa questão de uma vez por todas?”, afirmou Poit.
Segundo ele, os integrantes da bancada que forem contrários à decisão do diretório terão liberdade para defender esse posicionamento.
Entre os parlamentares do Novo, quem costuma ser mais crítico do impeachment é Marcel van Hattem (RS).
Poit disse que a tendência é o partido participar de atos de rua quando a situação da pandemia melhorar. “Enquanto não tem todo mundo vacinado, ir para a rua é fazer a mesma coisa que os outros fazem e nós criticamos”, disse.
Van Hattem afirma que a decisão foi aprovada pelo diretório e que a bancada federal foi apenas informada, sem ter sido consultada.
Ele não vê nesse momento motivos para dar prosseguimento ao processo de impeachment. “Se tivesse crime de responsabilidade materializado seria uma coisa, mas esse pedido é fragil na fundamentação jurídica. O próprio presidente [Arthur] Lira [da Câmara] se manifestou contra pedidos que não tenham materialidade”, afirma o deputado.
Fundador do partido e ex-candidato a presidente, João Amoêdo elogiou a decisão em uma rede social.
“Importante decisão do Novo. É fundamental que todos os partidos que desejam construir uma terceira via apoiem o processo de impeachment de Bolsonaro”, escreveu.
Amoêdo apoiou Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018. Recentemente, ele chegou a anunciar nova candidatura presidencial em 2022, mas depois desistiu.