Após a expulsão do coronel Ricardo Sant’Anna, o grupo das Forças Armadas que participa do Comitê de Transparência Eleitoral junto ao TSE tem agora oito integrantes. Em sua decisão a respeito de Sant’Anna, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, deixou aberta a hipótese de o Ministério da Defesa indicar um técnico substituto, mas isso não ocorreu até o momento. Hoje, o chefe da equipe é um coronel do Exército e os demais integrantes são oficiais especialistas em áreas como Engenharia, Informática, Ciências da Computação e Políticas Públicas.
Coronel Marcelo Nogueira de Sousa (Exército), chefe da equipe
Marcelo Nogueira de Sousa, conhecido como Coronel Nogueira, é doutor em Engenharia e atua no departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro. Em monografia publicada no Rio de Janeiro em 2010, o oficial escreveu sobre o Parque Tecnológico do Exército Brasileiro e inovações baseadas em sistema francês de proteção militar. O trabalho está disponível na biblioteca virtual do Instituto Militar de Engenharia (IME) e na sede da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), no Rio. Antes, em 1995, ele publicou pesquisa sobre a implementação de um algoritmo de criptografia de chave pública, também disponível online.
Em ofício encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 22 de junho de 2022, o Ministério da Defesa nomeou Nogueira como chefe da equipe de técnicos militares que representa as Forças Armadas como uma das “entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação”. O documento é assinado pelo atual ministro da Defesa do governo Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Até então, o grupo também contava com o coronel Ricardo Sant’Anna, que nesta segunda-feira foi afastado da equipe pelo TSE por ter compartilhado notícias falsas na internet.
Ao Senado Federal, o coronel Nogueira afirmou que os militares teriam identificado “uma série de possíveis ameaças” no sistema de votação brasileiro. O grupo de fiscalização das urnas apresentava, na ocasião, proposta de votação paralela em cédulas de papel que, segundo o ministro da Defesa, seria um “teste de integridade das urnas”.
Tenente Coronel Rafael Salema Marques (Força Aérea Brasileira)
Rafael Salema Marques, agora o segundo na linha hierárquica militar a compor a equipe de fiscalização da eleição pelas Forças Armadas, é mestre em Defesa Cibernética pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), formado em Ciências Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea Brasileira (FAB) em 2001. O tenente-coronel é ligado à área de segurança cibernética há mais de 20 anos e “defensor da política de que somente defesa não é suficiente”, segundo descrição de evento do qual participou como palestrante. Ele desenvolveu um sistema de arquitetura inspirado em sistemas imunológicos biológicos, chamado “MADEC”. O oficial conduz um esquadrão de comando e controle estratégico na Força Aérea Brasileira (FAB) e já realizou palestras, campanhas e treinamentos sobre “consciência situacional cibernética”. Ele também apoia tarefas de “equipes agressoras”, termo em português para o conceito de RedTeam, que define equipes que simulam ataques hackers para testar redes auditadas.
O trabalho mais recente publicado pelo oficial na internet, de janeiro de 2022, é um artigo em inglês assinado junto com três pesquisadores estrangeiros. Eles descrevem um aprimoramento de sistema de defesa cibernética testado em experimento híbrido entre as áreas de Matemática, Engenharia e Ciências da Computação.
O oficial da FAB não tem redes sociais públicas. Seu perfil no LinkedIn, rede profissional na internet, constava como excluído até a publicação deste texto.
Major Renato Vargas Monteiro (Exército)
Renato Vargas Monteiro é o terceiro na hierarquia militar dentro do grupo das Forças Armadas nomeado pelo Ministério da Defesa para acompanhar o sistema eletrônico de votação em 2022. Ele se formou em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras em 2003 e, desde então, é ligado à área de defesa cibernética em escolas e instituições das Forças Armadas. Em 2012, o major apresentou monografia de conclusão de curso de especialização em Guerra Cibernética com o título ‘Um Estudo sobre Ataques Cibernéticos a Administração Pública no Nível de Estado’. Na banca de apresentação do trabalho, estavam o atual diretor do departamento de Segurança da Informação do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo Bolsonaro, Marcelo Paiva Fontenele, o instrutor de Guerra Eletrônica do Exército Everton Miguel dos Anjos e o professor de Políticas Públicas e militar João Gabriel Álvares.
O major Renato Vargas Monteiro foi suplente do general de brigada Alan Denilson Lima Costa no grupo das Forças Armadas que acompanhou as eleições de 2018, nomeado pela então presidente do TSE, a ministra do STF Rosa Weber.
Com perfil privado no LinkedIn, o oficial informa apenas que trabalha no Exército Brasileiro. Na plataforma Lattes, do CNPQ, consta foto de perfil antiga do militar. O Estadão não localizou perfis públicos ou outras redes sociais dele.
Major Márcio Antônio Amite (Exército)
Formado em Administração pela Universidade de Vila Velha (ES) em 1996 e especialista em Administração Pública pela Universidade de Araraquara (SP) desde 2017, Márcio Antônio Amite é hoje major do Centro de Controle Interno do Exército. Antes, atuou na área de licitações, contratos públicos e auditorias internas governamentais. Seu perfil na plataforma Lattes, do CNPQ, foi atualizado em abril.
Capitão Marcus Rogers Cavalcante Andrade (Marinha)
O capitão de fragata da Marinha Marcus Rogers Cavalcante Andrade é oficial da Marinha. Ele não possui perfis públicos ou fotos de divulgação atuais online.
Capitão Hélio Mendes Salmon (Marinha)
O capitão de fragata Hélio Mendes Salmon dá aulas e palestras a militares sobre Segurança da Informação. Ele é graduado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1999) e pós-graduado em Desenvolvimento de Sistemas Web pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007). Ele trabalha na diretoria de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha, com sede no Rio.
Capitão Vilc Queupe Rufino (Marinha)
Oficial do corpo de engenheiros da Marinha desde 2000, Vilc Queupe Rufino é doutor em em Informática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2020), Mestre em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo (2009) e graduado em Engenharia de Computação pela Universidade Federal do Espírito Santo (2000). Ele é oficial da Marinha do Brasil, atualmente atuando no Centro de Análises de Sistemas Navais; desenvolve e se interessa por pesquisas nas áreas de Segurança da Informação, Inteligência Computacional e Defesa Nacional.
Em evento promovido pela Diretoria de Segurança da Informação (SegTIC) da UFRJ em 2018, o militar palestrou sobre “contaminação epidêmica em redes, imunidade coletiva e implicações frente a atacantes estratégicos”. Hoje, ele tem apenas perfis profissionais em redes de trabalhos científicos na área.
Capitão Heitor Albuquerque Vieira (Força Aérea Brasileira)
Heitor Albuquerque Vieira é graduado em Engenharia da Computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2013) e especialista em Guerra Cibernética pelo Centro de Instrução de Guerra Eletrônica (2018). Atualmente é capitão na FAB.