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*Por João Vitor Segura, do Blog da Torcida
Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o significado da palavra torcer, com etimologia latina, é de “dar apoio a ou esperar resultado positivo de”, resultando de ações positivas, sendo algo comum nos estádios de futebol pelo Brasil.
Mas, o que vem sendo feito na Arena da Fonte em 2024 não é torcer. Muito menos apoiar. A Ferroviária não está nem perto de suas piores temporadas da história. Para um time que ficou 19 anos longe da Série A1 entre 1996 e 2015, estar em quarto lugar na Série A2 não é abominável. Parece que os presentes no estádio nunca viram partidas sofríveis de Copa Paulista, A3 e B1.
A expectativa podia ser alta (e era), pelo investimento e pelo acesso na temporada passada, mas isso é inaceitável. A Ferroviária vai jogar a Série C daqui alguns meses e está praticamente classificada para o mata-mata do Campeonato Paulista. E o espectador insiste em ir nos jogos para xingar os jogadores.
Vaiar na substituição é compreensível: se o jogador não fez uma boa partida, ele não merece vaias, mas é uma forma de manifestar a insatisfação. Agora seguir com xingamentos? O que vai ganhar ofendendo os jogadores que não estavam em um dia bom?
A palavra escolhida “espectador” não foi à toa. A torcida da Ferroviária não é representada por essas pessoas. Os fatos ocorridos na última quarta-feira (6), no empate contra o Taubaté, não refletem a temporada da equipe. Nem mesmo no ano passado, quando fomos rebaixados, essa vergonha aconteceu. Isso é ridículo.
Em determinado momento do jogo, a equipe do Taubaté, que provavelmente fazia uma cera para ganhar minutos e “esfriar” a equipe da casa, pediu para os jogadores da Ferroviária devolverem a bola, no típico ato do “fair-play”. Em primeiro instante, os atletas da Locomotiva decidiram não devolver, mas o zagueiro e um dos capitães da equipe Ronaldo Alves devolveu.
O defensor, que foi um dos grandes responsáveis pelo acesso na última temporada e que era um dos, senão o melhor jogador da equipe em campo, foi vaiado pela torcida. E isso porque ele aplicou uma lei de conduta implícita no esporte. É de uma ingratidão absurda. Eu mesmo não acho que deveria devolver a bola, mas se foi feito, o que eu vou fazer? Xingar o capitão do meu clube que sempre representou a camisa e que me deu uma das maiores alegrias da vida em 2023?
O que se viu após os 90 minutos foi uma vergonha. A plateia, que não deveria ser chamada de torcida, foi confrontar os jogadores. Estamos caindo? É isso? A Ferroviária fez 5 pontos em 13 jogos sendo uma das equipes mais fortes do campeonato? Não, não estamos vivendo uma catástrofe, como parece. Temos 22 pontos em 13 jogos e estamos em quarto lugar no torneio.
É verdade que o desempenho é abaixo do esperado, é verdade que a diretoria toma decisões questionáveis que afasta pessoas do estádio (preço alto, venda exclusiva online, poucas ações de marketing, divulgação baixa), mas não cabe vaiar todos os jogadores que são substituídos. Falar que “o que esse time faz é uma vergonha” não cabe na posição que estamos. Estamos indo para as fases finais da competição.
O que acontece com esse time é estranho. Em 2015 a volta para a Série A1 do Campeonato Paulista depois de 19 anos fechou a avenida Bento de Abreu. Em 2023, o acesso à Série C do Campeonato Brasileiro não levou 100 pessoas para o mesmo local. E ainda querem dizer que estão apoiando o clube?
A média de público da Ferroviária na Série A2 é de 839 pagantes, sendo a terceira pior da competição. Os cantos ecoados no setor 4 (quando existem) não passam de DEZ segundos. Quando um jogador que não fez uma boa partida é substituído, ele é xingado. Torcer não é isso. Nunca foi e nunca será.
A cidade de Araraquara tinha que agradecer por ter uma equipe como a Ferroviária, que disputa constantemente a primeira divisão estadual, que irá disputar uma terceira divisão nacional nesta temporada. Araraquara não merece a Ferroviária. Imagina se Araraquara tivesse um Desportivo Brasil ou um Ibrachina, por exemplo.
É muita ingratidão com esse clube. Devemos ir para o estádio para apoiar, para gritar pelos jogadores que vestem a camisa do seu clube de coração. Se os jogadores não jogarem pela torcida, vão jogar por quem? Qual o estímulo que eles vão ter? O futebol ainda não é só dinheiro. Os jogadores ontem, durante a confusão após a partida, IMPLORARAM pelo apoio da torcida. Olha o nível que esse “apoio” chegou.
A plateia de teatro que frequenta a Arena da Fonte não representa a verdadeira torcida da Ferroviária. Isso é um desabafo, não é um artigo profissional. É um desabafo de alguém que vive esse clube, de alguém que sempre esteve e sempre estará com a Ferroviária, independente dos momentos, e claro, apoiando o clube, diferente dos indigentes que se dizem torcedores.
Novamente: não acho que a atuação da Ferroviária tenha sido boa. Acho que o desempenho do time está abaixo do esperado e que a equipe deveria jogar melhor, pela qualidade do elenco, principalmente. Registro aqui apenas minha indignação.
