Papai Noel e os cães noéis. É com essas companhias que crianças e idosos de Araraquara contam para alegrar seu Natal há quase 20 anos, desde que o corretor de seguros Marco Gobatto começou a se vestir e vestir seus cachorros labradores de Papai Noel.
“Comecei há 18 anos por brincadeira, porque um amigo me chamou pra interpretar o Papai Noel. Aí acabei fazendo uma campanha dos Correios e não parei mais, sempre com os cachorros”, contou Gobatto, que há oito anos completou a Família Noel com a presença da Mamãe Noel, Renata Zoêga, amiga de infância de sua esposa Paula.
No início, os cães noéis eram os labradores Spy e Antônia, pais do cachorro Coxinha, que faz as visitas atualmente ao lado da labradora Branca de Neve. Eles são as verdadeiras estrelas das visitas que Gobatto e Renata fazem a entidades assistenciais todo final de ano, incluindo asilos e orfanatos.
“Papai Noel você encontra em qualquer esquina, mas Cão Noel é mais difícil. Eles são a alegria das visitas em qualquer lugar que a gente vai. As crianças deitam, abraçam, pulam, puxam o rabo, interagem com os cachorros de todas as formas e eles adoram. Eles chegam a ficar com as patinhas para o ar pra receber carinho”, comentou Gobatto.
A bailarina e coreógrafa Renata Zoéga, a Mamãe Noel que acompanha Gobatto há cerca de oito anos, contou que a solidariedade está em seu sangue, herdada de sua mãe, a professora Nilza Zoéga, que fazia trabalho assistencial com o Grupo Coração, entregando presentes feitos por ela mesma a crianças e idosos carentes da cidade.
“No ano passado, não pudemos fazer as visitas e parece que falta alguma coisa na nossa vida. E essas pessoas passam o ano esperando a gente chegar. É uma energia muito boa”, declarou Renata.
EUFORIA
Marco Gobatto definiu o final de ano em 2020 sem fazer as visitas como “um tédio” para ele e Renata, mas principalmente para os cães Coxinha e Branca de Neve.
“Os cachorros entendem. Quando eu pego a roupa de Papai Noel, eles já começam a se movimentar, eu tenho que acalmá-los, porque eles ficam eufóricos pra sair. Eles choram se não colocam a roupa”, contou.
Quando perguntado qual é a sensação de fazer esse trabalho, Marco Gobatto, com lágrimas nos olhos, disse que não sabe se consegue explicar em palavras.
“Sempre tem pessoas que precisam mais que nós. E a gente reclama desde a hora que levanta da cama. Deveríamos ter o hábito de agradecer, até mesmo coisas ruins que acontecem na nossa vida, pois só assim evoluímos. Temos que agradecer e fazer algo de útil, porque é disso que vale a vida.
Sou muito grato a Deus, às pessoas que me acompanham e à vida”, concluiu Gobatto.
ATO DE AMOR
No dia 11 de dezembro, a Família Noel visitou o Lar e Internato Otoniel de Camargo, em Araraquara, que atende atualmente 16 idosos, dando assistência por meio de serviços como enfermaria, fisioterapia e assistência social, além de moradia e alimentação.
A visita foi feita junto a integrantes do projeto Ato de Amor e Solidariedade, que há dez anos faz a ponte entre doadores de alimentos e produtos de higiene e casas assistenciais da cidade.
Junto a Gobatto, Renata e os cães, eles fizeram a entrega de kits de higiene pessoal aos idosos, que também participaram de um lanche patrocinado por doadores.
De acordo com Roger Mendes, um dos coordenadores do Ato de Amor e Solidariedade, o grupo arrecadou mais de 1.500 itens de higiene pessoal esse ano, que compuseram cestas que beneficiaram cerca de 250 pessoas no Asilo São Francisco, na Vila Vicentina, no Instituto de Cegos e na casa mantida pelo Cairbair Schutell, além do Otoniel de Camargo.
O grupo realiza ações em datas como Dia das Mães, Dia das Crianças e Natal. Nesse ano, as visitas presenciais estão retornando aos poucos, com todos os protocolos sanitários, mas não em todos os lugares. “Escolhemos vir ao Otoniel porque são poucos idosos, o lugar é bem amplo. E viemos em apenas quatro pessoas”, explicou Mendes.
Ele ressaltou que, nos dez anos em que faz as visitas, acabou criando forte relação com muitos dos assistidos nas entidades locais. “Cada vez que chego a algum lugar, consigo notar a ausência de alguém ou alguém novo que chegou. Muitas vezes encontramos professores ou outras pessoas com quem tivemos algum tipo de relação ao longo da vida. É muito gratificante. Nós ganhamos muito mais por poder proporcionar isso do que eles”, resumiu Mendes.
OTONIEL DE CAMARGO
A técnica de enfermagem Taís Alves, que trabalha no Otoniel de Camargo, explicou que os idosos sentiram muita falta das visitas no ano passado. “Os grupos animam muito os finais de semana deles, que fazem lanche, cantam e ficam muito alegres. Esse retorno das visitas é muito importante”, concluiu Taís.
A entidade atende pessoas como Ari Leovaldo, 61 anos, que chegou há quatro anos ao Otoniel de Camargo com depressão profunda, debilitado fisicamente e emocionalmente.
“O que eu mais pensava era em tirar minha vida. Mas, graças ao apoio do pessoal aqui, hoje tenho minha horta e trabalho na cozinha o dia inteiro. Eu me sinto bem de poder colaborar. Minha vida mudou e só saio daqui agora para o cemitério”, declarou.
As pessoas que quiserem doar alimentos ou produtos de higiene pessoal ao Lar e Internato Otoniel de Camargo podem entrar em contato pelo telefone 3337-4373.