A Polícia Civil a prefeitura de Pirassununga investigam uma denúncia de maus-tratos contra uma menina autista de 2 anos, na Creche Municipal Nedy de Oliveira. Uma gravação feita pela mãe da criança teria registrado ameaças feitas por funcionárias.
A decisão da família partiu após uma mudança perceptível na criança. Segundo a mãe, Ingrid Morais Martins, ela parou de se alimentar, de sorrir e de brincar e começou a ficar muito nervosa, evitando contato físico.
“Na quinta-feira, quando ela voltou da creche, ela voltou muito estranha, extremamente em choque, eu fui lavar o quintal, ela sentou no degrauzinho e levantou as mãozinhas no rosto nessa posição e começou um choro de gemidos, não quis mamar”, disse.
Desconfiados, os pais colocaram um celular sem chip gravando na bolsa da filha, prendendo o aparelho com uma fita adesiva e arame e prendeu o celular entre a bolsa e o carrinho.
“Quando eu comecei a ouvir a gravação do celular, meu chão é como se tivesse aberto, é monstruoso, é desumano, eu acreditava que estava acontecendo algo lá, não acreditava que era algo tão grave assim”, desabafou a mãe.
Após ouvir o áudio, a mãe ficou desesperada pensando no que a filha estava passando há quatro meses, e em seguida tentou acalmar a pequena, que chorava bastante pensando que iria para a escola.
“[Eu falei] Filha, a mamãe e o papai descobriu tudo que estava acontecendo com você nesse lugar, e ninguém mais vai te fazer mal, ninguém mais vai te prender no banheiro, ninguém mais vai te maltratar. A mamãe e o papai descobriu tudo. Ela olhou pra gente, caiu uma lágrima do olhinho dela, ela sorriu, se sentiu aliviada”, disse a mãe.
Transcrições
Em um trecho da gravação, funcionários da escola perguntam, em tom de ameaça, se a criança quer ir para o banheiro de novo igual ao dia anterior, e debocham do fato da menina ser autista. Confira transcrições feitas pelo g1 de alguns trechos da gravação de sete horas de duração:
Mulher 1 – Ê, [nome da criança], que dureza. É difícil, [nome da criança]? Ah pode parar se não você vai para o banheiro de novo. Vai, eu não aguento. Você vai para o banheiro, de manhãzinha na minha orelha. Quer ir para o banheiro?”
Mulher 2 – “Onde você vai sentar? Então senta, pode brincar”
Mulher 1 – “Chora baixo também, não quer brincar abaixa a cabeça”
Mulher 1 – “Se não você vai lá para o banheiro, que nem ontem”
Mulher* – “Quer ficar aí fechada? Se você não parar, você vai ficar aí fechada”
Criança continua chorando.
Mulher* – “Se você não parar você vai ficar fechada. Quer ficar fechada?”
[Barulho que indica uma porta batendo].
Mulher 1 – “Aí que alívio.”
Mulher 2 – “Não adianta, ela não para, você pode morrer”
Mulher* – “Ela é inteligente, ela não é autista”
Mulher 1 – “Ela é louca”
Mulher* – “Não é autista, ela sabe o que faz”
Mulher 2 – “Nós vamos brincar lá fora e a [nome da criança] não vai, a [nome da criança] vai ficar aqui na sala”
Outras denúncias
Pais de outros dois alunos, uma menina e um menino, que também estudam na unidade denunciaram a escola. Segundo Nelson Ribeiro Filho, advogado das famílias, a menina estava apresentando hematomas e a mãe questionou a unidade se teria batido em algum brinquedo.
“Foi inclusive relatado que os brinquedos não estariam em uso por conta de estarem enferrujados, o que me assusta porque os brinquedos são de plástico. A mãe foi questionar a criança, e ela conta, fala o nome da professora, inclusive, falando que a tia fulana teria batido, ela faz até o gesto”, disse.
Apuração
Os pais das três crianças registraram boletim de ocorrência e o caso agora será investigado por meio de inquérito policial instaurado no 1º Distrito Policial e corre sob sigilo.
Ao g1 São Carlos, a prefeitura do município informou que instaurou um procedimento administrativo para avaliar o caso e reforçou que três profissionais suspeitas de envolvimento, uma professora e duas auxiliares, foram afastadas da sala de aula e fazem serviços internos na Secretaria da Educação.
*Com informações da EPTV Central e g1 São Carlos.