SALVADOR, BA, E UBERLÂNDIA, MG (FOLHAPRESS) – Em meio a um cenário de recrudescimento da crise institucional entre os Poderes e da escalada de discursos de cunho autoritário, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a população brasileira nunca teve uma oportunidade como a que terá com os atos do próximo dia 7 de Setembro.
O presidente, porém, não deu detalhes sobre qual seria essa oportunidade e para fazer o que exatamente no feriado.
As declarações foram dadas nesta terça-feira (31) em Uberlândia (MG), em um discurso sem ataques ao Supremo Tribunal Federal, o que tem sido raro nas últimas semanas, e com promessas de seguir a Constituição, também raro diante de seguidas falas golpistas, como as de ameaça às eleições de 2022.
“A vida se faz de desafios. Sem desafios a vida não tem graça. As oportunidades aparecem. Nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi tão importante ou será importante quanto esse nosso próximo 7 de Setembro”, afirmou o presidente em discurso de improviso no interior mineiro.
Mais tarde, depois de participar de uma motociata pelas ruas de Uberlândia, Bolsonaro fez um novo discurso no qual citou que os três Poderes devem se submeter à vontade da população.
“Vocês que devem dar o norte para todos nós que estamos em Brasília. E esse norte será dado com muito mais ênfase, com muito mais força no próximo dia 7 [de Setembro]”, disse o presidente.
Em seguida, ele classificou os protestos da próxima semana como um momento ímpar, no qual ele e seus apoiadores dariam “um recado para o Brasil e para o mundo, dizendo para onde esse país irá”.
“Creio que chegou a hora, de nós, no dia 7 [de Setembro], nos tornarmos independentes para valer. E dizer que não aceitamos que uma ou outra pessoa em Brasília queira impor a sua vontade. A vontade que vale é a vontade de todos vocês”, afirmou o presidente.
Ao final do discurso, apoiadores gritaram “eu autorizo”. O discurso foi feito em cima de um trio elétrico em clima de comício. Bolsonaro estava cercado de apoiadores, e as caixas de som tocavam jingles da campanha eleitoral de 2018.
O presidente se prepara para participar de protestos de raiz golpista e de pautas autoritárias em seu favor que estão marcados para o feriado de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na avenida Paulista, em São Paulo. Bolsonaro prometeu comparecer e discursar nos dois atos.
Como o próprio Bolsonaro já disse, ele busca nesses protestos uma foto ao lado de milhares de apoiadores para ganhar fôlego em meio a uma crise institucional provocada por ele mesmo, além das crises sanitária, econômica e social no país.
Isolado, Bolsonaro perde apoio nas classes política e empresarial, além de aparecer distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em diferentes pesquisas de opinião sobre a corrida eleitoral de 2022.
Nesta terça, em seu discurso em Minas, o presidente criticou a imprensa e o ex-presidente Lula. Também fez uma comparação do momento atual do Brasil ao da proclamação da Independência, há 199 anos.
“Creio que nós vamos mudar os destinos do Brasil e tenho certeza, dentro das quatro linhas da Constituição. Não será levantando uma espada cima e proclamando algumas palavras. No passado, foi assim. Hoje pela complexidade do que está em jogo em nossa nação, será um pouco diferente”, disse.
Na sequência, afirmou que seria mais fácil para ele “estar do outro lado”, não especificando qual este seria, mas disse que prefere ter a consciência tranquila.
E voltou a falar em liberdade: “Um homem, uma mulher sem liberdade não é ninguém. A liberdade é a origem para tudo. É a certeza que nós podemos crescer”.
Também falou das dificuldades do cargo de presidente: “Não queiram a minha cadeira, ela tem criptonita e só vocês nos dão força para continuar sempre se dirigindo ao norte. Norte esse que vocês dão para nós, políticos do Brasil”.
O presidente chegou ao ato em Uberlândia montado em um cavalo e segurando uma bandeira do Brasil, após percorrer um trecho de estrada de terra.
Bolsonaro não usou máscara de proteção contra a Covid-19 durante a cerimônia, que marcou a inauguração de uma estação de tratamento de água. Ao contrário de discursos anteriores, prestou solidariedade às vítimas da Covid-19.
“Eu sou um mortal, sou sensível à muita coisa. Sofremos muito com a pandemia, lamentamos aqueles que nos deixaram”, disse.
Outras 25 pessoas dividiram o palco com o presidente, 15 delas sem máscara. Entre os convidados do presidente estava Alysson Paulinelli, ex-ministro da Agricultura no governo Ernesto Geisel e atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho.
Nesta segunda-feira (30), um grupo de sete entidades ligadas ao agronegócio publicou um manifesto em defesa das instituições e do equilíbrio entre os Poderes da República.
Em discurso durante a cerimônia, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, também falou sobre a harmonia entre Poderes.
“Todos os brasileiros de bem precisam estar atentos para que não percamos o que conquistamos: a nossa liberdade, o nossos direito de pensamento e de crítica”, disse Marinho.