SALVADOR, BA, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Manifestantes se reuniram em protestos contra o presidente Jair Bolsonaro, na manhã deste sábado (24), em capitais como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luís e Teresina.
Os protestos fazem parte de uma série de manifestações pelo impeachment do presidente realizadas nos últimos dois meses com organização de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda.
À tarde, houve manifestação em São Paulo e em Brasília. A quarta manifestação convocada por opositores desde maio teve adesão menor na capital paulista do que o ato anterior, no início do mês, a exemplo do que ocorreu também na manifestação organizada em Brasília.
Em meio à pandemia da Covid-19, o ato na avenida Paulista mais uma vez teve cenas de aglomeração. Houve distribuição de máscaras de proteção e álcool em gel. Assim como no protesto anterior, de 3 de julho, houve confronto entre grupos e policiais neste sábado.
A Campanha Nacional Fora Bolsonaro afirma que os atos ganharam capilaridade pelo país, com 509 manifestações no Brasil e no exterior, reunindo 600 mil pessoas.
Em 29 de maio, os organizadores mapearam atos em ao menos 227 cidades do Brasil e 14 do exterior, com cerca de 420 mil pessoas. No segundo protesto, em 19 de junho, eles divulgaram balanço de 427 atos em 366 cidades do Brasil e em 42 cidades do exterior em 17 países, com um público total de 750 mil pessoas.
Os organizadores afirmam que o dia 3 de julho levou 800 mil pessoas às ruas em 352 atos em 312 cidades do Brasil, em todos os estados e no Distrito Federal, e 35 no exterior em 16 países.
Em Salvador, a chuva fina não espantou os manifestantes que compareceram em número semelhante aos protestos anteriores e saíram em passeata entre o Campo Grande e a praça Municipal.
Estudantes universitários, secundaristas, sindicalistas e militantes de partidos de esquerda deram o tom do protesto, que foi puxado por um trio elétrico e ao menos cinco carros de som de menor porte.
A atuação do presidente Jair Bolsonaro na pandemia foi o principal mote das manifestações, que também tiveram apresentações artísticas de grupos de teatro e de percussão.
Mas também houve lugar para defesa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. Um grupo minoritário de militantes do PDT empunhava uma faixa com a foto de Ciro Gomes, também pré-candidato ao Planalto.
Sindicalistas criticaram a reforma administrativa que tramita no congresso e um grupo de servidores dos Correios se manifestou contra a privatização da estatal.
Eles carregavam um caixão com as fotos do ministro Paulo Guedes (Economia) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), acompanhados por um carro de som que tocava a música Astronomia, de Tony Igy, que viralizou com o meme do caixão.
Não houve referências à aprovação do fundão eleitoral de R$ 6 bilhões para as próximas eleições, aprovado com votos contrários dos partidos de esquerda.
Também marcaram presença no protesto militantes do movimento negro, LGBTQIA+, torcidas organizadas do Bahia e do Vitória, além de um grupo de evangélicos que se manifestava contra Bolsonaro.
Ainda houve faixas contra o embargo dos Estados Unidos a Cuba, país que vem enfrentado uma onda de protestos em várias cidades contra o governo.
Ao contrário de outras capitais, partidos como o PSDB e movimentos alinhados à direita como o MBL não participaram da manifestação na capital baiana. Não houve registro de conflitos.
No Recife, as manifestações aconteceram na manhã deste sábado entre a Praça do Derby e a avenida Guararapes. Sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda deram o tom dos protestos, marcados por críticas a Bolsonaro.
Militantes do PT eram maioria, mas também houve participação de apoiadores do PSOL, PDT e do PSB, legenda que comanda a prefeitura de Recife e o governo de Pernambuco. Não houve participação de partidos de direita.
Membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) desfilaram com bandeiras do Brasil. Políticos como o senador Humberto Costa (PT) e o ex-prefeito do recife João Paulo Lima (PT) participaram da manifestação.
Desta vez, não houve registro de conflitos ou violência policial. No primeiro dos quatro protestos contra Bolsonaro, em 29 de maio, a manifestação na capital pernambucana foi encerrada com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha.
No Rio de Janeiro, manifestantes percorreram a avenida Presidente Vargas, na região central da cidade. O ato teve como principal foco o pedido de impeachment do presidente. Gritos de “Fora, genocida” marcaram trechos do protesto. Organizadores falaram em 70 mil pessoas presentes.
Os militares e partidos do centrão, que deve ganhar ainda mais espaço no governo com a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil, também foram alvos de críticas dos manifestantes. Houve ainda cobranças por mais vacinas contra a Covid-19.
O ato durou cerca de quatro horas. Os manifestantes percorreram trajeto de aproximadamente dois quilômetros, entre o monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares e a Praça da Candelária.
Máscaras foram amplamente usadas pelos participantes, mas houve pontos de aglomerações. Na sexta-feira (23), a prefeitura do Rio suspendeu a aplicação da primeira dose da vacina contra o coronavírus em razão da falta de imunizantes.
Ao longo do ato, líderes de movimentos e entidades se revezaram em discursos contra Bolsonaro em um carro de som. A crítica a privatizações, defendidas pelo Ministério da Economia, também apareceu em parte dos discursos.
Vários manifestantes usavam camisetas ou seguravam bandeiras de partidos ligados à esquerda, como PT, PSOL e PCdoB. Grupos presentes no ato também manifestaram apoio à candidatura em 2022 do ex-presidente Lula.
O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, subiu no carro de som e discursou contra Bolsonaro. O parlamentar defendeu o impeachment do presidente, além de fazer críticas a militares e ao voto impresso, formato de votação defendido pelo governo federal.
O movimento faz parte da nova onda de protestos contra Bolsonaro, agendada no país por movimentos sociais e centrais sindicais. A convocação anterior havia ocorrido no último dia 3.
O Rio teve outro ato no dia 13, com registro de confusão entre manifestantes e Polícia Militar.
O retorno às ruas no país, três semanas depois de uma data extra convocada para pegar carona na temperatura das primeiras denúncias de corrupção na compra de vacinas pelo governo federal, ocorre em um momento de ceticismo sobre o impeachment, representado nos atos pela bandeira “fora, Bolsonaro”.
Além das reiteradas declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, indicando resistência a dar andamento a um dos mais de cem pedidos de deposição já protocolados, a anunciada nomeação para a Casa Civil do senador Ciro Nogueira (PP-PI), líder do centrão, agrava o quadro.
Ao amarrar o apoio do bloco de partidos a seu governo, Bolsonaro age para sepultar também o risco de um eventual processo contra ele ter votos suficientes para passar no Congresso. A soma de fatores ampliou no meio político a descrença sobre a chance de o impeachment prosperar.
Líderes das marchas, contudo, minimizam o cenário desfavorável e dizem que um dos objetivos é expressar o descontentamento generalizado com o governo. Avaliam que é importante, por exemplo, demonstrar apoio à CPI da Covid no Senado, que apura falhas do presidente na pandemia.
O pedido de mais vacinas contra a Covid-19, outro eixo que unifica as entidades engajadas na convocação, também pode acabar perdendo apelo com a evolução, ainda que lenta, da imunização no país 60,1% da população adulta já tomou ao menos uma dose.
Nesse caso, a resposta que os realizadores costumam repetir é a de que as passeatas cumprem o papel de relembrar o descaso do governo na obtenção das doses, evidenciado pelas revelações da CPI, e a necessidade de punição para eventuais responsáveis pelas quase 550 mil mortes.