José Bonifácio Coutinho Nogueira (1923 – 2002), um homem à frente do seu tempo, marcou seu nome na política paulista. Com estilo único, Bonifácio, mesmo já alcançando feitos importantes na carreira, sempre preservou um instinto curioso e sagaz, abrindo o caminho para a vida política.
JB mergulha na política aos 35 anos, uma atividade que foi uma ‘arrebatadora paixão’. Esse sentimento fica claro em entrevistas, já que Bonifácio sempre fez questão de ressaltar que sentia falta da política – deixou a vida de homem público assim que conseguiu a concessão para criar a EPTV.
Cenário em 1958
JB ingressou de forma efetiva na política em 1958. O Estado de São Paulo tinha cerca de 11 milhões de habitantes – 3 milhões na capital. Juscelino Kubistchek era o presidente do país, Jânio Quadros o governador paulista e Adhemar de Barros o prefeito da capital.
Nesse cenário, a eleição para a sucessão do Governo de São Paulo tem a disputa entre Adhemar de Barros e o professor Carlos Alberto Carvalho Pinto, o vitorioso, que tinha o apoio do grupo político no qual JB fazia parte. Auro de Moura Andrade também esteve no pleito, mas recebeu poucos votos.
“Carlos Eduardo Camargo Aranha trouxe-me a ideia de reunirmos, na São Quirino (Fazenda), no próximo dia 18, os velhos amigos de lutas dramáticas com o possível candidato Carvalho Pinto. Ótima ideia”, escreveu JB em seu diário, ainda em janeiro de 1958.
Em paralelo, Bonifácio também foi nomeado por Jânio Quadros como membro do Conselho de Política da Agricultura do Estado de São Paulo.
“O lançamento oficial da candidatura Carvalho Pinto era o único caminho a ser seguido pelo governo. Os ventos sopram ainda para Adhemar, mas o favoritismo de hoje será a causa da sua derrota amanhã”, registrou JB em seu diário em abril de 1958.
Ao longo da campanha, JB desempenhou um papel fundamental, sendo o responsável por manter o controle financeiro, levar sensatez às decisões e resolver crises internas no comitê.
Em 3 de outubro de 1958, Carvalho Pinto vence as eleições. Ainda na ressaca da vitória, pelo destaque da campanha vitoriosa, o nome de JB é cotado para integrar o primeiro escalão do governo Carvalho Pinto.
Surgiu, então, o convite oficial para ser Secretário Estadual da Agricultara, que foi prontamente aceito por JB. A primeira bandeira: a reforma na política da terra. Já o primeiro desafio foi conter, com muita habilidade, o descontentamento da Faresp (Federação das Associações Rurais).
Prestígio crescente
Em 21 de janeiro de 1959, JB e Maria Thereza comemoram 11 anos de casados e recebem, em casa, a visita do governador Jânio Quadros, que participa de um jantar. Em seus arquivos, JB mostra admiração por Jânio que, em breve, assumiria a Presidência da República.
A posse na pasta da Agricultura vem em 31 de janeiro de 1959. Em seu diário, JB registra a festa pela chegada de Carvalho Pinto e a aclamação popular no entorno de Jânio Quadros.
Uma das primeiras agendas foi uma reunião, no Rio de Janeiro, com o presidente Juscelino Kubitschek. Esbanjando juventude e disposição, o nome de JB ganha destaque na mídia nacional.
Em meio à empolgação, vêm de Jânio Quadros os primeiros indícios de que JB era o mais cotado para suceder a Carvalho Pinto nas eleições de 1962. Inicialmente, JB não se via como candidato.
Em 1960, JB recebe o prêmio de ‘Homem do Ano’, concedido pelo jornal ‘Última Hora’. O mesmo concurso já tinha premiado Francisco Matarazzo e José Ermírio de Moraes.
A pasta da Agricultura
Entre todas as realizações de JB na Secretaria da Agricultura, a proposta de maior destaque, sem dúvida, é a Revisão Agrária. Mesmo com o tema gerando algumas resistências, JB tem apoio do gabinete progressista que ele formou.
“Deixamos o aplauso das unanimidades, que nada constroem, para atingir o nível polêmico das reformas de base, que escrevem história”, escreveu JB em maio de 1960. A ideia básica da Revisão Agrária era propor uma taxação extra para áreas improdutivas, obrigando o proprietário a realizar uma divisão.
Após muito debate, a Revisão Agrária foi aprovada pela Assembleia Legislativa. No entanto, na sequência, o Senado transferiu a cobrança do ITR (Imposto Territorial Rural) dos estados para os municípios, o que prejudicou o plano.
Eleições de 1962
Homem forte do governo Carvalho Pinto, JB é confirmado por interlocutores da época como o nome mais viável para as eleições de 1962. O adversário seria novamente Adhemar de Barros.
Em Brasília, porém, uma renúncia muda o cenário. Jânio Quadros assume a Presidência da República em janeiro de 1961 e renúncia sete meses depois. O vice, João Goulart, assume o posto.
De volta a São Paulo e ‘desafiado’ por Adhemar de Barros, Jânio decide disputar o Governo de São Paulo. A decisão provoca uma ruptura na base vitoriosa de Carvalho Pinto.
As eleições acontecem em 7 de outubro de 1962 e terminam com a vitória de Adhemar de Barros. Jânio fica em segundo e JB em terceiro.
“Mesmo quando a eleição pareceu perdida, apesar dos 20 dias terríveis que tive na campanha, sofri com dignidade. Dignidade a gente tem mais na derrota do que na vitória. Hoje tenho orgulho do meu comportamento pessoal, sofrido, mas decente”, escreveu JB.
Em seu diário, JB deixa claro que se afastou da política por estar cansado de ver corrupção e demagogia. “Voltei à vida profissional, dedicando-me exclusivamente ao trabalho complexo da agroindústria canavieira à ação dinamizadora do meio bancário paulista, ambos setores vitais para a economia do país”, escreveu.
Volta em 1975
Em 1975, Bonifácio aceita um novo desafio: ocupar a Secretaria Estadual da Educação do governo Paulo Egydio. Antes mesmo de assumir o cargo, JB faz uma reflexão: “Estou imerso na vida pública: começo a trabalhar antes das 9h e só término tarde da noite. Estou feliz e realizado. Nada terei a ganhar: quando muito, perderei pouco”.
“A qualidade do ensino haverá de ser melhorada. Os números são terríveis. Já começo, porém, a vislumbrar caminhos”, escreveu Bonifácio em outra passagem do diário. Em março de 1975, começam os trabalhos.
Entre as grandes façanhas de JB na pasta da Educação está a participação na criação da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Mas esse tema será abordado de forma mais completa no conteúdo sobre as realizações de JB na área da Educação.
JB segue na função de secretário da Educação nos quatro anos do governo Paulo Egydio, entregando o cargo ao seu sucessor, Luiz Ferreira Martins, em 1979. Essa passagem encerra a vida política de JB.
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