Com praticamente 1 carro para cada 2 habitantes, números crescentes de motocicletas e picapes, São Carlos tem vivenciado horários de pico com muitas filas em cruzamentos, rotatórias e semáforos, o que faz a Capital da Tecnologia a se assemelhar com as grandes cidades em seus piores aspectos: o trânsito.
O município fechou 2022 com 198.762 veículos, entre carros, motos, caminhonetes e caminhões com registro endereçado na própria cidade, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Na comparação com o fim de 2021, São Carlos tinha 2,8 mil veículos a mais emplacados.
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Com a frota “flutuante” e aqueles veículos que circulam na cidade, mas são “de fora”, a marca de 200 mil já fora ultrapassada. A Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito estima que 30 mil deles andam pelas ruas da cidade diariamente, o que ajuda a explicar a situação complicada no trânsito da cidade.
De acordo com o consultor de engenharia de tráfego e mobilidade urbana Fernando Velázquez, o crescimento da demanda viária não está sendo acompanhado por investimentos que possibilitem garantir o ir e vir da população no dia a dia.
“Esse é o perfil de muitas cidades e a nossa conta não fecha. Tem um excesso de veículos, mas não há um aumento do sistema viário para atender essa demanda. O resultado disso é um colapso estrutural da cidade, por ausência de planejamento”, constata.
Por planejamento, entende-se a estruturação e aplicação de planos Diretor e de Mobilidade Urbana. O último, inclusive, está previsto em legislação federal de 2001, mas se encontra em elaboração na cidade. Neste 2023, reunião realizada por pressão do Ministério Público buscava destravar a conclusão do texto. Mesmo um plano pronto não é garantia de que as coisas melhorarão na Capital da Tecnologia, adverte o especialista.
“[O que se vê] são as próprias diretrizes municipais que não conversam com o sistema viário, os programas de mobilidade urbana, de incentivo ao transporte público para diminuir a quantidade de veículos nas ruas. É uma série de fatores que faz os usuários migrarem para o transporte individual, o que pesa sobre a mobilidade urbana”, lamenta.
E essa preferência pelo transporte individual acabam lotando as ruas da cidade. O Centro da cidade, por exemplo, as antigas ruas projetadas para receber pedestres e carruagens no século XIX, estão lotadas de carros que levam apenas o seu condutor. Um Fiat Mobi, para usar um carro pequeno como exemplo, ocupa 6 metros quadrados para, por vezes, carregar somente seu proprietário. Somente os carros “de passeio” somam 123.299 unidades em circulação.
A alternativa a isso é tornar o transporte coletivo público mais atrativo. Um ônibus padron de 14 metros de comprimento pode levar até 30 passageiros sentados e outros 64 em pé. O custo é flagrantemente menor. Mas é atrativo?
“Eu já andei de ônibus em São Carlos por dois anos e não é atrativo. Em nenhuma cidade é. Não tem frequência, não tem qualidade, é um serviço ruim e as pessoas não vão porque sabem que os veículos estão sempre lotados. Daí quando não tem uma demanda alta, a tarifa vai ficando mais cara e quem acaba pagando é a população de baixa renda, que é que mais usa”, relata.
SECRETÁRIO PREVÊ INVESTIMENTOS
Titular da pasta de Transporte e Trânsito em São Carlos, Cesinha Maragno promete investimentos na infraestrutura viária da cidade. Importante fração dos aportes, contudo, são feitos por meio da concessão ferroviária da Rumo Logística.
O secretário reconhece que o município enfrenta problemas crônicos no trânsito, sobretudo na “descida” para o Cidade Aracy nos horários de “rush”. As rotas que usam a Praça Itália e o CDHU estão com a capacidade próxima ao limite.
Além da duplicação do viaduto da Praça Itália – já entregue – a Rumo pretende instalar uma alça no viaduto da antiga estação (que dá acesso à Vila Prado) e construir nova passagem sobre a linha férrea na Avenida Dr. Heitor José Reali, na região do Morumbi.
Esta última obra, inclusive, é apontada como de importância especial, pois será “alimentada” por futura interligação ao Cidade Aracy a ser aberta a sul da Vila Santa Madre Cabrini. Promessa antiga, a via já fora proclamada por dois antecessores de Maragno, mas se mantém em desenho.
“Essa obra ajudaria muito no fluxo da região da Vila Prado, do pessoal que sobe a ‘serra’ do Aracy poderia usar essa interligação, que seria uma das grandes obras que teria para um futuro”, vaticina.
Para Maragno, a obra ganhará maior concretude após o viaduto da Rumo estar de pé. “Nós estamos estudando qual é o melhor percurso, porque é um lugar que teria de ser feito algum desmatamento. Então estamos vendo um modo de evitar danos à natureza”, emenda.
Outro coelho a ser sacado da cartola secretarial é a da modernização dos semáforos, hoje tidos como ineficientes. A expectativa é que versões “inteligentes” ajudem a Capital da Tecnologia ficar mais “moderna”.
O titular da pasta conta, ainda, com a chegada da Rigras para ter uma melhoria efetiva na qualidade do transporte no município, além de ter maior atratividade. A nova operadora, que deve iniciar os trabalhos no mês que vem, é subsidiária integral da Suzantur, empresa que opera a título precário na cidade há anos.
“Por mais que sejam do mesmo grupo, vão vir com uma nova frota para a cidade. Não são todos ônibus zero quilômetro, mas a maioria tem que ser com até 3 anos de uso”, afirma o gestor, que informa que o número de veículos em circulação no sistema público de transporte passará dos atuais 70 para 91 com o novo contrato.
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