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PolíticaPF passa por momento tenebroso e há sanha para calar policiais, diz delegado que denunciou Ricardo Salles

PF passa por momento tenebroso e há sanha para calar policiais, diz delegado que denunciou Ricardo Salles

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas e autor de notícia-crime contra o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), o delegado Alexandre Saraiva classifica como “tenebroso” o atual momento da PF e diz que há uma sanha por parte da atual direção para calar policiais.

A pedido de Paulo Gustavo Maiurino, diretor-geral, o órgão abriu um procedimento disciplinar para apurar a ida de Saraiva, em junho, a uma edição do Roda Viva, da TV Cultura, sem autorização formal da direção da PF, que alega descumprimento de uma instrução normativa.

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O delegado apresentou na manhã desta segunda (23) sua defesa, a qual o Painel, da Folha de S.Paulo, teve acesso.

Saraiva esteve à frente da operação Handroanthus, classificada como a maior apreensão de madeira ilegal da história do país, em dezembro de 2020.

Ele foi trocado do cargo de superintendente da PF no Amazonas por decisão de Maiurino um dia depois de enviar ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra o então ministro do Meio Ambiente. O novo diretor-geral tinha acabado de tomar posse. Internamente, justificou que a decisão estava tomada antes do documento.

O delegado se diz perseguido pela direção e se defende mencionando decisão recente do STF que reconhece o direito de manifestação por parte de servidores públicos.

“A decisão do STF não poderia ter chegado em melhor hora, ante a sanha para calar policiais que, no cumprimento do seu dever funcional, atingem os grandes criminosos do nosso país. Aliás, vários destes policiais têm sido atingidos por sucessivas ‘coincidências’, pelas quais perdem cargos de chefia e deixam de ser promovidos (coincidentemente todos que tinham relação com as investigações contra o ex-ministro Ricardo Salles)”, escreve Saraiva.

Ele cita entre esses outros policiais “atingidos” os nomes de Franco Perazzoni e Rubens Lopes da Silva.

Perazzoni foi quem pediu busca e apreensão contra Salles e, como mostrou o Painel, teve sua promoção barrada pela gestão Maiurino. Silva foi trocado no início de julho do cargo de chefe da Divisão de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico.

“Justamente neste momento tenebroso para a Polícia Federal é proferida uma abençoada decisão da Suprema Corte que nos garantiu, ao menos, o direito de expressão, até então garantido a todo cidadão brasileiro, salvo se fosse policial”, continua.

O embate entre o delegado e Salles teve início após o ex-ministro atuar em em apoio a madeireiros alvos de investigação. Em entrevista à Folha na época, Saraiva afirmou que na PF não passaria boiada.

O policial afirma em sua peça de defesa que o governo federal e a polícia não saíram em defesa dos investigadores da Handroanthus.

“Lamentavelmente, o governo federal, e especialmente, a administração da Polícia Federal, mantiveram-se inertes diante dos graves ataques (por parte da organização criminosa) à operação, à instituição e aos policias”, escreve.

Segundo o policial, “no afã” de puni-lo, a direção da PF transformou regras do setor de Comunicação Social em norma disciplinar para persegui-lo.

Como exemplo do que alega ser perseguição, Saraiva cita casos de outros delegados que deram entrevistas e que usam canais no YouTube para expor o trabalho desenvolvido na corporação.

“Chama atenção a diferença de tratamento entre o entendimento usualmente utilizado pela administração da PF, para situações similares, e a postura persecutória que vem sendo adotada em relação a este servidor”, diz ele.

Em sua defesa, Saraiva também mira diretamente o diretor-geral, nomeado por Jair Bolsonaro.

O delegado afirma logo no início do documento que desde que entrou na PF, nunca deixou a corporação para “receber penduricalhos” em outros órgãos.

Segundo ele, essa postura é bem diferente dos “delegados de cativeiro” e “delegados pet”, como são chamados internamente os investigadores que são emprestados para outros órgãos, em sua maioria, para cargos de indicação política– Maiurino ficou os últimos anos fora da PF, como secretário de segurança do STF e também ocupou cargos na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).

Ao falar das investidas contra delegados, Saraiva lembra do memorando enviado por Maiurino ao STF em que o diretor-geral propõe uma reestruturação interna no órgão que tira a autonomia de delegados nas investigações de autoridades com foro especial.

Na opinião de Saraiva, o documento, revelado pelo Painel, mostra que a investidas contra os investigadores “parece ser um modus operandi da atual direção”.

“Espero que a sociedade brasileira fique muito atenta a este tipo de iniciativa, vez que as representações policiais, em relação a crimes praticados por agentes políticos, ficariam a mercê da análise de conveniência e oportunidade, realizada por superiores indicados por agentes políticos”, afirma o delegado.

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