O pesadelo da advogada Tatiana Milena Albino, de 43 anos, começou no último dia 10 de outubro.
Após atender uma ligação de um cliente, ela descobriu que criminosos estavam usando seu nome e número de registro da OAB (Ordem de Advogados do Brasil) para aplicar golpes.
“Recebi a ligação de um cliente e ele queria confirmar se eu havia acabado de ligar para ele. Ele disse: Acabei de falar com você, mas não estou conseguindo fazer o depósito que a Dra pediu!”
Após atender uma ligação de um cliente, ela descobriu que criminosos estavam usando seu nome e número de registro da OAB (Ordem de Advogados do Brasil) para aplicar golpes.
“Eles pediam para entrar em contato que o valor de ‘pagamento’ estava liberado. Eles pedem dinheiro para pagamento de ‘custas’ do processo para retirar o valor”, explicou a advogada. “Chegamos a conclusão de que ele estava sendo vítima de um golpe.”
Desde então, outros 15 clientes contataram a advogada para confirmar se as mensagens recebidas pelo WhatsApp eram idôneas do escritório dela em Araraquara.
COMO FUNCIONA O GOLPE
Os golpistas são criativos, para além do WhatsApp, eles também ligam para os clientes, chegam a usar música de espera na ligação, secretária eletrônica, tudo com o objetivo de ganhar confiança e passar credibilidade.
“É um golpe bem elaborado. Os processos são públicos, muitos eletrônicos. A quadrilha verifica através do Google o número do processo e os dados do advogado, acessa e entra em contato se passando pelo profissional. E é muito convincente, porque o golpista tem o nome do advogado, informações e detalhes do que aconteceu. A pessoal acaba se envolvendo com a conversa”, explicou o presidente da OAB de Araraquara, Felipe José Maurício de Oliveira.
Após o primeiro contato, os criminosos dizem ao cliente que a causa foi ganha e há um valor para ser recebido na Justiça, usando documentos forjados como extratos falsos e decisões judiciais para convencê-los.
Depois, eles afirmam que para retirada do dinheiro é necessário pagar custas processuais e pedem uma transferência bancária ou via PIX (para contas de laranjas) para iniciar o trâmite.
“Ao menos para dois clientes eles pediram R$ 10 mil, alegando que eles tinham de R$ 200 mil a R$ 300 mil para receber da Justiça”, disse Tatiana.
De acordo com Oliveira, só neste mês a OAB de Araraquara foi procurada por duas advogadas que tiveram os nomes utilizados em golpes. Entre elas, Tatiana, que também procurou a Polícia Civil para registrar um boletim de ocorrência.
“É uma quadrilha organizada. Depois que fui vítima do golpe fiquei sabendo que estão atuando em outros estados também. É gente que entende, que sabe como funciona (a Justiça)”, comentou a advogada. “Eu não paro de atender o telefone, só hoje (segunda-feira), foram nove ligações.”
A sensação para a profissional de advocacia, que possui 21 anos de carreira, é uma só: impotência.
“É revoltante, trabalhei minha vida inteira, sou extremamente ética, correta com as minhas coisas, estão mexendo com a minha imagem profissional. Atinge o trabalho da gente, sempre fui muito correta com dinheiro de cliente”, lamentou.
O QUE A OAB ORIENTA
1) Aos advogados, sempre orientar os clientes a não aceitarem contato de números estranhos se passando pelo advogado ou seu escritório;
2) Em caso de solicitações de depósitos ou pagamento de valores partindo de número ou e-mail desconhecido, o cliente sempre deve procurar o advogado via telefone ou pessoalmente em seu escritório, para obter confirmação. O cliente também poderá se informar na OAB local ou Cadastro Nacional da Advocacia sobre os contatos atuais do advogado.
3) Caso o advogado tome conhecimento de que seu nome ou de seu escritório foi usado em tentativa ou golpe consumado, registre boletim de ocorrência e comunique a OAB local.
4) Pedidos de depósitos de “custas processuais” para que liberação de valores ou de precatórios são incomuns e inexistentes. As custas processuais são arrecadadas mediante guias oficiais expedidas pelo órgão arrecadador, e nunca via PIX para pessoa física ou jurídica particular.
