Conhecida como a Capital da Tecnologia, São Carlos mostra que os números são verdadeiros. O município, polo de geração de conhecimento de reconhecimento nacional, tem 191 startups contadas neste ano. Em 2020, eram 179 negócios somados.
Relatório desenvolvido pela Liga de Empreendedorismo de São Carlos mostra ainda que a cidade tem nove polos educacionais, 200 organizações universitárias e 17 espaços de inovação e coworking, além de 28 eventos de empreendedorismo.
Para o CEO e co-fundador do Onovolab, o cenário de inovação torna a cidade única. “É muito raro ter uma cidade que tem um viés científico e, ao mesmo tempo, uma grande quantidade de empresas de tecnologia. Muito raro mesmo, principalmente em cidades do porte de São Carlos. Esse é um dos pontos. Outro vejo haver um amadurecimento do nível dos empreendedores daqui da cidade”, comenta.
A proporção de startups por habitantes mostra a importância do setor no município. São Carlos tem uma para cada 1.332 habitantes. A quantidade é muito parecida com que tem Israel, um dos polos mundiais de inovação.
“Muitas vezes a cidade nem se dá conta do quanto de coisas que acontecem aqui. E o quão importante é. A cidade tem tudo para de fato se manter nessa posição de Capital da Tecnologia, da Inovação, ao longo dos próximos anos. É lógico que existem coisas que precisam ser sincronizadas, enfim, eu acredito que só o fato de as iniciativas serem muitas, muita gente envolvida, muita gente bem-intencionada e querendo desenvolver o ecossistema local, faz com que a cidade consiga se manter nessa posição única”, opina.
A pergunta que é porque a cidade não se dá conta de todas as atividades desenvolvidas no campo da tecnologia? A inovação é para todos os são-carlenses? Os números também mostram que não.
Uma das comprovações vem de forma oficial. O extinto programa Bolsa Família atendia, em outubro, 6.370 famílias, ou seja, 18,6 mil pessoas eram beneficiadas. Este número mostra que 7% da população se encontra em situação de vida precária e mais de 5 mil estariam na situação de extrema pobreza se não fosse o programa.
Para o economista Cláudio Paiva, falta planejamento para todos no município. O resultado é a formação de bolsões de pobreza, onde serviços públicos não chegam e a qualidade de vida é precária.
“Tudo aquilo que se coloca como sinal de modernidade para o município de São Carlos, esconde, na prática, bolsões de pobreza, falta de água, planejamento, sobretudo, ou seja, de pensar de maneira mais radical uma agenda de desenvolvimento neste momento para São Carlos”, afirma.
Paiva afirma ainda que para um sólido plano futuro é preciso pensar a diversidade de São Carlos, em um serviço público de qualidade que atenda a todos.
“[Precisamos] de um compromisso prioritário com as pessoas, com respeito à diversidade, um modelo que encare isso: a excelência de serviços públicos e privados. Não é possível que uma cidade tão rica tenha problemas de diversas naturezas no serviço público”, afirma.
O economista finaliza que a Capital da Tecnologia deve caminhar nos trilhos de uma cidade inteligente, dispondo de dispositivos seguros e modernos. “Não se pode fazer a fama, sentar em cima e esquecer que por traz dessa cidade da alta tecnologia tem uma cidade extremamente pobre que deva fazer a inclusão para se fazer uma cidade sustentável”.
