Candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) preparou um programa de governo para São Paulo com propostas distantes das pautas ideológicas defendidas no plano elaborado pelo padrinho político e candidato à reeleição.
Enquanto a minuta de Bolsonaro apresenta tópicos como mineração em terras indígenas, incentiva o porte de armas e faz menções a valores como “Deus, Pátria, família, vida e liberdade”, o material de Tarcísio evita entrar na arena de costumes.
Ainda que a perspectiva de programas para o governo do Estado e para a Presidência sejam diferentes de acordo com as atribuições de cada um, os candidatos podem apresentar suas visões de valores, por exemplo, nos planos protocolados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, apesar de atrelar cada vez mais sua imagem à de Bolsonaro em sua na campanha, Tarcísio evitou tratar de temas mais ideológicos e de costumes em suas propostas.
O programa de governo de Bolsonaro, de acordo com a minuta obtida pelo Estadão que ainda será entregue ao TSE, dedica um capítulo aos “valores e princípios centrais do plano de governo”. Em toda a proposta, de 48 páginas, a palavra liberdade é citada 55 vezes e família, 67.
Sem citar diretamente políticas contra o aborto ou atacar instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), o programa sugere que a liberdade é um conceito caro a quem acredita “no direito à vida do nascituro” e “na possibilidade de expressar suas opiniões e na condução de suas vidas de acordo com valores e propósitos”.
“É por meio dessa LIBERDADE que o cidadão e a coletividade se expressam, inclusive nas redes sociais, construindo pontes para um futuro mais consistente e justo para o País”, diz trecho da minuta do programa de governo.
A proposta do presidente para mais quatro anos também reforça a política armamentista adotada por Bolsonaro em seu primeiro mandato ao ressaltar a “importância de preservação e potencialização do exercício de legítima defesa”. Conforme o programa, é preciso que o governo autorize “o uso da força para evitar injusta agressão, inclusive com o uso de arma de fogo”.
O programa argumenta, ainda, que o aumento de aquisição de armas pelo cidadão está relacionado a um menor índice de homicídios e contribui para a “pacificação social e preservação da vida”.
Entre as propostas para a política ambiental, a minuta defende que povos indígenas e quilombolas devem ser respeitados em suas cultura e tradição. Para isso, propõe que a pecuária, a agricultura e a mineração, entre outros tópicos, se tornem uma “realidade permanente para essas populações”.
Tarcísio foge de polêmicas do padrinho político
Tarcísio, por sua vez, foge de temas mais polêmicos e já afirmou em outras ocasiões que “nunca foi radical”, que adota uma linha mais “pragmática” e que sua conduta é apoiada pelo presidente.
“Mesmo conhecendo meu perfil, ele me abençoou porque ele percebeu que tenho identidade com o eleitor paulista. A minha postura é bastante aliada ao presidente, foi nesse perfil que ele apostou”, disse em evento que participou com Bolsonaro no final de julho.
A diferença aparece no programa do candidato do Republicanos ao governo de São Paulo. A palavra “Deus”, por exemplo, não é citada nenhuma vez, enquanto o termo “liberdade” é lembrado somente em três ocasiões – quando trata da saída de presos e da proposta de uma Lei de Liberdade Econômica no Estado. Outros argumentos do projeto de Bolsonaro, como a defesa do direito à vida do nascituro não são lembrados.
Diferentemente de Bolsonaro, Tarcísio não cita o armamento da população no âmbito das políticas de segurança, mas coloca no planejamento a proposta de “rever a política de câmeras corporais” dos policiais.
No planejamento para São Paulo, o ex-ministro também preferiu não fazer menções a “eleições livres e transparentes”, como feito no material do presidente.
Tarcísio propõe programas de preservação ambiental assim como Bolsonaro. O material elaborado para a campanha do presidente, por exemplo, propõe combater e fiscalizar queimadas e promover a sustentabilidade ambiental. O ex-ministro também lista ações de restauração ambiental e diversas medidas para o agronegócio, como a integração “lavoura-pecuária-floresta”, mas não menciona a população indígena ou atividades de mineração.